Pular para o conteúdo principal

Vamos Ser Carnaval



Bêbada, em uma festa. Avistou o ex, tomando uma cerveja no canto. Muita coisa havia mudado desde que o relacionamento se acabou, mas a principal delas foi a descoberta sexual da moça em questão. Estava infernalmente incomodada com a presença daquele corpo estranho ali. Não por ser seu ex(talvez um pouco por isso, sim), mas por que durante todo o namoro dos dois, ele se recusava a sair de casa por meses e ficava fazendo seja lá o que fosse naquele maldito computador. Gostava, inclusive, de frisar que sentia-se incomodado com os amigos dela, por não se sentir a vontade perto deles. Pois bem, lá estava o infeliz em uma festa com quase todos os amigos dela, bebendo, conversando e sendo sociável. Em um ano e nove meses de relacionamento, não fez isso a pedido dela nenhuma vez. Porém, não ia deixar-se irritar.
Estava determinada a abordá-lo e falar sobre algo que estava entalado na sua garganta: o fato de ela ser lésbica. "É, sabe todas aquelas vezes que eu não tive tesão? Que eu não quis mais transar, que eu preferi dormir a te chupar? Bem, acontece que isso tudo tem um motivo muito bom. Me sinto sexualmente atraída por mulheres. Mas só por mulheres."
Ela pensava nas maneiras mais sutis de se abrir. Afinal, ela mesma demorou pra perceber que o sexo estava mecânico, que a atração física era quase nula, e que o problema não era só que o amor estava arrefecido e o relacionamento desgastado: era sua sexualidade. Levou mais umas transas insignificantes com homens aleatórios, alguns considerados bons de cama, outros verdadeiros poços de incompetência aliadas. Além de atrações físicas incontroláveis e sexo com mulheres fantásticas para ela se tocar que homem não era a praia dela.
E lá estava, sem saber como chegou, parada na frente dele, segurando um copo de cerveja que ia cair a qualquer momento, apoiada na bancada da cozinha e encarando-o nos olhos.
- Então, precisava muito falar com você. - Estava se esforçando para não rir, por que não queria que parecesse que era puro deboche. Mas era debochada. E bêbada.
- Pode falar, querida -
- Então, nesses últimos tempos, reparei uma coisa nova em mim mesma. -
- O que? -
- Eu gosto de mulheres. Mas só de mulheres. Sou uma grande sapatão. - Fixou os olhos na expressão dele, esperando qualquer tipo de reação.
- Isso torna minha confissão bem mais fácil. Eu também gosto de homens. -
Fazia todo o sentido. Não deu certo por que não podia dar certo. Simples assim. Isso não só tirava o peso da culpa de um namoro frustrado e acabado com gosto de quero mais (digo, ela quereria mais se ele fosse mulher e ele quereria mais se ela fosse um homem), como a fazia se sentir muito melhor consigo mesma. Ele também era gay.
Com os olhos cheios de lágrimas, abraçaram-se. Ainda dividiam ternura, afeto e todas essas coisas que ficam depois que o fim se instala dentro da alma.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ventura (Parte 1)

“Som de tapa seguido de um longo e sofrido suspiro. Cortinas abrem, Brenda caída no chão.” BRENDA: Do meu pranto, veio a lágrima. Da lágrima, verteu o sofrer. Qual diferente sina me aguarda? Hei de contar-lhes minha história, hei de vencer o porvir. O futuro, tão incerto, mas quem sabe menos sofrido que o presente viver. “Brenda sai, entra Artur” ARTUR: Que fúnebre entardecer. O objeto que me desperta fúria é o mesmo que me desperta o amor. Que hei de fazer? Pobre de mim, que amo, mas não sei fazê-lo. “Anda até a cama, onde encontra uma camisola antiga de Brenda. Pega a camisola e a abraça” ARTUR: Minha amada! Que saudades guardo de ti, no meu pequeno coração. Pobre de mim, pobre de ti. “Sai Artur, deixando a camisola em cima da penteadeira. Entra Helô” HELÔ: Sempre há o que se arrumar! Só discutem, sempre há um pormenor! Vinte anos vivendo sob os mesmos fantasmas. Tenha piedade, Deus. “Helô dobra a camisola e deposita em cima do travesseiro. Sai Helô. Entram Tomás e Bia” TOMÁS: Vossa...

Espero nunca te perder

Flashes. Todos disparavam na minha cara, como lanternas ofuscantes. Tudo que eu queria era um banho, quente, de banheira. Isso seria possível se os paparazzis me deixassem em paz. Paz. Estava aí uma coisa que eu precisava. Nada melhor do que o anonimato. Por que todo mundo quer ser famoso, afinal? Eu fiquei famosa, mas perdi tudo que me importava de verdade. Meus amigos, familiares, e principalmente você. Os perdi indefinidamente, e infelizmente não sabia como voltar. Aos teus abraços, aos teus beijos e ao teu carinho. Nada disso valia. Eu jogaria tudo pro alto por um simples aceno teu. Mas agora não conseguia falar contigo. E não querias falar comigo. Não depois do modo como eu o humilhei. Indiretamente, mas humilhei. Aqueles rumores jamais deveriam ter ido parar nas revistas. Estúpido concurso. Se eu não tivesse me inscrito nele, jamais teria me separado de ti. Confesso que viver sobre os holofotes não me apetece mais. Nada me apetece mais sem você. Aquele concurso de escrita foi min...

Agora Você Nem Me Nota

Depois de uma conturbada manhã no sofá, duas horas de aula nas férias, e muito resmungar, resolvi que estava na hora de ir pra casa de Flora. Antes do escurecer, consegui chegar. Depois de brincar com a Caty Perry (nome criativo pra uma gata mascarada), ficar no pottermore, comer mousse de maracujá (no caso eu, por que sou uma gorda e me orgulho), e atormentar a vida da Caty com o espirrador de água, fomos intimadas a nos arrumar com rapidez, por que a mãe de Flora estava chegando. Corremos, nos vestimos, e fomos capazes de nos arrumar em tempo. Ao chegar no bar (que por acaso se chamava Eletro Cana Rock), encontramos poucos conhecidos. A medida que as pessoas iam chegando, o barulho ia aumentando e mais gente conhecida aparecia (inclusive a banda que ia tocar). Margot e Flora estavam com fome, e eu, bem, eu estou sempre com fome. Fomos em um barzinho suspeito (depois de um interrogatório dirigido a Iuri sobre como ele conseguiu água), que tinha uma estante cheia de cachaça barata, coc...