Entre o prazer futuro e o desprezo prévio. Entre o fim próximo e o começo findo. O entrar ébrio e o sair sóbrio, engolido subita e derradeiramente pelo silêncio dentro de si, o vazio voraz que clama por mais para preenchê-lo. Merecia uma organização melhor das suas gavetas interiores, aquelas que a mantiam em pé e caminhando. Ossos, orgãos, e músculos, mas principalmente sentimento. Sempre tentando voltar ao racional, mas rindo-se quando ia pelo lógico e não pelo evidente, ao menos para si. Não tinha mais vontade de fugir, mas faltava desejo de ficar. Havia avidez por mudança, mas medo desta. Tanto medo que chegava a não levantar da cama. Sentia saudades dos apelidos carinhosos, e queria agora. Me dê seu coração e sua alma. Entre a espada enferrujada e a cruz antiquada. Sempre só, e cansada de procurar alguém.
“Som de tapa seguido de um longo e sofrido suspiro. Cortinas abrem, Brenda caída no chão.” BRENDA: Do meu pranto, veio a lágrima. Da lágrima, verteu o sofrer. Qual diferente sina me aguarda? Hei de contar-lhes minha história, hei de vencer o porvir. O futuro, tão incerto, mas quem sabe menos sofrido que o presente viver. “Brenda sai, entra Artur” ARTUR: Que fúnebre entardecer. O objeto que me desperta fúria é o mesmo que me desperta o amor. Que hei de fazer? Pobre de mim, que amo, mas não sei fazê-lo. “Anda até a cama, onde encontra uma camisola antiga de Brenda. Pega a camisola e a abraça” ARTUR: Minha amada! Que saudades guardo de ti, no meu pequeno coração. Pobre de mim, pobre de ti. “Sai Artur, deixando a camisola em cima da penteadeira. Entra Helô” HELÔ: Sempre há o que se arrumar! Só discutem, sempre há um pormenor! Vinte anos vivendo sob os mesmos fantasmas. Tenha piedade, Deus. “Helô dobra a camisola e deposita em cima do travesseiro. Sai Helô. Entram Tomás e Bia” TOMÁS: Vossa...
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