Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2012

Me Enamora

Andando pela rua, pensando no que ia fazer quando chegasse em casa. Deleitava-se com a possibilidade de só deitar na cama e ligar pra alguém, passar horas lá, deitada, conversando e rindo. Muito tempo que não se sentia assim. Leve, leve. Apesar de parecer que quase tudo ao seu redor explodia levemente ao som de uma sinfonia de beethoven, ela se sentia como se pudesse flutuar a qualquer momento. Sim, andara tendo crises inexplicáveis de choro. Mas, de uma forma ou de outra, não se sentia sozinha ou desamparada. Sentia como se tivesse sempre alguém ali. Alguém pra ela ir conhecendo e se apaixonando pelas coisas mais bobas, pelo jeito mais simples. Alguém pra quem ela não teria vergonha de dedicar os escritos mais bregas e cheios de significância. Alguém pra me ver chorar, no meio de uma crise totalmente sem sentido. Alguém que não a fosse julgar pelas besteiras que ela já fez. E quando julgou que nunca mais ia sentir-se assim, que nunca mais ninguém seria capaz de sentir alguma coisa por

Quando Eu Estiver Triste, Simplesmente Me Abrace

Quase todos os meus relacionamentos afundaram. E afundaram feio. Não sei lidar com o amor das pessoas, sempre penso que este é efêmero demais, e se acabar dependendo dele, vou afundar quando acabar. Por isso sempre fiz questão de acabar. A gente é feito pra acabar. Sempre acreditei na efemeridade da coisa. Dos sentimentos. Do amor. Do coração batendo forte, das pernas bambas, das borboletas do estômago. Sempre achei muito incerto quem não demonstra afeto, quem não diz que ama. Também achava grudento quem dizia isso em demasia, e me punha em um enfado que era difícil de tirar. Ninguém nunca achou um equilíbrio. Eu sou meio desequilibrada, então achar alguém que aguente tamanha mudança de humor de forma constante, e que aceite isso numa boa, foi difícil. Eu sou difícil. Reconheço isso. Difícil, chata, insuportável, irritante, meio egoísta, abusada. E nem é charminho. Percebi o quanto é fácil cair na rotina, desaparecer quando você namora. Se infiltrar no outro ao ponto de saber quais os

Daqui A Alguns Anos

Acordou em uma cama, que não era a sua. Olhou pra um teto, que não era o seu. Passou a mão pelas cobertas quentes, que não eram as suas. Olhou pra o marido, de olhos fechados e barriga pra cima, que não era o seu. Tentou se situar numa vida que não parecia sua. Levantou e colocou os pés no chão gelado. Aquele chão gelado não era do seu Brasil. Pela janela, uma paisagem gélida de inverno. Reparou que estava com frio, em meio a confusão. Buscou um casaco no closet daquela casa. Pegou botas de neve, calças de frio, meias, casacos, luvas e um gorro. Vestiu-se, e com o homem dormindo na cama, saiu. Sentou-se em um banco lotado de neve, depois de espaná-la pra longe. Parou pra pensar. Aquela era a vida que ela tinha vivido nos últimos seis anos. Daqui meia hora, Jackie, sua filha, teria acordado, e estaria faminta por algo além de ficar dentro de casa. E Matthew, seu filho, estaria sendo provocado por Jackie. Quando foi que as coisas mudaram tanto? Lembrava dos namoros da adolescência, das b

Ando Em Frente Por Sentir Saudade

Na classe, o professor colocou um vídeo. Vídeo pesado. Cheio de terror. Não havia sangue. Havia brutalidade. Algo nada incomum no mundo. Crueldade, exposta, nua e crua. Seus olhos lacrimejavam. Já tinha visto tal vídeo uma vez. Não estava gostando de vê-lo de novo. Esfregando na cara aqueles corpos putrefatos de milhares de judeus no holocausto. Era judia. Se sentia judia. Sentia dor mental e física vendo aquilo. As pessoas, negando envolvimento. Como podiam? Nunca protestaram. Nunca foram contra. Se não foram contra, apoiaram. Sentia nojo, sentia repulsa. No escuro, encontrou uma mão. Uma mão que afagou a sua, que apertou a sua, que partilhava da sua repulsa. Uma mão, que por mais que fosse quase tão fajuta judia quanto a dela, era uma mão amiga. Uma mão que sentia, involuntariamente, as agruras do vídeo. Sentia mais que os outros. Apertaram as mãos, em sentimento conjunto de cumplicidade. Eram amigos a mais tempo do que podiam contar. Aquela intimidade, de apenas segurarem as mãos, d

I Want You To Be Crazy, 'Cause You're Stupid, Baby, When You're Sane

Câmera foca em um grupo de jovens descendo de um carro por volta do meio dia, na frente de uma fonte que está sendo restaurada. O grupo conversa animadamente. Pegam as malas na mala do carro, e se dirigem até a pousada do amigo, na qual irão se instalar. Corta para eles chegando no caminho tortuoso até a casa que vão ficar. Andam os quatro, rindo e conversando. Chegam na casa, e entram sem bater. Se deparam com uma casa meio escura. Quarto lotado de pessoas semi acordadas. Acendem a luz e se juntam a eles, rindo. Conversam, até sentirem fome. AUG reclama até que cedem aos seus apelos, e vão ao restaurante. Câmera corta para fila do restaurante self service, onde todos conversam animadamente enquanto comem avidamente. Corta para o quarto do jovem dono da casa, onde alguns estão jogando poker em duplas. Riem. Câmera foca na janela, que mostra o dia apagando aos poucos. PH entra no quarto, e informa que vai até a casa de BR, se arrumar lá. B levanta e vai também. PH: Vou me arrumar lá em

Nem Santa, Nem Puta. Mulher.

