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Mostrando postagens de 2015

It All Feels Right

Cores. Cores piscavam, incessantemente, nos seus olhos fechados. Abriu-os, com a certeza de que isso faria com que as cores a deixassem em paz. Só se intensificaram. Sabia que não podia fugir daquela explosão de cor, amor e sentimento. Sentir era tão precário, tão primitivo, tão doloroso, não queria sentir, não queria abrir, queria trancar-se em si, encarcerar a possibilidade de um dia chegar a cogitar essa cilada que era o sentir. Batiam na porta, com força. Quase arrombando a barreira precária que ela construíra entre seu coração brutalizado e a vida lá fora. Mas a vida chama. E como chama! Grita no ouvido, a plenos pulmões. Levanta dessa cama! Veste uma roupa! Saia de casa! Muda tua vida, e depressa, depressa, que nada espera pra você ser feliz, e só quem constrói isso é você. Eu sou feliz? Eu sou feliz. Eu sou feliz! Repetiu a frase, com a palavra escorrendo da boca, timidamente, até que pudesse voar, encantada com sua própria existência, com seu próprio e inesperado espl

Desanuviar

Peso no peito de fim. Peso no peito de medo. Porém feliz. Feliz. Incrivelmente, pela primeira vez no que parecia uma eternidade, tudo parecida no lugar, correto, fazendo sentido de um jeito simples e bizarramente real. Levemente sedada das coisas da vida, num universo paralelo particular-compartilhado no qual o esplendor do viver existia. Existia vida no viver. Realidade no real, nesse mundo dos bonecos de carne ambulantes. Por que findos os momentos? Por que finita a vida? Se no peso dos ombros levava os anos, quem partilhava o peso? Caminhando na estrada com ela, aplacando a dor dos ombros cansados e da cabeça, pesada como seu coração. Quando finita, me sinto infinita, desanuviada. Sensação incrível de se ouvir saindo da boca do outro. Sensação de delícia inesperada, de espanto positvo. Um semi desconhecido sendo um pouco de você. Sentindo união, coisas inexplicáveis que não se coloca em palavras. Medo de não reciprocidades, porém tudo estava tão incrível que apaziguava sua alma,

De Ausência e Saudade

I must be strong, to carry on, 'cause I know there'll be no more tears in heaven Há muito não andava por lá. Dessa vez, diferente das outras vezes, estava acompanhada por um grupo de várias pessoas. Cada passo dado, mecânico, era dado em direção a uma lembrança, muitas as quais não recordava de ter guardado em recônditos escuros da memória. Quando criança caiu de bicicleta nos viveiros, se meteu na lama pra caçar bichinhos, tomou banho no açude perto dali. Quando adolescente, aprendeu a dirigir ali de forma mediana, nunca dando continuidade aos ensinamentos automobilísticos, apesar da frequente insistência do pai. Aquilo era seu pai. Aquela água toda, a lama, o mato. As vezes que a segurou pra não cair da bicicleta, que a levou pra ver a estação de bombeamento da fazenda, que, quando chovia, voltava pra casa, enlameado, e ambos tomavam banho de mangueira no quintal. Agora, seu pai estava em um pote, segurado tremulamente pela sua mãe. As pessoas andavam juntas em direção ao

Status: Sendo Seguida Por Um Monte de Corvos

Estava sentada, exatamente as 2:14 da manhã, na frente do seu laptop, esperando um filme que, de forma geral, parecia pouco promissor no quesito crescimento intelectual. Estava se sentindo absolutamente impotente. Aquela mina que chamou pra tomar café ainda não respondera o convite, embora o tivesse feito a um tempo considerável. O filme se recusava a carregar de maneira que pudesse mergulhar no torpor de uma comédia que não requeria que ela se concentrasse e nem que colocasse muito esforço mental nela. O twitter não tinha atualizações, assim como o instagram, o facebook, o whatsapp, a vida. Tudo parecia estático, morto, vivo-morto. Se deu conta que há tempos não escrevia mais do que 140 caracteres. Nada de excepcional e digno de nota aconteceu nas últimas semanas. Alguns conhecidos embarcaram em relacionamentos, outros tantos viajaram, alguns se mudaram... Mas ela permanecia. Sentada na frente do computador, esperando que a máquina, de alguma maneira, cuspisse respostas sobre o estad

