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Mostrando postagens de 2022

Eu Vejo Tudo Enquadrado

 agonia sem nome no peito. coisas que não sabia nome, sabia sentir o sentido dos sentimentos. jorrava sentimentos esparsos e cansados, temerosos. talvez ressentia ter que ficar enjaulada dentro de várias coisa e dentre elas a doença. a cabeça pesava. de peito aberto pra sentimentos que ela arreganhou porteira, pra aquela agonia inominável.  temia que agora que mostrara o pior de si, aquilo assustasse. que estivesse chacoalhando demais o peixe no saquinho, apertando demais o passarinho na mão, até que ele desse o suspiro final. tinha medo de sentir aquela dor outra vez. mesmo sabendo inevitável e que o pra sempre é fantasia de fábula que nos contam na infância.  se mostrava inteira, mas nem sempre o que tinha pra mostrar tinha o glamour do mistério. as vezes, e muitas vezes, era só ela, desnuda, confusa e cansada no fim de mais um dia cheio de pensamentos ansiosos e paranoicos brincando de pingue pongue na cabeça. o desnudar-se deixava ela insegura que estivesse entregando demais e entr

Me Venha Sem Saber

 Os acordes característicos daquela música que ecoava na cabeça desde janeiro soavam em seus ouvidos mais uma vez.  Aquela melodia intimidava e aquiescia as suas entranhas. As coisas eram nubladas e o peito doía de ansiedade.  Redemoinho de emoções que girava e girava e girava e girava e girava e ela ficava tonta tonta sem entender sem saber e ao mesmo tempo parada. Por que as entranhas se retraíam e as palavras se repetiam e as coisas aconteciam e ela não sabia bem o que sentir e como responder o que processar primeiro e nem se deveria ter se colocado nessa situação desse jeito. Tudo nublado azul cinzento mas ao mesmo tempo também nesga de sol saindo por entre as nuvens e por entre a caixa torácica e por dentre ela e os pensamentos de nuvens cinzas e pesadas.  Dentro de si havia duas dela e três dela e multiplicidades que não se entendiam entre si e que queriam respostas mas temiam respostas mas precisavam respostas e tudo estava povoando sua cabeça e seu corpo ao mesmo tempo. Ela fic

Calada E Só

Depois de toda a euforia estresse preocupação, de repente uma onda de calmaria chega. Mas é daquelas calmarias avassaladoras, sabe? Que se instala no peito e rouba o fôlego. Calmaria ansiosa, sem saber o que esperar do futuro. Se perguntando onde estava o erro, se tudo caminhava tão tranquilamente? Por que ela esperava pela quebra da onda toda vez? Por que não conseguia encontrar descanso na calma, por que ficava a procura daquilo que poderia estar espreitando? Tentava veementemente não dar lugar pras paranóias, não dar espaço pra que o não dito por que não foi nem sequer cogitado mas abria caminhos pra infindáveis perguntas e questionamentos que vinham sem pedir licença. Domingo é sempre assim: a gente fica questionando a própria existência com lágrima escondida atrás das pálpebras: as vezes rola, as vezes a gente faz força pra cair, mas fica lá, teimando em te atormentar com a ideia de que se talvez meus sentimentos transbordarem pra fora de mim, talvez eles parem de me atazanar.  Ma

Lua

 As estrelas que tinham nos olhos dela eram infinitas.  O carinho, o gozo, a partida, a chegada. Todas as coisas eram infinitas, não tinham começo-meio-fim; eram infindas. A sensação de casa, de conforto, de abrir o baú empoeirado que guardou por tanto tempo os sentimentos. Era caixa de Pandora ao contrário.  Se aconchegava nos braços desnudos dela como se sempre estivera ali. O sangue que bombeava incessante, os arrepios na nuca, os contorcionismos da boca abrindo e arfando.  Sentia cada músculo contraindo, sentia cada toque com a intensidade de milhares de voltz, sentia suor escorrendo pela testa, sentia beijo no nariz, no rosto, na boca, no pescoço.  Nada no passado-futuro sente dessa forma do hoje. E da forma do ontem. E da forma do amanhã. O sono pesava nos olhos mas a vontade de comprimir o tempo, de descontar os beijos, de ficar ali com ela, lutava com as pálpebras pesadas.  A dificuldade de levantar da cama de manhã, a dificuldade de fazer coisas mundanas, do dia à dia, quando

As Deep As The Pacific Ocean

O ano de dois mil e vinte e dois começou com sabor de picolé caseiro de acerola.  Ultimamente, começou a sentir como se fosse primeira vez e também replay os sabores que a existência lhe podia proporcionar. Tudo tinha cheiro e gosto e um brilho diferente de vida. Podia sentir a mudança circulando em si, e nunca jamais pensou que poderia estar ali. Se a Bianca que foi aos quinze anos pudesse saber, sentir, e prever que não ia precisar e nem querer mais se esconder dentro de si, em recôncavo profundo e escuro, talvez ela não tivesse que ter reaprendido tudo sobre si antes de entender quem ela realmente era.  Nos últimos meses os pesos da existência estavam sendo retirados das suas costas cansadas e marcadas de dor. Nos últimos meses ela estava sendo apresentada a uma nova versão dela mesma. A uma versão que não sente gosto de sangue na boca quando se mostra pra alguém. Uma versão que não precisa forçar nada em lugar nenhum, que não precisa se mutilar pra caber, que não precisa se encapsu

Girassol

No peito: parecia champanhe, borbulhante na taça, logo depois de servir e antes de acariciar os lábios. Fazia comichão no pé da barriga que nem quando os pés descalços tocam a grama esmeralda orvalhada de manhã. Explodia em fogos de artifício sem som mas com brilho e promessa e delírio de noite de ano novo.  O calor, o suor, o gemido, o roçar de corpos, incessantes, frenéticos, explosivos: sim.  O sorriso de canto de boca. A boca no canto do sorriso. A carne que pulsava, todas as carnes pulsavam e tremiam. O entremear de pernas e bocas e pelos e braços e mãos puxando coxas, cabelos, apertando, suando. Passou o dia envolta em odores, sabores, memórias. A casa envolta na modorra pós química explosiva.  Tentando recuperar pra si todos os beijos que não deu, o destrinchar de corpos e lábios que parecia instintivo. Como naquele momento se abriu como nunca antes, se deixou abrir, se deixou desabrochar, ali, inebriada delas. Sentindo tudo e deixando e permitindo e aconchego que nem sabia poss