Depois de todos aqueles anos, estavam sentados nas mesmas cadeiras, decidindo pra onde ir. Todos rindo e discutindo como se fosse o maior dos problemas, ou o menor deles. Estavam todos recém saídos do trabalho, ainda com seus ternos, paletós, blazers, saltos, óculos de leitura e cabelo arrumado. A primeira deles estava da forma mais casual possível. Abraçou a carreira de jornalista, portanto podia ostentar as tatuagens de maneira menos discreta. Os saltos eram menos altos, a blusa era menos sisuda, e o cabelo mais desajeitado. A segunda tinha os saltos, a saia social, o blazer pendurado na cadeira, e um sorriso sem batom. Tinha um emprego em que a seriedade era vital, mas assim que saía do escritório era só sorrisos e brincadeiras idiotas, que nem sempre foi. O terceiro usava paletó e gravata o dia inteiro, mas não se sentia confortável com isso. Portanto, o blazer estava jogado na mesa, a gravata pendurada na cabeça, e ria descontroladamente. Estava com um bebê nos braços, e fazia de tudo para encantá-lo constantemente. O quarto usava seus óculos com certa seriedade, cara que geralmente fazia quando estava prestando atenção em alguém, no intuito de fazer algum tipo de brincadeira chata, que eram o seu forte. Ainda estava com toda a roupa do escritório, mas reclamava de calor a cada cinco minutos. Era um chato sempre que possível, mas sempre estava lá quando preciso. O quinto estava de calça jeans, camisa social, e tênis. Tinha jogado as roupas mais sérias no carro, e no momento estava discutindo com alguém por telefone. Tinha um sorriso vitorioso no rosto, daqueles que dá vontade de arrancar com as unhas. A sexta estava sentada em cima da mesa, cortando papel em cima da sua saia. Como seguira carreira no ramo do direito, estava excessivamente arrumada, mas parecia uma criança, roendo o esmalte (era sexta feira), picotando papel, e com o coque meio solto, ao mesmo tempo compenetrada na atividade secundária, e na conversa. A sétima estava ironizando um dos meninos, enquanto ele estava no telefone. Com seu blazer claro e um vestido preto por baixo, parecia fantástica. O cabelo solto e já comprido, as unhas bem feitas, e as cadeiras meticulosamente arrumadas. O nono e o décimo estavam discutindo algum videogame, e rindo. Um deles com roupa de trabalho, outro com roupa de ficar em casa. O décimo primeiro contava piadas sem graça, que eram menos levadas a sério quando ele estava, também, com uma gravata na cabeça. Os primos se matavam de rir, e se batiam a cada dois segundos. Esse grupo inusitado de pessoas constituía o mesmo grupo há mais de dez anos. Com as mesmas risadas, com as mesmas brincadeiras, com as mesmas pirraças. Não havia maior amor que isso. Cada um tinha seus filhos, seus cônjuges, suas casas. Mas sempre se encontravam nas noites de sexta, apesar dos trabalhos cansativos, das obrigações diárias, sempre havia tempo pra um jogo no videogame, um filme no cinema, uma budweiser no bar.
Eu sobrevivo, eu sobrevivo! Polônia. Tempos difíceis, todas as pessoas consideradas indesejadas estavam indo embora para terras quentes, infestadas com o odor da novidade, do fervor da fuga. A saída sorrateira do país desencontrava amores, despistava amantes. Numa casa, não muito longe do centro de Varsóvia, uma mulher suspirava. Lia e relia a única carta do amado, com o perfume quase se esvaindo do papel, letras borradas das lágrimas que ambos derramaram naquele frágil pedaço de papel, cheio de promessas e saudades. Rosa, tão bela Rosa. Tive que partir, e você sabe minhas motivações. Deixo-lhe com um aperto no peito, beijos em tuas mãos e com dissabores na vida. Prometo-lhe notícias, em breve, da carta que precisas para deixar o país, e vir, finalmente, me encontrar. Ansiosamente, aguardo-te e sonho contigo todas as noites. Porém, a vida nos trópicos está me fazendo bem. Quase não se vê sinal das minhas tosses. Estou empregado, trabalhando na fábrica de alumínio. Moro com mais doi
Comentários
Postar um comentário