Acordara de ressaca no dia seguinte. As coisas pareciam meio erradas, meio incertas. Não sabia por que. Estendeu a mão até o parapeito da janela e olhou as horas no celular. Dez e dez. Que grande mentira, “junto de ti está quem tu ama”. Levantou-se com dificuldade da cama, e fora lavar o rosto. Tirou toda a maquiagem, e sentou-se no chão. Tentava com afinco lembrar-se do que acontecera na noite anterior. Nada vinha-lhe completamente a cabeça. Só flashes. Voltou para o quarto, e agradeceu aos céus pelo tempo. Estava chuvoso. Não precisaria se preocupar em usar óculos escuros, nem com a piora da dor de cabeça. Não se preocupou em vestir mais nada que não estivesse usando. Estava vestida com uma blusa enorme, com a estampa do coliseu. Seu pai havia trazido para ela quando estivera em Roma. Deitou-se novamente na cama, e lembrou-se de algumas coisas. De como ela queria beijá-lo, de quantos copos de vodka ela bebera, de conversas esparsas e aleatórias escolhidas, de pessoas novas, de pessoas conhecidas, de amigos. Lembrou-se de pontadas de dor ferroando-lhe por dentro. E lembrou-se de como as escondia bem. Lembrou-se de como algumas coisas pareceram desastres, e de como não foram tão desastrosas. Precisava de veredictos. De quem, ela sabia muito bem. Será que tinha dado certo? Será que ela conseguira? Não sabia, e a incerteza a abalou do jeito que sempre abalava. Levantou-se e foi em direção ao quarto. Deitou-se na cama, e deixou-se vagar por lugares conhecidos e desconhecidos de sua mente. Não queria estar acordando ali. Queria estar em outro lugar. Uma sensação a comprimia. Ela não sabia por que, como, nem quando a sensação começou. Parecia alojada ali fazia tempo, e poderia ser a origem das ferroadas. Era tudo muito misterioso, incerto. Talvez misterioso não fosse bem a palavra. Ela queria estar no mesmo recinto que todos os seus amigos. Ela queria estar festejando. Queria estar livre. Liberdade. Era isso que ela queria. Queria poder ir pra o shopping com seus amigos. Queria poder ir pra casa deles quando bem entendesse. Queria poder ir a praia, por mais que a detestasse. Queria ser jovem, porra. Só se é adolescente uma vez. E ela estava esquecendo como era a sensação. Por vezes perdia-se em quem era, e demorava a retornar a superfície. Ia-se de um modo quase surreal, e voltava a si repentinamente, insanamente. Queria que esse desespero passasse. Essa clausura. Sentia saudades das festas. Sentia saudade daquele cheiro de gordura dos shoppings, do ar condicionado impregnado de vírus. Sentia falta do burburinho das pessoas, dos abraços, da atmosfera lotada de seres tão incertos quanto ela, de várias mentes pensando como uma só. De tanta gente querendo a mesma coisa, do mesmo modo, mas mesmo assim, sendo completamente diferente, tão perdidos quanto todos, tão únicos quanto uns.Incontáveis mentes perturbadas. Simples de um modo complicado. Sentia falta disso. Queria ele. É, ela também o queria. Mais do que podia suportar. Mais do que podia prever. Porra. Sentia sangrar. Por dentro. Sentia dor. Aquela imensa dor, do que podia acontecer. Medo. Também sentia medo. E receava por não ter coragem. Queria mostrar. Não sabia como. Não sabia se podia. Queria quebrar as regras, mas talvez estivesse tarde demais pra isso. Chorava. A angústia pesava em Lorraine. Mais angústia do que ela podia suportar. Restava-lhe agora dormir. E foi o que fez. Sonhou consigo e com ele. Sonhou e deixou que ela se apoderasse de si mesma. Enfim dona de si. Presa em si.
Acordara de ressaca no dia seguinte. As coisas pareciam meio erradas, meio incertas. Não sabia por que. Estendeu a mão até o parapeito da janela e olhou as horas no celular. Dez e dez. Que grande mentira, “junto de ti está quem tu ama”. Levantou-se com dificuldade da cama, e fora lavar o rosto. Tirou toda a maquiagem, e sentou-se no chão. Tentava com afinco lembrar-se do que acontecera na noite anterior. Nada vinha-lhe completamente a cabeça. Só flashes. Voltou para o quarto, e agradeceu aos céus pelo tempo. Estava chuvoso. Não precisaria se preocupar em usar óculos escuros, nem com a piora da dor de cabeça. Não se preocupou em vestir mais nada que não estivesse usando. Estava vestida com uma blusa enorme, com a estampa do coliseu. Seu pai havia trazido para ela quando estivera em Roma. Deitou-se novamente na cama, e lembrou-se de algumas coisas. De como ela queria beijá-lo, de quantos copos de vodka ela bebera, de conversas esparsas e aleatórias escolhidas, de pessoas novas, de pessoas conhecidas, de amigos. Lembrou-se de pontadas de dor ferroando-lhe por dentro. E lembrou-se de como as escondia bem. Lembrou-se de como algumas coisas pareceram desastres, e de como não foram tão desastrosas. Precisava de veredictos. De quem, ela sabia muito bem. Será que tinha dado certo? Será que ela conseguira? Não sabia, e a incerteza a abalou do jeito que sempre abalava. Levantou-se e foi em direção ao quarto. Deitou-se na cama, e deixou-se vagar por lugares conhecidos e desconhecidos de sua mente. Não queria estar acordando ali. Queria estar em outro lugar. Uma sensação a comprimia. Ela não sabia por que, como, nem quando a sensação começou. Parecia alojada ali fazia tempo, e poderia ser a origem das ferroadas. Era tudo muito misterioso, incerto. Talvez misterioso não fosse bem a palavra. Ela queria estar no mesmo recinto que todos os seus amigos. Ela queria estar festejando. Queria estar livre. Liberdade. Era isso que ela queria. Queria poder ir pra o shopping com seus amigos. Queria poder ir pra casa deles quando bem entendesse. Queria poder ir a praia, por mais que a detestasse. Queria ser jovem, porra. Só se é adolescente uma vez. E ela estava esquecendo como era a sensação. Por vezes perdia-se em quem era, e demorava a retornar a superfície. Ia-se de um modo quase surreal, e voltava a si repentinamente, insanamente. Queria que esse desespero passasse. Essa clausura. Sentia saudades das festas. Sentia saudade daquele cheiro de gordura dos shoppings, do ar condicionado impregnado de vírus. Sentia falta do burburinho das pessoas, dos abraços, da atmosfera lotada de seres tão incertos quanto ela, de várias mentes pensando como uma só. De tanta gente querendo a mesma coisa, do mesmo modo, mas mesmo assim, sendo completamente diferente, tão perdidos quanto todos, tão únicos quanto uns.Incontáveis mentes perturbadas. Simples de um modo complicado. Sentia falta disso. Queria ele. É, ela também o queria. Mais do que podia suportar. Mais do que podia prever. Porra. Sentia sangrar. Por dentro. Sentia dor. Aquela imensa dor, do que podia acontecer. Medo. Também sentia medo. E receava por não ter coragem. Queria mostrar. Não sabia como. Não sabia se podia. Queria quebrar as regras, mas talvez estivesse tarde demais pra isso. Chorava. A angústia pesava em Lorraine. Mais angústia do que ela podia suportar. Restava-lhe agora dormir. E foi o que fez. Sonhou consigo e com ele. Sonhou e deixou que ela se apoderasse de si mesma. Enfim dona de si. Presa em si.
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