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Mostrando postagens de 2011

Piña Coladas

Eu estava na janela, olhando pra o mar, bebendo uma piña colada e aproveitando a nesga de sol que entrava naquele bar a beira do mar. E minha namorada estava sentada naqueles banquinhos altos, conversando com o bartender. Eu não me importo. Ela resolveu ir pra casa, de táxi, e eu fiquei. Depois de umas outras duas taças de champagne e uma piña colada, eu voltei pra casa. Foda-se se eu não estava no estado de dirigir. O sol tinha se posto, e eu estava no sofá, lendo um livro incrivelmente chato. Larguei-o na poltrona e fui ver o quarto. Ela estava dormindo um sono pesado. Levantei as sobrancelhas. O relacionamento estava tão desgastado que eu preferi deixar pra lá o convite pra ir jantar no restaurante japônes. Ela provavelmente só ia resmungar e virar pra o outro lado. Voltei pra o sofá. Achei um jornal, do dia que estávamos. Curioso. Sempre achei aqueles anúncios pessoais engraçados e interessantes. E, de fato, achei um que me encantou. "Se você gosta de Piña Coladas, Se você gos

Beijo de Filme

Seis da manhã. Despertador toca. Levanta da cama. Abre as cortinas e dá de cara com um tempo nublado. Balança o marido. Sai do quarto. Vai no outro quarto. Balança Amy. Balança Jamie. Anda até a sala. Senta no sofá cinza escuro. Respira fundo. Levanta. Vai até o banheiro. Penteia o cabelo. Veste um sutiã, uma calcinha, aplica base, lápis, e um batom vermelho. Vai até o quarto só de lingerie e maquiagem. Balança de novo o marido. Entra no closet. Fica em dúvida entre a saia preta e a roxa. Opta pela roxa. Coloca uma blusa branca de manga comprida, com botões. Vai até o quarto de Amy e Jamie. Faz cócegas nas duas para que acordem. Elas acordam e vão para o banheiro. Ela entra no próprio quarto, e ainda sim, dá de cara com o marido dormindo. Coloca o despertador para dali a vinte minutos, e calça suas botas. Vai para a cozinha e prepara duas vasilhas de cereal com leite. Amy e Jamie sentam na mesa, comem, e calçam os sapatos. Ela come uma torrada com manteiga e toma chá de erva cidreira.

Moi

Afastou a franja azul dos olhos. Estava rindo de uma piada realmente imbecil. E assim era ela: espontânea. Fazia o que dava na telha, e se não desse, não fazia. O batom vermelho vivo contrastava com a blusa branca e a saia de cintura alta florida. Quem dera tivesse aprendido a amar outro que não ele. Tinha seus surtos. Não eram raros, ela era cheia de defeitos. Comia demais no almoço, e depois não jantava, ou não comia no geral. Jurava ser a dona da razão, contracenava consigo mesma em uma peça só dela, e irritava-se quando seu script não era seguido a risca. Tomava sorvete só depois que ele derretia, sempre roía as unhas quando prometia a ela mesma não fazê-lo, tinha vontade de ir embora, sumir dali, mas faltava coragem. Achava defeito em tudo, mas via como o mundo podia ser belo; sonhava acordada mas não custava a levantar; queria ser e fazer, mas lhe faltava vontade; por vezes sentia-se infeliz e sozinha. Todos diziam que ela era amarga, mas a verdade é que as pessoas a fizeram assi

Caixa vazia

.Ninguém está rindo. O baile se fechou, trancaram-se as portas. Nada do que costumava fazer sentido faz sentido agora, parece que nos trancafiaram na nossa própria cela, sem saída, por que de nossas mentes nunca somos libertados. Está ruindo de livre e espontânea vontade, deixando os farrapos e destroços pra que eu tome conta. Os pequenos destroços da minha caixa vazia. Aquela caixa que um dia me pertenceu, que um dia protegi, agora feneceu na sua infindável amargura, na seu infindável amor. Amor? Temor, talvez. Temia ser esquecida, e de tanto temer, acabou remoendo e esmorecendo, caindo de si mesma e chovendo. Chovendo por dentro e por fora, chovendo e chorando, chorando pra ela e pra todos. E caía tanto, gemia, e prendia-se outra vez. Tal caixa era tão versátil, tão interessante, mas nos últimos tempos murchou. Sempre era uma pena quando essas caixas murchavam. Sempre era uma pena quando não se resistia mais, quando a caixa não mais residia em ti, quando você não mais residia na caix

