Nove da manhã. Levanto da cama, tomo banho nas pressas. Por que eu não tenho nenhuma bosta de caneta preta translúcida? Agora vou ter que correr pra o supermercado antes da maldita prova. Ok, 9:30. Dá tempo. Dá? Vai ter que dar. Por que o supermercado tem que ser tão longe? Eu só queria UMA caneta preta, mas tive que comprar um pacote com TRÊS canetas, uma preta, uma azul e uma vermelha. E enfrentar a fila, com o tempo correndo pelos meus dedos. A porcaria da fila de pequenas compras está lotada de pessoas, e dando voltas.
- Licença, moça. É que eu vou fazer ENEM, e só preciso comprar essas canetas pra prova, vou pagar em dinheiro, juro que são só cinco minutos, será que eu podia passar na sua frente, por favor? -
- Não. - E virou o rosto. Na verdade, não olhou pra o meu rosto. Só murmurou um não indigesto que me fez ficar com a pior impressão do mundo. Fiquei ali, atrás da dita cuja, com raiva. Ela não tinha que me ceder o lugar dela, mas poxa, custava tanto olhar na minha cara pra negar? Quando as compras do carrinho abarrotado da mulher acabaram de ser passadas, ela ainda fez um barraco infundado por causa de uma promoção fora do prazo, e algo dentro de mim não descartava a possibilidade de ser só pra me irritar. 10:30. Ainda era um bom horário. Passei as malditas canetas, e acabei descobrindo que não ia ter dinheiro pra voltar pra casa depois da prova. Tudo bem. Eu arranjo carona. Corri pra o ponto de ônibus, com as canetas na bolsa. E com fome. Meu estômago estava embrulhado. Menos de cinco minutos depois, o ônibus rumo à Ponta Negra apareceu. Abarrotado de gente. E eu não podia me dar ao luxo de não pegar o ônibus e esperar pelo próximo, que provavelmente estaria mais lotado ainda, se é que possível. Acho que os ônibus ignoram aquela lei da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Fui em pé metade da viagem, lotada de trancos e solavancos. O trânsito estava praticamente parado. Acho que mais da metade das pessoas que estavam dentro do veículo estava indo prestar o ENEM. E estavam impacientes. Extremamente impacientes. Uma pequena revolta surgiu, e três pontos antes, várias pessoas desceram do ônibus e correram loucamente em direção ao local do exame. Faltava meia hora. Eu estava profundamente enjoada, com medo de perder a prova, e de ser barrada por não estar com o comprovante de inscrição. Cheguei a apelar pra um Deus que eu não acredito pra pedir pra não vomitar no colo do menino do lado, de tanto nervosismo. Como a anta aqui esqueceu o comprovante de inscrição em casa, eu não fazia ideia de qual era a minha sala. Antes do ponto, todos os participantes do ENEM decidiram descer do ponto e sair correndo pra chegar em tempo. Acabei chegando quinze minutos antes e vomitando no banheiro antes da prova.
- Oi, Bianca, por que tá todo mundo correndo? -
- Por que estão com medo dos portões fecharem. -
- Mas ainda faltam quinze minutos pra isso. -
- É, mas o pessoal está nervoso. -
- Qual a sua sala? -
- Minha sala? Acho que é... 103B - Chutei o número da sala de um menino que tava do meu lado no ônibus, o mesmo que eu me contive pra não vomitar em cima. Na verdade, entrei em um pânico profundo por não saber. Liguei pra minha avó.
- Vó, em cima da minha mesa, tem o meu cartão de comprovação do ENEM. Preciso que você olhe qual é a sala que eu vou fazer a prova. -
- Certo, minha filha, só um segundo. - Depois de dois minutos que pareceram dois milênios, minha avó volta ao telefone.
- Hmmmm. UNP Roberto Freire... Segundo bloco... -
- Não, vó, isso eu já sei, qual é a sala? - Desesperada.
- Não tem a sala aqui...-
- Claro que tem! -
- Ah! Achei! 223C -
- Obrigada, vó, tchau -
- Tchau - Corri pra o fiscal mais próximo, que me indicou que eu deveria subir pra o terceiro andar. Cheguei, viva, na sala da prova. Nervosa, porém, viva. E tremendo de medo que me barrassem por que não estava com o meu cartão de comprovação do ENEM. Mas nada me impediu de entrar. Uma vez dentro, me senti mais tranquila. Em uma sala entupida de xarás, lá estava eu, semi encolhida, sentada e apreensiva. E a prova chegou. Tinha uma menina atrás de mim que estava comendo Doritos. Da forma mais barulhenta possível. Eu tive vontade de esganá-la. Ela passou a prova inteira deglutindo coisas barulhentas, e eu passei a prova inteira imaginando maneiras nada delicadas de silenciá-la. Conforme fui fazendo as questões, fui me tranquilizando. Não tinha nada demais. Muito mais simples do que uma prova da minha escola. Me animei, e acabei cedo demais. Tentei enrolar pra poder levar o cartão de respostas, mas não consegui e acabei saindo, confiante. O que posso dizer é que amanhã eu vou levar Doritos pra comer na prova, e que eu memorizei o nome da menina que comeu. Vou chegar cedo e sentar atrás dela. Espero que a prova seja tão boa quanto hoje. Boa prova pra todos!
