Entre o prazer futuro e o desprezo prévio. Entre o fim próximo e o começo findo. O entrar ébrio e o sair sóbrio, engolido subita e derradeiramente pelo silêncio dentro de si, o vazio voraz que clama por mais para preenchê-lo. Merecia uma organização melhor das suas gavetas interiores, aquelas que a mantiam em pé e caminhando. Ossos, orgãos, e músculos, mas principalmente sentimento. Sempre tentando voltar ao racional, mas rindo-se quando ia pelo lógico e não pelo evidente, ao menos para si. Não tinha mais vontade de fugir, mas faltava desejo de ficar. Havia avidez por mudança, mas medo desta. Tanto medo que chegava a não levantar da cama. Sentia saudades dos apelidos carinhosos, e queria agora. Me dê seu coração e sua alma. Entre a espada enferrujada e a cruz antiquada. Sempre só, e cansada de procurar alguém.
Eu sobrevivo, eu sobrevivo! Polônia. Tempos difíceis, todas as pessoas consideradas indesejadas estavam indo embora para terras quentes, infestadas com o odor da novidade, do fervor da fuga. A saída sorrateira do país desencontrava amores, despistava amantes. Numa casa, não muito longe do centro de Varsóvia, uma mulher suspirava. Lia e relia a única carta do amado, com o perfume quase se esvaindo do papel, letras borradas das lágrimas que ambos derramaram naquele frágil pedaço de papel, cheio de promessas e saudades. Rosa, tão bela Rosa. Tive que partir, e você sabe minhas motivações. Deixo-lhe com um aperto no peito, beijos em tuas mãos e com dissabores na vida. Prometo-lhe notícias, em breve, da carta que precisas para deixar o país, e vir, finalmente, me encontrar. Ansiosamente, aguardo-te e sonho contigo todas as noites. Porém, a vida nos trópicos está me fazendo bem. Quase não se vê sinal das minhas tosses. Estou empregado, trabalhando na fábrica de alumínio. Moro com mais doi
Comentários
Postar um comentário