Hoje faz uma semana e dois dias que o nosso romance acabou.
Nessa uma semana e dois dias, não fiz nada do qual eu possa me sentir particularmente orgulhosa. Passei esse tempo oscilando entre afastar a dor das mais diversas maneiras, saudáveis ou não. Em alguns momentos eu fui vitoriosa. Em alguns momentos eu consegui afastar o sentimento de que um pedaço de mim foi arrancado violentamente do meu corpo, um pedaço não necessariamente essencial, mas que está sendo muito difícil de viver sem. No dia que o nosso romance acabou, eu inclusive cheguei a desejar que meu braço tivesse sido de fato arrancado.
A dor, apesar de interna e intangível, se alojou entre as minhas costelas, apertando-as muito forte contra meus órgãos internos.
Nunca achei que respirar fosse atividade opcional, mas durante os primeiros dias, foi. Com as minhas costelas apertando meus órgãos internos, respirar era difícil e eu tenho absoluta certeza de que em alguns momentos, apesar do ar ser indispensável para existência humana, fiquei sem respirar.
Hoje, apesar das constantes pontadas no peito, consigo respirar. Com dificuldade, mas consigo.
Passei todos esses dias entre um cigarro e outro, entre um copo de cerveja e uma taça de vinho, encarando o anel que você me deu aquele dia que fomos naquele bar que fomos diversas vezes, que faz par com o anel que você comprou pra você mesma, mas que nunca usou por muito tempo por que anéis te incomodam um pouco.
Passei todos os dias depois do terceiro lutando contra o choro que se acumula dentro de mim, fugindo dos mais diversos sentimentos de saudade e das mais diversas lembranças de coisas quaisquer que fazem caminho dentro de mim.
Lembrei do dia que tivemos nosso primeiro encontro, sobre como você me contou a posteriori que estava tão nervosa que quase desistiu de ir, de que ficamos no lugar até sermos as últimas lá, e você veio me deixar em casa, com a promessa de que assistiríamos o musical do rei leão no próximo encontro, com um beijo de despedida e meu coração que pulou um batimento.
Nós nunca assistimos o musical do rei leão. Tiveram muitas coisas que ficamos de fazer depois, e nunca fizemos. Ficamos de combinar aquela saída com seu amigo, ex daquele outro amigo e nunca marcamos. Ficamos de ir em tantos restaurantes, fazer tantas viagens, encontrar tantas pessoas, experimentar tantas comidas. Tem aquele caldo de legumes que eu fiz, congelado, pra quando fôssemos fazer risoto juntas, ainda no meu freezer.
E não só as coisas que deixamos de fazer que tem me assombrado, sabe? Todas as coisas que chegamos a fazer também ficam abrindo espaço na minha cabeça e me tirando a paz.
O fato é que você estava entranhada em todos os aspectos da minha vida. Você me ajudou a fazer minha mudança, e a primeira vez que você disse que me amava foi quando estávamos deitadas juntas na minha cama, no meio do caos da mudança, só você e eu, e você não só disse que me amava, mas passou a tarde demonstrando enquanto colocava todas as minhas coisas no lugar. Você me ajudou a encontrar o apartamento que eu moro nesse momento. A planta que você me deu provavelmente continua viva, e eu não sei se continua por que faz uma semana e dois dias que não piso em casa, mas eu prometo que jamais foi minha intenção matá-la, apesar de eu não ser a melhor mãe de planta que pode existir.
A vela que você me deu ainda está na minha mesa de cabeceira, o anel ainda está no meu dedo, as fotos que você tirou de mim ainda estão no meu feed do instagram, as blusas que você esqueceu lá em casa e que eu usava pra dormir estão no fundo da minha cômoda... Você foi embora da minha vida, mas todas as coisas que a gente trocou estão aqui.
O dia que a gente fugiu pra fazenda, a vez que fomos pra casa de praia daquela minha amiga, os mapas astrais de personas bíblicas, a primeira vez que eu dormi ao seu lado, todos os amigos que você me apresentou, todas as refeições que fizemos juntas (quer as tivéssemos preparado juntas ou não), todos os momentos que você me abraçou, e beijou, e disse que me amava e me assegurou que tudo ia ficar bem, todas essas coisas perpassam minha cabecinha cansada de sentir saudades.
Eu sei que só faz uma semana e dois dias, e que com o tempo, talvez eu me acostume melhor com meus sentimentos. Talvez eu me acostume de verdade à ideia de que não vamos nos reencontrar, ao invés apenas de dizer para todo mundo que eu não estou me pendurando em ideia alguma sobre você, que não penso que talvez nós pudéssemos tentar de novo. Talvez nesse tempo eu consiga me acostumar com a ideia de que você vai se encontrar numa vida nova longe de mim, que vai, algum dia, quando você estiver melhor, encontrar outra pessoa pra te fazer feliz. Talvez eu também encontre outra pessoa que me faça feliz. E essas pessoas podem nos fazer feliz de maneiras diferentes das quais eu te fiz feliz e das quais você me fez feliz. Talvez eu já tenha conseguido parar de repetir comportamentos auto destrutivos até lá. Talvez, no futuro, nós duas possamos até manter o ocasional contato, pra saber da vida uma da outra.
Nesse momento no qual estou aqui, sentada no computador de outra pessoa, ainda sem ter feito nenhuma refeição além dos vários cigarros, apesar de já serem quatro da tarde, eu tenho que admitir que tudo ainda dói bastante. Que tudo revolve dentro de mim todos os dias, e que o peso de acordar de manhã é difícil demais, por que tudo parece bem por mais ou menos cinco segundos antes de eu me lembrar que a gente acabou. Que eu estou tentando manter minha cabeça ocupada, que eu estou tentando todos os dias não digitar nas teclas do celular que me aproximam de você, apesar de querer desesperadamente mandar uma mensagem e dizer que sinto sua falta, e que estou esperando que você sinta o mesmo, ou ao menos o suficiente pra me mandar uma mensagem.
Hoje está sendo meu primeiro dia de sobriedade total desde que a gente acabou. Nenhum copo cheio de bebida alguma, nenhum cigarro de artista, só minha perna inquieta, meu coração apertado e meus sentimentos patéticos.
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