Depois de muitas indagações pessoais de "para onde minha vida está indo?" e respostas do tipo "para o ralo/fundo do poço/buraco etc etc" vindo da minha cabecinha, levantei do chão do banheiro e olhei minha cara cheia de pintinhas vermelhas, advindas de picadas de mosquito da fazenda. Olhei minha sobrancelha bem feita, minhas marcas, minhas olheiras, minhas pintinhas provisórias, minhas espinhas, enfim, tudo que tinha pra olhar. Joguei água gelada no rosto. Lavei com sabonete líquido pra peles oleosas. Escovei os dentes, um por um. Abri o armário do banheiro, a procura de hipoglós para colocar nas pintinhas, mas não encontrei. Encontrei uns creminhos pras mãos que eu ganhei e nunca tinha usado. Abri o primeiro, e um cheiro tão bom veio lá de dentro. Tão bom que eu não acreditei. Alguma coisa realmente boa estava vindo de algum lugar. Por mais que fosse só um perfume passageiro, uma fragrância que sairia das minhas mãos cedo ou tarde, pareceu um pouco de bondade.
Não que bondade venha de um frasco de perfume, de uma bisnaga de creme pras mãos, de um vidro de hidratante, mas pareceu ser a única notícia realmente boa nas últimas horas: a notícia de que esse cheiro ia ficar na minha mão até de manhã, e que ainda tinha uma bisnaga cheia desse cheiro gostoso pra eu que eu pudesse usar sempre que eu precisasse de uma gota do cheiro que o creme exalava. Eu tenho um dia cheio de matérias cansativas sendo explanadas na escola, uma grande mudança vindo, uma possível mudança de sala, uma vida amorosa aos pedaços, uma escassez de pessoas que me entendiam no dado momento, e lá estava eu, sentada no chão do banheiro, cheirando hidratante pras mãos. Parecia uma cena até engraçada perante tanta coisa caindo aos pedaços, como preveu a torre do meu tarô de quinta.
Levantei de novo do chão do banheiro, com as quatro bisnaguinhas na minha mão, sorrindo e examinei de novo minha cara no espelho. Vi cada pintinha, cada espinha, cada manchinha. Nada parecia tão horrível que eu não pudesse esconder com algumas camadas de maquiagem na manhã seguinte. Passei o creminho nas mãos, e voltei ao computador, só pra poder roer e aproveitar minha roedeira com Bonnie Tyler. O que podia ser tão horrível que algumas rosas, mesmo que fictícias, não pudessem consertar nem parcialmente?
Um coração partido? Um ente querido perdido? Uma vida escolar de merda? Um trabalho que você odeia? Um ritual rotineiro que você já se cansou? Tudo na vida tem um gosto diferente se visto de maneira diferente. O hidratante é só metáfora (fútil metáfora) pra as coisas pequenas da vida, que as vezes fazem total sentido, as vezes não. As vezes só parece certo parar pra olhar a lua, pra escrever, pra se esconder debaixo do lençol e chorar, pra comer brigadeiro vendo um filme meio idiota na tv, pra rir da sua própria cara, pra sentar no chão do banheiro e se perguntar pra onde a sua vida vai. E pra sentir o cheiro do hidratante com o nariz recém desobistruído depois da gripe. Depois da tempestade, a gente junta os pedaços e vê no que vai dar.
A vida nunca parece tão horrível quando a gente tem bons amigos e hidrantante de rosas.
Não que bondade venha de um frasco de perfume, de uma bisnaga de creme pras mãos, de um vidro de hidratante, mas pareceu ser a única notícia realmente boa nas últimas horas: a notícia de que esse cheiro ia ficar na minha mão até de manhã, e que ainda tinha uma bisnaga cheia desse cheiro gostoso pra eu que eu pudesse usar sempre que eu precisasse de uma gota do cheiro que o creme exalava. Eu tenho um dia cheio de matérias cansativas sendo explanadas na escola, uma grande mudança vindo, uma possível mudança de sala, uma vida amorosa aos pedaços, uma escassez de pessoas que me entendiam no dado momento, e lá estava eu, sentada no chão do banheiro, cheirando hidratante pras mãos. Parecia uma cena até engraçada perante tanta coisa caindo aos pedaços, como preveu a torre do meu tarô de quinta.
Levantei de novo do chão do banheiro, com as quatro bisnaguinhas na minha mão, sorrindo e examinei de novo minha cara no espelho. Vi cada pintinha, cada espinha, cada manchinha. Nada parecia tão horrível que eu não pudesse esconder com algumas camadas de maquiagem na manhã seguinte. Passei o creminho nas mãos, e voltei ao computador, só pra poder roer e aproveitar minha roedeira com Bonnie Tyler. O que podia ser tão horrível que algumas rosas, mesmo que fictícias, não pudessem consertar nem parcialmente?
Um coração partido? Um ente querido perdido? Uma vida escolar de merda? Um trabalho que você odeia? Um ritual rotineiro que você já se cansou? Tudo na vida tem um gosto diferente se visto de maneira diferente. O hidratante é só metáfora (fútil metáfora) pra as coisas pequenas da vida, que as vezes fazem total sentido, as vezes não. As vezes só parece certo parar pra olhar a lua, pra escrever, pra se esconder debaixo do lençol e chorar, pra comer brigadeiro vendo um filme meio idiota na tv, pra rir da sua própria cara, pra sentar no chão do banheiro e se perguntar pra onde a sua vida vai. E pra sentir o cheiro do hidratante com o nariz recém desobistruído depois da gripe. Depois da tempestade, a gente junta os pedaços e vê no que vai dar.
A vida nunca parece tão horrível quando a gente tem bons amigos e hidrantante de rosas.
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