Entre Nucas e Nuncas

Caminhava pela rua de óculos de sol. Parou por alguns instantes em uma banca de jornal, comprou um exemplar de uma revista que pudesse folhear no ônibus, e um mate. Espera o ônibus impacientemente, como se algo a estivesse incomodando profundamente. Entra no 102, e um calafrio percorre sua espinha. Lá está, como todos os dias, aquela moça. Sempre está lá. Com o nariz sardento enfiado em um livro, calça jeans, camisa de botão e cabelo curto. Sentou-se atrás da menina, que não sabia o nome. Nunca perguntou, e não achava que deveria perguntar. Só ficou ali, admirando a nuca branca, curto espaçamento entre a gola da blusa e o começo do cabelo. Via cada virar de páginas. Observava o vaivém do braço da moça. Dali a duas paradas, ela desceria. A moça sem nome. O ciclo só recomeçaria na manhã do outro dia, quando ela compraria uma revista, um mate e pegaria de novo o 102. Parecia torturante esperar tudo isso. E assim começou, de novo. Comprou o mate, a revista, como sempre fazia, sempre igual

Tua Pele...

... é crua Encontrei-a no banheiro. Beijou-me. Errado, tão errado. Eu estava cedendo, quase cedendo. Ela me acabou. Me destruiu por dentro, carcomeu a minha pele nua, como o verme que é, parasita. Desabotoou a minha blusa. - Transa comigo. - Sim, mil vezes sim. Seu desejo é uma ordem. Toquei-a e a saudade me inundou. Tudo isso parecia muito errado. Quando estávamos nos quase finalmentes, num chão de banheiro frio, ela pecou. - Viajei e só pensei em ti. - Viajou? Com quem? E a culpa inundou seus olhos. Rapidamente recolhi minha blusa e meu orgulho. Ela pensa que pode me fazer de boba? Que pode brincar comigo e voltar pros braços de outra? Não. Não. Não. Mirou-me nos olhos, com aqueles olhos de gato, carregados de sentimento, e perguntou-me: - Foi bom, isso que você andou fazendo? - Foi ótimo. Melhor ainda sem você. Encarei-a friamente, e vi as lágrimas rolarem pelo seu rosto, silenciosas. Bastava. Num ato de cruel frialdade, a ignorei completamente pelo resto dos meus dias. E

Se Acaso Me Quiseres

(...) E eu te farei as vontades, direi meias verdades, sempre a meia luz. Estava só em casa. Só, por que sozinha ela. Bebericava uma cerveja, no limiar entre o quente e o intragável. Algo, inclusive, que poderia ser dito dela. Entre o quente e o intragável. Quente de emoções a flor da pele, quente de paixão, quase ardente dentro de seu corpo. Pulsante. Pulsava, também, seu coração. Coração de amor, de calor, de fervor. "Um dia produtivo.", pensava ela. Porém estava incomodada. Inquieta, calada, perturbada. Por dentro, estava sendo corroída pelas perguntas que se faz quando se gosta demasiado de alguém. Na verdade, a principal pergunta que lhe inquietava era de saber por que gostava demasiado dessa pessoa. Tão sem motivo, tão de graça, tão sem saber se há correspondência. Sem eira nem beira. Talvez fosse assim que a vida se manifesta. Cheia de coisas que não se sabe explicar, mas ela queria explicar. Queria saber traduzir o que pensava e sentia, e queria não achar ridícu

Acha Que A Sua Indiferença Vai Acabar Comigo?

