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Me Venha Sem Saber

 Os acordes característicos daquela música que ecoava na cabeça desde janeiro soavam em seus ouvidos mais uma vez. 

Aquela melodia intimidava e aquiescia as suas entranhas. As coisas eram nubladas e o peito doía de ansiedade. 

Redemoinho de emoções que girava e girava e girava e girava e girava e ela ficava tonta tonta sem entender sem saber e ao mesmo tempo parada.

Por que as entranhas se retraíam e as palavras se repetiam e as coisas aconteciam e ela não sabia bem o que sentir e como responder o que processar primeiro e nem se deveria ter se colocado nessa situação desse jeito.

Tudo nublado azul cinzento mas ao mesmo tempo também nesga de sol saindo por entre as nuvens e por entre a caixa torácica e por dentre ela e os pensamentos de nuvens cinzas e pesadas. 

Dentro de si havia duas dela e três dela e multiplicidades que não se entendiam entre si e que queriam respostas mas temiam respostas mas precisavam respostas e tudo estava povoando sua cabeça e seu corpo ao mesmo tempo. Ela ficava em estado de grito contido e de não saber expressar mas querer expressar.

As palavras já saíram da sua boca mesmo ela tentando que não saíssem. Quando as palavras saem da boca, elas ficam no ar. Flutuando e coexistindo ali, naquela realidade sem saber e sem resposta na qual todos os membros do corpo dela enrijeciam e temiam o saber ao mesmo tempo que também temiam o não saber.

De baixas e altas já sobreviveu a coisas piores mas ao mesmo tempo não conseguia conter e também não sabia expressar e sentia que havia algo preso na garganta pigarreava mas continuava ali presa e com medo de rejeição.

Ah, aquele velho medo que tinha enfiado no fundo da gaveta, numa caixa esquecida embaixo da cama, no armário do cérebro que ela fez questão de esquecer que estava lá. Fez tanto esforço pra esquecer que só lhe restava lembrar que ele estava sempre ali. Seja lá o que ela fizesse. 

O que lhe resta, também, é perceber que se deixar paralisar por ele mais uma vez não é viver. 

Viver é assustador, difícil e intimidador. 

Fez o que tinha que fazer e agora tinha que esperar o que ia acontecer. 

O agoniante passo pesado e barulho de salto alto em mármore da espera.

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