- Licença, moça. É que eu vou fazer ENEM, e só preciso comprar essas canetas pra prova, vou pagar em dinheiro, juro que são só cinco minutos, será que eu podia passar na sua frente, por favor? -
- Não. - E virou o rosto. Na verdade, não olhou pra o meu rosto. Só murmurou um não indigesto que me fez ficar com a pior impressão do mundo. Fiquei ali, atrás da dita cuja, com raiva. Ela não tinha que me ceder o lugar dela, mas poxa, custava tanto olhar na minha cara pra negar? Quando as compras do carrinho abarrotado da mulher acabaram de ser passadas, ela ainda fez um barraco infundado por causa de uma promoção fora do prazo, e algo dentro de mim não descartava a possibilidade de ser só pra me irritar. 10:30. Ainda era um bom horário. Passei as malditas canetas, e acabei descobrindo que não ia ter dinheiro pra voltar pra casa depois da prova. Tudo bem. Eu arranjo carona. Corri pra o ponto de ônibus, com as canetas na bolsa. E com fome. Meu estômago estava embrulhado. Menos de cinco minutos depois, o ônibus rumo à Ponta Negra apareceu. Abarrotado de gente. E eu não podia me dar ao luxo de não pegar o ônibus e esperar pelo próximo, que provavelmente estaria mais lotado ainda, se é que possível. Acho que os ônibus ignoram aquela lei da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Fui em pé metade da viagem, lotada de trancos e solavancos. O trânsito estava praticamente parado. Acho que mais da metade das pessoas que estavam dentro do veículo estava indo prestar o ENEM. E estavam impacientes. Extremamente impacientes. Uma pequena revolta surgiu, e três pontos antes, várias pessoas desceram do ônibus e correram loucamente em direção ao local do exame. Faltava meia hora. Eu estava profundamente enjoada, com medo de perder a prova, e de ser barrada por não estar com o comprovante de inscrição. Cheguei a apelar pra um Deus que eu não acredito pra pedir pra não vomitar no colo do menino do lado, de tanto nervosismo. Como a anta aqui esqueceu o comprovante de inscrição em casa, eu não fazia ideia de qual era a minha sala. Antes do ponto, todos os participantes do ENEM decidiram descer do ponto e sair correndo pra chegar em tempo. Acabei chegando quinze minutos antes e vomitando no banheiro antes da prova.
- Oi, Bianca, por que tá todo mundo correndo? -
- Por que estão com medo dos portões fecharem. -
- Mas ainda faltam quinze minutos pra isso. -
- É, mas o pessoal está nervoso. -
- Qual a sua sala? -
- Minha sala? Acho que é... 103B - Chutei o número da sala de um menino que tava do meu lado no ônibus, o mesmo que eu me contive pra não vomitar em cima. Na verdade, entrei em um pânico profundo por não saber. Liguei pra minha avó.
- Vó, em cima da minha mesa, tem o meu cartão de comprovação do ENEM. Preciso que você olhe qual é a sala que eu vou fazer a prova. -
- Certo, minha filha, só um segundo. - Depois de dois minutos que pareceram dois milênios, minha avó volta ao telefone.
- Hmmmm. UNP Roberto Freire... Segundo bloco... -
- Não, vó, isso eu já sei, qual é a sala? - Desesperada.
- Não tem a sala aqui...-
- Claro que tem! -
- Ah! Achei! 223C -
- Obrigada, vó, tchau -
- Tchau - Corri pra o fiscal mais próximo, que me indicou que eu deveria subir pra o terceiro andar. Cheguei, viva, na sala da prova. Nervosa, porém, viva. E tremendo de medo que me barrassem por que não estava com o meu cartão de comprovação do ENEM. Mas nada me impediu de entrar. Uma vez dentro, me senti mais tranquila. Em uma sala entupida de xarás, lá estava eu, semi encolhida, sentada e apreensiva. E a prova chegou. Tinha uma menina atrás de mim que estava comendo Doritos. Da forma mais barulhenta possível. Eu tive vontade de esganá-la. Ela passou a prova inteira deglutindo coisas barulhentas, e eu passei a prova inteira imaginando maneiras nada delicadas de silenciá-la. Conforme fui fazendo as questões, fui me tranquilizando. Não tinha nada demais. Muito mais simples do que uma prova da minha escola. Me animei, e acabei cedo demais. Tentei enrolar pra poder levar o cartão de respostas, mas não consegui e acabei saindo, confiante. O que posso dizer é que amanhã eu vou levar Doritos pra comer na prova, e que eu memorizei o nome da menina que comeu. Vou chegar cedo e sentar atrás dela. Espero que a prova seja tão boa quanto hoje. Boa prova pra todos!
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