Eu sobrevivo, eu sobrevivo! Polônia. Tempos difíceis, todas as pessoas consideradas indesejadas estavam indo embora para terras quentes, infestadas com o odor da novidade, do fervor da fuga. A saída sorrateira do país desencontrava amores, despistava amantes. Numa casa, não muito longe do centro de Varsóvia, uma mulher suspirava. Lia e relia a única carta do amado, com o perfume quase se esvaindo do papel, letras borradas das lágrimas que ambos derramaram naquele frágil pedaço de papel, cheio de promessas e saudades. Rosa, tão bela Rosa. Tive que partir, e você sabe minhas motivações. Deixo-lhe com um aperto no peito, beijos em tuas mãos e com dissabores na vida. Prometo-lhe notícias, em breve, da carta que precisas para deixar o país, e vir, finalmente, me encontrar. Ansiosamente, aguardo-te e sonho contigo todas as noites. Porém, a vida nos trópicos está me fazendo bem. Quase não se vê sinal das minhas tosses. Estou empregado, trabalhando na fábrica de alumínio. Moro com mais doi

Vamos Ser Carnaval

Bêbada, em uma festa. Avistou o ex, tomando uma cerveja no canto. Muita coisa havia mudado desde que o relacionamento se acabou, mas a principal delas foi a descoberta sexual da moça em questão. Estava infernalmente incomodada com a presença daquele corpo estranho ali. Não por ser seu ex(talvez um pouco por isso, sim), mas por que durante todo o namoro dos dois, ele se recusava a sair de casa por meses e ficava fazendo seja lá o que fosse naquele maldito computador. Gostava, inclusive, de frisar que sentia-se incomodado com os amigos dela, por não se sentir a vontade perto deles. Pois bem, lá estava o infeliz em uma festa com quase todos os amigos dela, bebendo, conversando e sendo sociável. Em um ano e nove meses de relacionamento, não fez isso a pedido dela nenhuma vez. Porém, não ia deixar-se irritar. Estava determinada a abordá-lo e falar sobre algo que estava entalado na sua garganta: o fato de ela ser lésbica. "É, sabe todas aquelas vezes que eu não tive tesão? Que eu não

Shine

Luzes piscavam. Pisca. Pisca. Pisca. Seus sentidos piscavam com a intensidade de dois mil voltz. Percorrendo seus corpos juvenis, cheios de vida e lotados de substâncias ilícitas. Sabia que estava errada Que estava sobrevivendo de luz, que vivia piscando. Inconstante, cheia de vida. Mas de coração partido, e na mão. Batendo.

Sobre Amada, Amanda.

Uma vez, saí a noite, uns 4 anos atrás. Conheci uma mina, interessante, inteligente, bonita. Amada, Amanda. Agora, quatro anos depois, Continua sendo tudo isso, Mas minha amiga, amante, amada. Não é uma poesia, que não sei fazer É só uma verdade, de saudade e felicidade Por te conhecer, e você me gostar. Parabéns. Pela pessoa que você é, pelas coisas que você faz Por ser. Mas sério, você é incrível, miga. Queria fazer uma poesia, mas não sei fazer poesia. Sei escrever de maneira razoável, então acho que conta como homenagem, né? Feliz aniversário, feliz vida! Te desejo tudo de bom, hoje e sempre. Que nossa amizade viva por mais 4 anos, e que se recicle por infinitos múltiplos de quatro.

Mas Eu Nunca Sei Rodar

"E cada passo que eu ia dando nessa dança, ia perdendo a esperança..." Encontrei-a no primeiro dia. "Que linda!", pensei comigo mesma. No segundo dia, não a vi. No terceiro dia, a noite, na praia, lá estava. De mãos dadas com outra mulher, que não eu. Desencanei momentaneamente. Virei minha cabeça para outros lados, outras pessoas, e para a lata de cerveja que ocupava espaço na minha mão. Para a roda de samba que ocupava o centro da festa. A avistei de novo, compenetrada em bater no bongô. Sorriu pra mim, e meu coração bateu mais forte. Desceu pra praia. Desci também e sentei ao seu lado. Paraná. Ciências Sociais. Direito. Meu Deus, que mulher. Definitivamente, que mulher. Começamos a esculpir rostos na areia, o dela duas vezes melhor que o meu. Levantamos pra ir ao banheiro. Lá, na beira da escada, nos beijamos. Nos beijamos de novo depois do banheiro. E de novo, e de novo. Sete da manhã, hora de ir pra casa. No dia seguinte, nos encontramos em frent