Girou para o lado contrário dessa vez. Bateu de encontro com a porta aberta. Gemeu de dor em uma sintonia diferente. Gritou. Caiu no chão, em pedaços. Desespero.As últimas notas da música ainda retumbavam nas paredes brancas. E ainda ressoavam insistentemente nos seus ouvidos. Tampava-os. Respiração descompassada. Tremeu. Batia a cabeça no piano, tentando arrancar mais notas ou talvez alguma significância. Foi em vão. Tudo foi em vão. Ela era em vão. Estava girando, girando, girando, girando, girando. O coração lutava pra sair do peito. Batia com uma força impressionante, machucando ela por dentro. Ultimamente tudo a machucava. As pessoas apontavam dedos acusatórios, ela apontava pra si mesma no espelho, a sua imagem fazia com que quisesse vomitar. Enquanto girava, caiu. Caiu em cima do tornozelo, quebrou. E um grito de dor lancinante percorreu todo o caminho até a sua boca, mas voltou. Voltou de teimoso. Ela não era de desistir, mas dessa vez estava cansada demais pra continuar. Deixou-se levar pela dor, prazerosa dor. Quando conseguiu levantar, caiu de novo, e deixou-se tomar pela dor de novo. E de novo, e de novo, e de novo, e de novo, e de novo. Deixou-se tomar pela dor de dentro e de fora, deixou-se perder e enlouquecer dentro e fora. E de novo, e de novo, e de novo, e de novo. Caiu pela terceira e última vez.
“Som de tapa seguido de um longo e sofrido suspiro. Cortinas abrem, Brenda caída no chão.” BRENDA: Do meu pranto, veio a lágrima. Da lágrima, verteu o sofrer. Qual diferente sina me aguarda? Hei de contar-lhes minha história, hei de vencer o porvir. O futuro, tão incerto, mas quem sabe menos sofrido que o presente viver. “Brenda sai, entra Artur” ARTUR: Que fúnebre entardecer. O objeto que me desperta fúria é o mesmo que me desperta o amor. Que hei de fazer? Pobre de mim, que amo, mas não sei fazê-lo. “Anda até a cama, onde encontra uma camisola antiga de Brenda. Pega a camisola e a abraça” ARTUR: Minha amada! Que saudades guardo de ti, no meu pequeno coração. Pobre de mim, pobre de ti. “Sai Artur, deixando a camisola em cima da penteadeira. Entra Helô” HELÔ: Sempre há o que se arrumar! Só discutem, sempre há um pormenor! Vinte anos vivendo sob os mesmos fantasmas. Tenha piedade, Deus. “Helô dobra a camisola e deposita em cima do travesseiro. Sai Helô. Entram Tomás e Bia” TOMÁS: Vossa...
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