"And I will be, all that you want, 'cause you keep me from falling apart"
Nada. Era tudo o que Coral via. Nada. O vazio comprimia seu estômago, acentuando a dor crônica que a incomodava faziam alguns dias. Nada de novo, pra falar a verdade. Coral prosseguiu com sua dor descomunal, no branco dos olhos. Nada a podia impedir, e finalmente podia fazer o que sempre quis, desapaixonar. Coral preferia a abstinência, disso podíamos todos ter certeza, mas apaixonou-se. Louca e profundamente, sem um caminho de volta. Nada que ela queria pra si, somente a infame desgraça de um novo amor, como um novo caderno, virgem, pronto pra ser escrito e pintado da forma que ela queria. Podia-se deixar mergulhar de cabeça, mas não queria. O mergulho imbossibilitaria a si de andar livremente, como algemas, as quais nunca gostou. Ao pé do trampolim, escolhia se ia ou ficava. Trajando sua roupa de banho, e tremendo devido ao frio gélido e a grande escolha que estava prestes a fazer. Nunca favoreceu o amor. Deixou-se cair. Na queda rumo ao nada, descobriu-se e descobriu o tal. Nada de que ele fez expressava que ela deveria atirar-se. Algumas promessas inalvansaveis, alguns beijos trocados. Ambos não são compromissos. E ela continuava caindo na mesmice, deixando o quanto conhecia do mundo pra trás. Não que o conhecesse o suficiente, apenas o quanto uma menina de quinze anos podia conhecer. Conheceu um amor, o qual a fez sofrer. Nada que a pudesse preocupar. Nada que a pudesse afetar. Como se enganara. Coral agora está em cinzas. Coral agora não quer mais nada, Coral quer descansar. Nada que um descanso eterno não a providencie, e na queda, Coral pensa nisso. Era realmente uma grande queda. Ela lembrou-se da cor dos olhos dele, e comprimiu os seus em busca de consolo. Achou a fragrância de seu perfume, a qual impregnava a blusa que ela usava. Foi mais funde dentro de si, e achou algumas lembranças. Não as melhores delas, mas ainda sim lembranças. Ele arranjou uma namorada, ele deu coisas pra ela, ele encontrou um amor que não era ela. Aprofundou-se pra antes disso. Ele sempre estivera ali. Por que só fora notar quando já era tarde de mais? Ou será que nunca tinha sido cedo, no fim das contas? O vento gélido enchia suas narinas. O chão estava próximo. Via nitidamente pontinhos de luz se moverem rapidamente em direções opostas, levando consigo formiguinhas no seu interior. Coral estava cansada de esperar o impacto. Lembrou-se de quando brigara com sua amiga. Ele estivera lá. Lembrou-se de quando caiu no asfalto. Ele estava lá. Ele sempre esteve lá. Até nos momentos mais irrelevantes da existência monótona dela, ele sempre esteve lá. Duas da manhã, de cuecas de coraçõezinhos, ele atendia a campanhinha, e ela entrava aos prantos. Até que ele fazia chocolate quente e eles riam de tudo aquilo. Dezoito, tinha ele. As coisas mudaram quando ele começou a namorar, e ela a achar a namorada um incomodo e vice-versa. Ambos cegos de amor, separam-se. Separações quebram corações. O de Coral quebrou. E agora sua espinha dorsal também. Junto com seu crânio. Talvez apareça no jornal. Mas o mais importante é que ele nunca saberá que a queda foi por ele, e só por ele. O prédio de quarenta andares. Tudo por ele. E ele nunca saberá. Talvez nunca nem saiba que Coral morreu. Mas de uma coisa Coral teve certeza antes de seus ossos cederem e o cérebro finalmente parar de funcionar: O seu coração já tinha parado de bater muito antes.
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