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Positivo. Sim. Não. Azar. Por que com ele? Por que com ela? Quinze anos. Quase uma criança. O que fazer? Como se portar? A quem contar? Eu não acredito. Por quê? E nem dá pra mandar um foda-se dessa vez. "E o que a gente vai fazer?" Não sei, não sei, não me exija respostas, não agora. "Dá pra ser feliz assim? Ou você acha que a nossa vida vai ser só um poço fundo de tristeza, quem nem a dos seus pais?" Ele abanou a cabeça. Eu não soube dizer se era um sinal positivo ou negativo. Coloquei-me a chorar, sabendo bem porquê, mas sem querer pensar. Olhei para baixo, para a barriga ainda não proeminente. Nossos olhares se chocaram. Olhares de profundo medo. Aquele medo que acomete quando não sabes o que fazer, aqueles espinhos que lhe impossibilitaram decidir. Futuro incerto. Quer ficassem com ela, quer não, será que algum dia seriam felizes?

Embora.

"Pra me danar, mundo afora ir embora." Vontade de sair. Beber. Fumar. Ser totalmente irresponsável. Mandar todo mundo tomar no cu. Só saiam da minha vida. Saiam. Saiam. Abri a porta da rua. Corri. Corri. Corri. Nem pensei em olhar pra trás. Fui-me sem lenço e sem documento. Corri. Corri. Choveu. Choveu mais forte. Minha blusa branca ficou transparente, e meu corpo apareceu por baixo dela. E, devagarzinho, fui ficando transparente também. Sumindo. Sumindo. Sumindo. Primeiro meus dedinhos do pé, minhas unhas das mãos, as pontas dos dedos, a mão, as duas mãos, os dois pés. Fui me libertando, quebrando as correntes, saindo da caverna. E quanto mais eu sentia que ia desaparecendo, mais feliz eu ficava, e meu sorriso, estampado de orelha a orelha, crescia. E eu girei, girei, girei. Esqueci de me preocupar, esqueci de sofrer, esqueci de todos vocês. Esqueci de reclamar, esqueci de te amar. E, por uns segundos, me preocupei só comigo. Em como eu estava sumindo, e não ia mais voltar.

Como se comportar

Afrouxou a gravata borboleta. Faltavam dois minutes para que fosse obrigado a subir naquele palco demasiadamente iluminado. Tudo estava pronto. Suava de suave que era. Pegou no cabo da arma que estava discretamente acoplada ao seu cinto. Era agora ou nunca. Subiu os degraus que levavam para o palco. Prendeu o cabelo e escondeu debaixo de um chapéu coco. Com um sorriso teatral, passou pelas cortinas cor de carmim. Iniciou seu discurso com a precisão do gume de uma faca amolada. Nem por um segundo tirou o sorriso de escárnio do rosto. Contou em seu relógio. Dois minutos que estava no palco. Hora de ir. “E é por isso, meus caros, que o jogo acabou.” Tirou o chapéu, revelando um cabelo preto comprido e ondulado. Do bolso, tirou um batom vermelho sangue, da mesma cor que iria salpicar suas vítimas, e usou para pintar sua boca voluptuosa. E ainda sem tirar o sorriso do rosto, despiu a calça de linho branco, a blusa igualmente branca, o fraque, e o smoking, revelando, debaixo de todas as rou

Outros.

Algumas pessoas me fazem falta. Outras, tanto fazem E outras, nem fazem tanto. As que me fazem, tanto são e sempre serão, Tão malcriadas, impertinentes, impacientes, delinquentes, inconsequentes. As qua não fazem, já vão tarde Pra fora daqui.

Coisas random.

Tuas faces rubras Rubras como as rosas, Rubras como as flores que brotam pela manhã, Mas que murcham a noite, Tenras flores, Doces como tua juventude, E sempre rubras, Tua face, teu amor. Cílios. Piscam. Pra cima. Pra baixo. Teus olhos, Dotados de persuasão. Tua alma, teus olhos. Noite crua, Crua como deve ser, Crua como só ela sabe, Densa e eterna, Noite. Aquele lado, Lado brilhante, Lado bom, Lado que não mostro a ti, Lado virado pra lá, E com um piscar dos olhos, Some. Terra de ninguém Preso Preso pra sempre Em si mesmo E na sua prisão Preso. (não sei se eu postei esse, já.) Se me quiser, por favor, me queira bem devagarinho. Não de uma vez, meu bem, me queira pra dentro, mas pra fora também. Num bar, duas da tarde Três amigos conversam E o telefone dele toca “Não me incomode, estou com meus amigos.” Desliga o telefone, Toma mais um gole de cerveja e vai embora. Chegando em casa, Ela está sentada, Inexpressiva. “Sabe como é, eu mando na relação. Na frente dos meus amigos.” Ela

Desprogramar.

