Quase todos os meus relacionamentos afundaram. E afundaram feio. Não sei lidar com o amor das pessoas, sempre penso que este é efêmero demais, e se acabar dependendo dele, vou afundar quando acabar. Por isso sempre fiz questão de acabar. A gente é feito pra acabar. Sempre acreditei na efemeridade da coisa. Dos sentimentos. Do amor. Do coração batendo forte, das pernas bambas, das borboletas do estômago. Sempre achei muito incerto quem não demonstra afeto, quem não diz que ama. Também achava grudento quem dizia isso em demasia, e me punha em um enfado que era difícil de tirar. Ninguém nunca achou um equilíbrio. Eu sou meio desequilibrada, então achar alguém que aguente tamanha mudança de humor de forma constante, e que aceite isso numa boa, foi difícil. Eu sou difícil. Reconheço isso. Difícil, chata, insuportável, irritante, meio egoísta, abusada. E nem é charminho. Percebi o quanto é fácil cair na rotina, desaparecer quando você namora. Se infiltrar no outro ao ponto de saber quais os problemas, soluções e palavras que vão vir dele. Não se infiltrar, mas entrar aos poucos. E com permissão. Essa é essencial. Não gosto de relacionamentos mornos. Sou intensa. Mas enjoo de viver em filme live action com o armaggedon me perseguindo por aí. Gosto de ficar em casa, dormir, ver filme, ir ao cinema, caminhar. Uma pessoa que faz parecer que estão juntos a tempos. Que tem a capacidade de fazer você virar as costas pra o Murilo Rosa enquanto ele canta uma balada famosa do Skank. Uma pessoa que é totalmente diferente de você em quase todos os aspectos da vida, de uma forma quase que só pra fazer birra. O lance é o seguinte: obrigada.
Eu sobrevivo, eu sobrevivo! Polônia. Tempos difíceis, todas as pessoas consideradas indesejadas estavam indo embora para terras quentes, infestadas com o odor da novidade, do fervor da fuga. A saída sorrateira do país desencontrava amores, despistava amantes. Numa casa, não muito longe do centro de Varsóvia, uma mulher suspirava. Lia e relia a única carta do amado, com o perfume quase se esvaindo do papel, letras borradas das lágrimas que ambos derramaram naquele frágil pedaço de papel, cheio de promessas e saudades. Rosa, tão bela Rosa. Tive que partir, e você sabe minhas motivações. Deixo-lhe com um aperto no peito, beijos em tuas mãos e com dissabores na vida. Prometo-lhe notícias, em breve, da carta que precisas para deixar o país, e vir, finalmente, me encontrar. Ansiosamente, aguardo-te e sonho contigo todas as noites. Porém, a vida nos trópicos está me fazendo bem. Quase não se vê sinal das minhas tosses. Estou empregado, trabalhando na fábrica de alumínio. Moro com mais doi
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