Era isso. Tinha acabado. Agora eu sentia um vazio no coração. Quatro anos deixados pra trás. Talvez eu levasse mais quatro anos pra superar. A chuva começou a cair lá fora. Pingo por pingo. Sentei-me no vão da janela. Minhas lagrimas caíram no ritmo da chuva. Eu vi os pingos caírem no chão. Um por um. Também vi os pingos mancharem o estofado azul. Um por um. Uma figura indistinta apareceu em minha janela. Era uma grande janela vitoriana, com um vão estofado, onde eu estava sentada. Enquanto a chuva engrossava, a figura se tornava mais indistinta. Ouvi batidas baixas na janela. Enxuguei parcialmente os olhos. Abri a janela. Encontrei-o com um grande sorriso nos lábios e flores desgastadas pela chuva. – você é um idiota, sabia? – Eu falei, rindo de sua cara abobada. – sabia – Ele sorriu. Um sorriso verdadeiro. Um sorriso, que, por menos tempo que a gente tenha passado sem se ver, eu sentia falta. – então, eu queria saber se você me desculpa, por que eu preciso de você pra viver. Na verdade, talvez não precise, mas minha vida ia ser vazia e inútil sem você. E alem do mais, eu quero ser quem enxuga suas lagrimas, não quem as provoca. Casa comigo? – eu senti o vazio se apagando. Lentamente, mas completamente. – caso. Com certeza que caso. – pulei a janela e deixei a chuva molhar completamente o estofado da janela. Pulei nas costas dele, e o derrubei no chão. Rimos. Ficamos encharcados, mas felizes. Ele me deu o anel mais lindo que eu já ganhei. E nós não vivemos felizes pra sempre. Por que ninguém vive feliz pra sempre. Vivemos felizes, e tristes, e confusos. Vivemos a vida como ela deve ser.
Eu sobrevivo, eu sobrevivo! Polônia. Tempos difíceis, todas as pessoas consideradas indesejadas estavam indo embora para terras quentes, infestadas com o odor da novidade, do fervor da fuga. A saída sorrateira do país desencontrava amores, despistava amantes. Numa casa, não muito longe do centro de Varsóvia, uma mulher suspirava. Lia e relia a única carta do amado, com o perfume quase se esvaindo do papel, letras borradas das lágrimas que ambos derramaram naquele frágil pedaço de papel, cheio de promessas e saudades. Rosa, tão bela Rosa. Tive que partir, e você sabe minhas motivações. Deixo-lhe com um aperto no peito, beijos em tuas mãos e com dissabores na vida. Prometo-lhe notícias, em breve, da carta que precisas para deixar o país, e vir, finalmente, me encontrar. Ansiosamente, aguardo-te e sonho contigo todas as noites. Porém, a vida nos trópicos está me fazendo bem. Quase não se vê sinal das minhas tosses. Estou empregado, trabalhando na fábrica de alumínio. Moro com mais doi
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