Girou para o lado contrário dessa vez. Bateu de encontro com a porta aberta. Gemeu de dor em uma sintonia diferente. Gritou. Caiu no chão, em pedaços. Desespero.As últimas notas da música ainda retumbavam nas paredes brancas. E ainda ressoavam insistentemente nos seus ouvidos. Tampava-os. Respiração descompassada. Tremeu. Batia a cabeça no piano, tentando arrancar mais notas ou talvez alguma significância. Foi em vão. Tudo foi em vão. Ela era em vão. Estava girando, girando, girando, girando, girando. O coração lutava pra sair do peito. Batia com uma força impressionante, machucando ela por dentro. Ultimamente tudo a machucava. As pessoas apontavam dedos acusatórios, ela apontava pra si mesma no espelho, a sua imagem fazia com que quisesse vomitar. Enquanto girava, caiu. Caiu em cima do tornozelo, quebrou. E um grito de dor lancinante percorreu todo o caminho até a sua boca, mas voltou. Voltou de teimoso. Ela não era de desistir, mas dessa vez estava cansada demais pra continuar. Deixo

Desespero.

Contava os segundos. Um, dois, três, quatro. Passavam e escorriam de seu relógio de pulso para seu pulso nu. Escorriam para o chão, sem direção e sem ter pra onde ir, de qualquer forma. Olhava com um rosto controverso para o rio lá embaixo. Algumas gotas pingavam incessantemente na água, tornando-a inquieta. Inquieta de uma forma que ele entendia, que todos entendiam. Revolta, pronta pra uma rebelião de proporções endemicas, mas no segundo seguinte, conformada com seu destino certo e previsível, e voltando ao comodismo enervante que era sua vida diária. Essa superfície límpida que era a água funcionava do mesmo modo que seu emocional. Sempre estava irrequieto por dentro, contrariado e contradito, impactante e estável, morto e vivo, por dentro e por fora, por fora e por dentro. Sempre sendo ele e nunca sendo quem ele queria ser. Pomposo, e estava enlouquecendo. Queria se livrar dessas sombras, desse passado hediondo que ele levava nas memórias e carregava dentro do peito, em um desesper

Poemas random.

Cansada Respirar Pra dentro Pra fora Quanto trabalho. Não é mais fácil Dormir E ficar por lá? Terra de ninguém Preso Preso pra sempre Em si mesmo E na sua prisão Preso. Gotas que caem no chão Gotas que molham o pão Gotas que nunca se esgotam Gotas que chovem dentro Gotas que chovem fora Gotas que nunca mais choverão Gotas que caem da face Em direção ao duro Chão. Morte. Tenra. DOCE. IMPERCEPTÍVEL FINALMENTE, Fim. Fecha e não abre, Descansa e não volta jamais. Me deixa em paz. A porta aberta, A porta fechada. Longe de mim, Me separando de ti.

Falling away with you.

I'll feel my soul crumbling away and falling away falling away with you Algo escapando pelos meus dedos frouxos e pego no último segundo. Era uma foto. Uma foto de dias mais felizes. Dias em que eu era mais feliz. Dias menos propensos a uma tempestade de emoções. A foto consistia em uma eu de uns meses atrás, com um sorriso nada ensaiado, cercada de pessoas queridas, vestida com um vestido rendado e branco. Joguei a foto no chão. Me arrastei de péssima vontade para a cozinha e enchi uma tijela funda o suficiente pra que eu me afogasse de sorvete. Voltei pra o divã da minha janela e observei o orvalho pontuar as folhas da madrugada. Não conseguia lembrar de quando fora bom. Sentia gotículas de suor escorrendo pelas palmas da sua mão. Enxougou-as delicadamente no seu lençol. Caminhou pela grama, esmagando levemente as folhas orvalhadas e intocadas da manhã. Caminhou sozinha até os balanços de um parquinho infantil que tinha por perto e sentou-se nele, quase sem forças, quase ficando