Não sei escrever música. Tentei, tive uma carreira decadente, umas poucas pessoas tiveram o infortúnio de ler as coisas que eu tive a audácia de escrever pra serem acompanhadas por um violão. Quase uma afronta a músicos de verdade, por Deus. Mas aprendi que sei escrever em prosa. E de tanto saber escrever em prosa sem invocar falsa modéstia, me perco no assunto. Juro que não vai ser pra você, mas sempre acaba transparecendo. Que dos aspectos da minha vida que estão indo mal no momento (e estes não são poucos, infelizmente)um dos quais eu tenho trabalho de verdade pra engolir é você, eu já sabia. Mas de que adianta jurar que não vou falar nada que me lembre remotamente as coisas que eu sinto, se eu sei que não vou cumprir? A solidão me dói, e qualquer imbecil pode ver. Sinto a necessidade de usar palavras tipo "imbecil", por que expressar minha raiva é tão eu quanto falar dos meus outros sentimentos. Nada do que eu escrevo foge completamente de mim. Nem poderia. Acho que não conseguir escrever bastante há tempos, mostra o quanto eu tenho tentado fugir de mim. Por que o ser está me inquietando. Tenho recorrido a métodos não ortodoxos pra me satisfazer com o presente e com o futuro. Uma coisa que eu não gosto de usar é parágrafo. Gosto de usar aspas, por que nos textos dissertativo-argumentativos, geralmente mostram ironia. Eu gosto de ironia, principalmente quando é ácida. Ironia em textos sérios é acidez disfarçada. Que bom que eu não estou escrevendo nenhum texto sério, nem com nenhum tipo de pretensão pseudo intelectual prepotente. Que saudade que eu tive das palavras fluindo nas pontas dos meus dedos. Não sei se por que eu tenho outras coisas pra fazer, e até escrever um texto totalmente sem sentido é mais interessante do que dever de casa, mas essa coisa sem sentido está me satisfazendo temporariamente com as coisas. Só temporariamente, antes que tudo pare de fazer esse sentido reconfortante.
Eu sobrevivo, eu sobrevivo! Polônia. Tempos difíceis, todas as pessoas consideradas indesejadas estavam indo embora para terras quentes, infestadas com o odor da novidade, do fervor da fuga. A saída sorrateira do país desencontrava amores, despistava amantes. Numa casa, não muito longe do centro de Varsóvia, uma mulher suspirava. Lia e relia a única carta do amado, com o perfume quase se esvaindo do papel, letras borradas das lágrimas que ambos derramaram naquele frágil pedaço de papel, cheio de promessas e saudades. Rosa, tão bela Rosa. Tive que partir, e você sabe minhas motivações. Deixo-lhe com um aperto no peito, beijos em tuas mãos e com dissabores na vida. Prometo-lhe notícias, em breve, da carta que precisas para deixar o país, e vir, finalmente, me encontrar. Ansiosamente, aguardo-te e sonho contigo todas as noites. Porém, a vida nos trópicos está me fazendo bem. Quase não se vê sinal das minhas tosses. Estou empregado, trabalhando na fábrica de alumínio. Moro com mais doi
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