Pular para o conteúdo principal

Três Histórias

“For you I bleed myself dry”
O dia estava amanhecendo. Dava pra ver a mudança, as estrelas sumindo vagarosamente e dando lugar para os tímidos raios de sol da manhã. Ela assistia tudo da janela do seu quarto, deitada na cama de solteiro, que dividia com um garoto. Garoto cujo coração batia rápido sempre que ela passava suas unhas pelo seu rosto, ou pelo seu peito. Garoto cujo coração batia normalmente, quase parando, quando ela se virava de costas. De uma forma incompreensível, ficavam lá. Dormindo e acordando, quase que em sincronia. Da maneira que era, deveria continuar. Amigos. E sempre seriam. Na porta, sem bater, de forma simples, entra outra pessoa. Que desvia sua atenção. Não totalmente. O segundo sol.

“estamos todos bêbados, bêbados de cair.”
Eu nunca fiz oral.
Eu nunca usei sutiã.
Eu nunca acordei com uma ereção.
Eu já fiz oral.
Eu já fiquei bêbado.
Perdida, tal juventude. Mas não mais do que a anterior. Sexo, cigarros, bebida, risadas. O amanhã está próximo demais pra não aproveitar o hoje. E o hoje já foi longe, não mais tão longo. Todos juntos. Se pelo menos, fosse pra sempre. Mas o pra sempre está longe de ser opção viável. Alto teor alcóolico, e tanto pra comemorar, pra rir, e viver. Mesmo assim, a saudade aperta o peito. Mais uma dose? É claro que eu tô afim.

“tira essa bermuda que eu quero você sério”
Na minha casa. Ele já visitou minha casa. E meu quarto. De maneira tão casual. E nada casual, pra mim. Será que aquele olhar significou mais do que é? Parece que ele está me evitando. E mesmo assim, ainda sorrio. Ainda tenho minhas fichas. E vou apostá-las todas. Por que eu travo quando você tá aqui? Nenhuma coisa que pareça minimamente decente sai da minha boca, apesar de pensar e tentar programar dentro da minha cabeça todos os nossos momentos. E você vira o bêbado vulnerável. Eu quero um beijo. Eu quero milhares de beijos. Teus milhares de beijos, acertando meus pecados. Teus, tua.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Acha Que A Sua Indiferença Vai Acabar Comigo?

Eu sobrevivo, eu sobrevivo! Polônia. Tempos difíceis, todas as pessoas consideradas indesejadas estavam indo embora para terras quentes, infestadas com o odor da novidade, do fervor da fuga. A saída sorrateira do país desencontrava amores, despistava amantes. Numa casa, não muito longe do centro de Varsóvia, uma mulher suspirava. Lia e relia a única carta do amado, com o perfume quase se esvaindo do papel, letras borradas das lágrimas que ambos derramaram naquele frágil pedaço de papel, cheio de promessas e saudades. Rosa, tão bela Rosa. Tive que partir, e você sabe minhas motivações. Deixo-lhe com um aperto no peito, beijos em tuas mãos e com dissabores na vida. Prometo-lhe notícias, em breve, da carta que precisas para deixar o país, e vir, finalmente, me encontrar. Ansiosamente, aguardo-te e sonho contigo todas as noites. Porém, a vida nos trópicos está me fazendo bem. Quase não se vê sinal das minhas tosses. Estou empregado, trabalhando na fábrica de alumínio. Moro com mais doi

Ser gay ou não ser?

“So you say, It’s not okay to be gay?” Me diz uma coisa: por que não seria ok ser gay? Me diz o problema. Por que diabos seria errado? Desde quando amor é errado? Uma relação gay é uma relação de amor também. Eu estou realmente querendo saber. E não me venha com aquela bobagem moralista de que é pecado, nem de que “Eu não sou contra, mais eu não apoio.” Pra você não apoiar uma coisa, você certamente deve ter motivos, correto? Como você pode não ser contra mais não apoiar? Que sentido isso tem? Se você não tem nada contra, logicamente você deveria apoiar. Mas tudo o que eu ouço na aula de formação ético social são essas babaquices . É isso que elas são. Tremendas babaquices de uma sociedade mentalmente enrustida, falei. É errado por que a igreja diz? Bem, sinceramente, a igreja já esteve errada antes, vão folhear um livro da idade média, pelo amor de deus! Amor é amor de qualquer forma, de qualquer sexo, de qualquer porra de coisa. Jesus Cristo não pregava amor? Bem, isso é amor. Eu so

Agora Você Nem Me Nota

Depois de uma conturbada manhã no sofá, duas horas de aula nas férias, e muito resmungar, resolvi que estava na hora de ir pra casa de Flora. Antes do escurecer, consegui chegar. Depois de brincar com a Caty Perry (nome criativo pra uma gata mascarada), ficar no pottermore, comer mousse de maracujá (no caso eu, por que sou uma gorda e me orgulho), e atormentar a vida da Caty com o espirrador de água, fomos intimadas a nos arrumar com rapidez, por que a mãe de Flora estava chegando. Corremos, nos vestimos, e fomos capazes de nos arrumar em tempo. Ao chegar no bar (que por acaso se chamava Eletro Cana Rock), encontramos poucos conhecidos. A medida que as pessoas iam chegando, o barulho ia aumentando e mais gente conhecida aparecia (inclusive a banda que ia tocar). Margot e Flora estavam com fome, e eu, bem, eu estou sempre com fome. Fomos em um barzinho suspeito (depois de um interrogatório dirigido a Iuri sobre como ele conseguiu água), que tinha uma estante cheia de cachaça barata, coc