Pular para o conteúdo principal

Pra Não Levantar da Cama

Segunda de manhã, chuva. Terça de manhã, sol. Quarta de manhã, sol. Quinta de manhã, chuva. Sexta de manhã, nublado. Foda-se o tempo que faz lá fora, se o dia de matérias na escola é de exatas ou de humanas, se tá frio ou calor, se o dia promete ou não, você acordou de mau humor e não ficou na cama por que foi forçado a se arrastar pra fora dela. Nesses dias, o quão maravilhoso seria acordar e ter algum bilhete, alguma carta, alguém pra te dizer que o dia foi cancelado, e que você pode voltar pra cama? Seria o céu. Mas, uma vez sabendo que isso não vai acontecer, o que você faz com aquela vontade de desaparecer, de deixar de existir, de entrar embaixo das cobertas e não sair de lá até você se sentir melhor? Não faz. Coloca debaixo do braço e leva pra escola. Passa o dia inteiro carrancudo ou com cara de deprimido, suspirando e olhando pra o vazio.

Mas sabe de uma coisa? Não muda nada. O dia corresponde menos ainda as suas expectativas. Se sua expectativa era sexo, vai acabar em casa chupando o dedo e vendo Ele Não Está Tão Afim de Você. Se sua expectativa era bolo, vai acabar comendo salada verde na bancada da cozinha. Mas isso não é por que o dia tá ruim, é você que tá ruim. E a semana fica ruim. Fica tudo ruim, até o sorvete de flocos que você tava esperando o domingo pra comer. Parece que tudo dá errado. Seu namorado te dá o pé na bunda, você desiste da dieta, tira notas vermelhas, descobre que sua calcinha favorita tá furada, é assaltada, perde a identidade, e se pergunta por que levantou da cama.

Então, o que há de se fazer? Sair debaixo das cobertas, levantar da cama, lavar o rosto, praticar sua melhor cara de que está tudo bem, e encarar o dia. Não dá pra se esconder pra sempre do mundo, por que uma hora, ele pega você. Não dá pra se esconder atrás das músicas do Moptop que entoam que não há motivo pra acordar. Não dá pra deixar de lado sua vida lá fora. Não dá pra se esconder dos seus problemas. O melhor a fazer é encarar. Não há motivos pra levantar? Faça-os. Eu sei que eu estou fazendo. Se gosto do caos, é o que eu tenho. Gosto pelo caos. Estou me arranjando motivos pra levantar justamente por que não tenho nenhum nesse dado momento.

E a vida continua, o jantar está esfriando na mesa, o chuveiro pingando, e seu telefone não tocou.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ventura (Parte 1)

“Som de tapa seguido de um longo e sofrido suspiro. Cortinas abrem, Brenda caída no chão.” BRENDA: Do meu pranto, veio a lágrima. Da lágrima, verteu o sofrer. Qual diferente sina me aguarda? Hei de contar-lhes minha história, hei de vencer o porvir. O futuro, tão incerto, mas quem sabe menos sofrido que o presente viver. “Brenda sai, entra Artur” ARTUR: Que fúnebre entardecer. O objeto que me desperta fúria é o mesmo que me desperta o amor. Que hei de fazer? Pobre de mim, que amo, mas não sei fazê-lo. “Anda até a cama, onde encontra uma camisola antiga de Brenda. Pega a camisola e a abraça” ARTUR: Minha amada! Que saudades guardo de ti, no meu pequeno coração. Pobre de mim, pobre de ti. “Sai Artur, deixando a camisola em cima da penteadeira. Entra Helô” HELÔ: Sempre há o que se arrumar! Só discutem, sempre há um pormenor! Vinte anos vivendo sob os mesmos fantasmas. Tenha piedade, Deus. “Helô dobra a camisola e deposita em cima do travesseiro. Sai Helô. Entram Tomás e Bia” TOMÁS: Vossa...

Espero nunca te perder

Flashes. Todos disparavam na minha cara, como lanternas ofuscantes. Tudo que eu queria era um banho, quente, de banheira. Isso seria possível se os paparazzis me deixassem em paz. Paz. Estava aí uma coisa que eu precisava. Nada melhor do que o anonimato. Por que todo mundo quer ser famoso, afinal? Eu fiquei famosa, mas perdi tudo que me importava de verdade. Meus amigos, familiares, e principalmente você. Os perdi indefinidamente, e infelizmente não sabia como voltar. Aos teus abraços, aos teus beijos e ao teu carinho. Nada disso valia. Eu jogaria tudo pro alto por um simples aceno teu. Mas agora não conseguia falar contigo. E não querias falar comigo. Não depois do modo como eu o humilhei. Indiretamente, mas humilhei. Aqueles rumores jamais deveriam ter ido parar nas revistas. Estúpido concurso. Se eu não tivesse me inscrito nele, jamais teria me separado de ti. Confesso que viver sobre os holofotes não me apetece mais. Nada me apetece mais sem você. Aquele concurso de escrita foi min...

Agora Você Nem Me Nota

Depois de uma conturbada manhã no sofá, duas horas de aula nas férias, e muito resmungar, resolvi que estava na hora de ir pra casa de Flora. Antes do escurecer, consegui chegar. Depois de brincar com a Caty Perry (nome criativo pra uma gata mascarada), ficar no pottermore, comer mousse de maracujá (no caso eu, por que sou uma gorda e me orgulho), e atormentar a vida da Caty com o espirrador de água, fomos intimadas a nos arrumar com rapidez, por que a mãe de Flora estava chegando. Corremos, nos vestimos, e fomos capazes de nos arrumar em tempo. Ao chegar no bar (que por acaso se chamava Eletro Cana Rock), encontramos poucos conhecidos. A medida que as pessoas iam chegando, o barulho ia aumentando e mais gente conhecida aparecia (inclusive a banda que ia tocar). Margot e Flora estavam com fome, e eu, bem, eu estou sempre com fome. Fomos em um barzinho suspeito (depois de um interrogatório dirigido a Iuri sobre como ele conseguiu água), que tinha uma estante cheia de cachaça barata, coc...