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Carta Para Mim Mesma


No chuveiro, eu vejo a cor se esvaindo do meu cabelo. O azul vai indo embora. Talvez dando lugar pra uma cor mais adulta. Talvez dando lugar pra um outro eu. Talvez me dando espaço pra crescer. Mas eu simplesmente não consigo parar de pensar que parte de quem eu sou está indo embora junto com aquela tintura. Parte de quem eu fui. Indo lentamente durante o banho, durante a vida. Essa tintura representa suas memórias, e cada vez que você as abandona, você abandona parte de quem você é ou foi. De quem você deveria ser. Sinto uma sensação ruim quando a tinta desce o ralo, e quando o azul inunda meus pés, escapando lentamente pela tangente, sempre que tem oportunidade, sempre que é dada uma chance. A tinta se vai, e você fica. Sem conteúdo, sem ser você mesma, afinal.

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