Gotas grossas manchavam o carpete. Gotas pretas no carpete cinza. Gotas pretas em uma vida cinza. Cinza como o céu, e negra como a previsão que fazia de si. As gotas formavam poças. As poças cresciam com uma velocidade anormal. E a cada gota, algo ia embora. E ia indo, tudo ia se resvalando sem o menor pudor. Tentava segurar a enchente, a grande enchente de poças negras como seu coração. E ele batia. Batia forte contra o peito, mas ela não agüentaria que ele pulasse pra fora. Tinha saído da gaiola vagarosamente, sem que notassem ou apontassem de uma maneira acusatória. Mas fora de lá era frio, e de um frio rascante, pereceu. Pereceu sem querer, e rápido, por que nesse mundo se tem pressa. Mesmo que quisesse aproveitar o momento, já se fora, e como ele mesmo, jamais voltaria. Muito menos da mesma maneira. E com essa bravura breve, mostrou o quanto era sozinho e o quanto era cheio de pesares. Pesares demais pra alguém sustentar, pesares demais para um pobre enjaulado, um pobre animal esq