Aproveitando o gancho do meu projeto da CIARTE, quero falar sobre uma coisa que me enfurece MUITO. Andar na rua e ser cantada a cada dois passos que se dá. É a coisa mais irritante, constrangedora, babaca e exasperante do mundo. Até por que eu ando muito sozinha, quando essas "cantadas" rolam depois das cinco da tarde, já ando assustada e com passos largos, com medo do que pode me acontecer se eu me demorar. Mas a pergunta é: Quem é que te deu o direito de violar meu direito desse jeito? Quem é que te autorizou a entrar assim na minha vida, olhar pra mim desse jeito e falar essas coisas pra mim? Meu short? Meu decote? Sinto muito, amigo, mas o meu decote NÃO é convite. O comprimento do meu short só interessa a mim. Em uma cidade quente que nem a que eu moro, impossível andar sempre de jeans, casaco, camisa, e tênis. E mesmo se andar, ainda tem nego cara de pau que passa cantada. O negócio é o seguinte: o corpo é meu, e eu ando vestida como eu quiser, por que isso é proble

Ela É Linda Linda

Eu devo mais a ti do que eu posso pagar. Devo mais a ti do que a qualquer um. Devo quem eu sou, devo quem eu fui, e devo quem eu vou ser, e gosto de devê-lo. Eu te amo. E a distância me mata, vó. Sempre tive muita inveja de todas as minhas amigas que tem avós que moram do lado. Você escolheu morar do outro lado do mundo e me matar de saudades. Você escolheu sempre ser feliz, e ser sempre minha avó, não importando a besteira que eu tivesse feito daquela vez. Nos meus piores momentos, eu tenho certeza que você estava lá. E que sempre vai estar. Agora, aí em Israel, são quase duas da manhã. Mas eu aposto que se eu precisasse de você nesse instante, e ligasse pra aí, você ainda ia me atender. Com uma puta raiva. Mas ia me atender e ia procurar me entender. Você sempre procurou entender minhas babaquices. Sempre me amou, por mais que eu gritasse, esperneasse e disesse que não queria ir pra sua casa. Encaremos a verdade: eu adorava a sua casa. Aquelas porcelanas, aqueles panos coloridos, os

Por Hoje A Vida Dança Sem Sinal

Estava na fila do supermercado, carregando oito sacolas lotadas de decoração temática de halloween pra sua festa. Estava quase atrasada pra a própria festa. Victória já estava lá, no salão de festas. E ela do outro lado da cidade, esperando na fila pra comprar uma coca cola e uma garrafa de groselha. Conseguiu carona com o Matheus. Chegou, tomou banho, desceu e ajudou Victória a arrumar o salão. Subi pra pegar minha fantasia de chapeileiro maluco versão feminina. Quando desci, havia um desconhecido junto aos meus amigos. Um desconhecido que logo virou conhecido, e era simpático. Mais pessoas foram chegando, e eu estava com medo de que a festa ficasse segregada, que as pessoas não se misturassem, que tudo desse errado. Não deu. Fantasias, conversas, doses e mais doses da groselha batizada. De vodka. Insônia. Tapas. E beijos. Muitos beijos. Tontura. Beijo. Em todos. Todos merecem o meu amor. Música. Risos, muitos risos. E o prédio tá se mexendo. Juventude perdida é o caralho, eu tenho mu

ENEM e outras desgraças

Nove da manhã. Levanto da cama, tomo banho nas pressas. Por que eu não tenho nenhuma bosta de caneta preta translúcida? Agora vou ter que correr pra o supermercado antes da maldita prova. Ok, 9:30. Dá tempo. Dá? Vai ter que dar. Por que o supermercado tem que ser tão longe? Eu só queria UMA caneta preta, mas tive que comprar um pacote com TRÊS canetas, uma preta, uma azul e uma vermelha. E enfrentar a fila, com o tempo correndo pelos meus dedos. A porcaria da fila de pequenas compras está lotada de pessoas, e dando voltas. - Licença, moça. É que eu vou fazer ENEM, e só preciso comprar essas canetas pra prova, vou pagar em dinheiro, juro que são só cinco minutos, será que eu podia passar na sua frente, por favor? - - Não. - E virou o rosto. Na verdade, não olhou pra o meu rosto. Só murmurou um não indigesto que me fez ficar com a pior impressão do mundo. Fiquei ali, atrás da dita cuja, com raiva. Ela não tinha que me ceder o lugar dela, mas poxa, custava tanto olhar na minha cara pra