Mesmo que não acredite, em conto de fada, em beijo de filme, tem que haver alguém nesse mundo que não te despreze, que não te repulse
Estava sentado em um banquinho meio decrépito que estava mais para lá do que para cá. Suspirava incansavelmente. Coração na mão, que nem sempre esteve. Meio esquisito de segurar, mas não cabia mais no peito. Nunca coube de fato. Não sabia se era grande, ou se o buraco em que devia estar que era pequeno. Mesmo reduzido a pó, ainda era pó demais para se alojar. Observar o entardecer sentado naquele banquinho não parecia ser tão ruim. Ficava pensando nos highlights da vida, nas coisas que fizeram da sua vida interessante. Eram menores que as coisas que a fizeram desinteressante. De uma forma ou de outra, era de seu próprio interesse ser discreto. Sempre foi. Não tinha uma autoestima de dar inveja, não teve muitas namoradas, nem fez muito sexo. Na escola, sentava com um caderno e uns amigos no intervalo. No trabalho, preferia beber seu café sozinho. Nas noites de sexta, ia ver o jogo na casa de algum amigo, ou tocava violão em algum bar com a antiga banda de colégio. É, era uma pena que as coisas tivessem que ser tão breves. A distância pode arruinar as coisas de formas interessantes, por caminhos que você nunca enveredaria se não tivesse esse peso ao seu lado. De repente, se foi. Ela se foi, e o eles partiu. Só ele ficou, contemplando o vazio. Por muito tempo, tudo que restou na casa vazia foi ele e o gato chamado Steve. Só as marcas que o fizeram jurar nunca mais repetir. Se encontrasse oportunidade, se tivesse como, se pudesse achar quem fizesse jus, será que o faria? Quando ela aparecesse, será que deixaria entrar? Apesar de todos os poréns, todos as possíveis objeções, todos os defeitos, deixaria entrar? Magra ou não, esquiva e quem sabe a resposta pra alguma pergunta não proferida? Que haverá de fazer? Ela, apaixonada, se pergunta se isso seria possível , e determina tanto quanto ele determinou outras coisas antes, resolveu cair do penhasco, sem saber se haveria alguém para impedir a queda. Assim que ela sempre se machucava, sangrava e cortava, mas queria mais. Queria se dar de corpo pra alguém que tivesse condições de cuidar. Ou pelo menos de estar lá, de espírito, perguntando besteiras ao longo da madrugada. Queria mais do que chorar, queria você.
Eu sobrevivo, eu sobrevivo! Polônia. Tempos difíceis, todas as pessoas consideradas indesejadas estavam indo embora para terras quentes, infestadas com o odor da novidade, do fervor da fuga. A saída sorrateira do país desencontrava amores, despistava amantes. Numa casa, não muito longe do centro de Varsóvia, uma mulher suspirava. Lia e relia a única carta do amado, com o perfume quase se esvaindo do papel, letras borradas das lágrimas que ambos derramaram naquele frágil pedaço de papel, cheio de promessas e saudades. Rosa, tão bela Rosa. Tive que partir, e você sabe minhas motivações. Deixo-lhe com um aperto no peito, beijos em tuas mãos e com dissabores na vida. Prometo-lhe notícias, em breve, da carta que precisas para deixar o país, e vir, finalmente, me encontrar. Ansiosamente, aguardo-te e sonho contigo todas as noites. Porém, a vida nos trópicos está me fazendo bem. Quase não se vê sinal das minhas tosses. Estou empregado, trabalhando na fábrica de alumínio. Moro com mais doi
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