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Mostrando postagens de junho, 2012

O Melhor Da Vida É Isso E Ócio

Depois de todos aqueles anos, estavam sentados nas mesmas cadeiras, decidindo pra onde ir. Todos rindo e discutindo como se fosse o maior dos problemas, ou o menor deles. Estavam todos recém saídos do trabalho, ainda com seus ternos, paletós, blazers, saltos, óculos de leitura e cabelo arrumado. A primeira deles estava da forma mais casual possível. Abraçou a carreira de jornalista, portanto podia ostentar as tatuagens de maneira menos discreta. Os saltos eram menos altos, a blusa era menos sisuda, e o cabelo mais desajeitado. A segunda tinha os saltos, a saia social, o blazer pendurado na cadeira, e um sorriso sem batom. Tinha um emprego em que a seriedade era vital, mas assim que saía do escritório era só sorrisos e brincadeiras idiotas, que nem sempre foi. O terceiro usava paletó e gravata o dia inteiro, mas não se sentia confortável com isso. Portanto, o blazer estava jogado na mesa, a gravata pendurada na cabeça, e ria descontroladamente. Estava com um bebê nos braços, e fazia de

Solidão Não Cura Com Aspirina

Um dia desses, em um show cover interessante na Ribeira, eu vi um cara. Na verdade, depois de um show na Ribeira, do lado de fora do Dosol, ouvindo Metallica. Enquanto eu assistia esse cara, uma história engraçada se desenrolava ao meu lado. Mas o desenrolar dessa outra história não interfere na primeira, só serviu pra situar as pessoas que não estiveram lá. É importante frisar que a rua do Dosol é uma rua apertada, de paralelepípedos, com cheiro pungente de urina, lotada de pessoas semi bêbadas, com seus cigarros nas mãos e suas caras de indiferença, tentando parece legais a todo custo. Tem aqueles ambulantes que vendem cigarros de péssima qualidade a preços exorbitantes, bebidas sujas, e esqueiros. Lotada de bares e casas de shows, que apresentam peças e shows do interesse dessas pessoas, algumas fingindo gostar e outras suadas e nojentas, com sorrisos imensos, apesar das roupas pretas que não oferecem nenhum tipo de receptividade. Essa é a Rua Chile. Enquanto o show se desenrolava l

Wonderful Tonight

Ontem, em um surto de raiva total e insana, a procura do quimono pra o judô, eu joguei todas as roupas do meu armário no chão. Achei o quimono, e na pressa pra sair de casa, larguei tudo como estava. Quando voltei, mais tarde, suada e nojenta, tomei um banho. E as roupas continuaram jogadas no chão. Antes de dormir, depois de um trabalho particularmente difícil de sociologia, catei as roupas do chão e as joguei de qualquer forma no armário, torcendo pra que eu não me sentisse incomodada pela manhã, quando meu cansaço fosse menor. Pela manhã, quando fui procurar meu uniforme, já atrasada pra o colégio, vi a bagunça que eu tinha deixado pra trás. Resolvi que arrumaria depois da escola. Cheguei em casa tão ensopada do banho de chuva que tomei, que não arrumei nada. Tirei a roupa que eu estava usando, tomei um banho, almocei e rumei de volta pra escola. Quando voltei pela segunda vez da escola, ignorei o armário e dormi. A noite, percebi que estava com uma das unhas pintadas descascando. Q

O Eles Partiu

Mesmo que não acredite, em conto de fada, em beijo de filme, tem que haver alguém nesse mundo que não te despreze, que não te repulse Estava sentado em um banquinho meio decrépito que estava mais para lá do que para cá. Suspirava incansavelmente. Coração na mão, que nem sempre esteve. Meio esquisito de segurar, mas não cabia mais no peito. Nunca coube de fato. Não sabia se era grande, ou se o buraco em que devia estar que era pequeno. Mesmo reduzido a pó, ainda era pó demais para se alojar. Observar o entardecer sentado naquele banquinho não parecia ser tão ruim. Ficava pensando nos highlights da vida, nas coisas que fizeram da sua vida interessante. Eram menores que as coisas que a fizeram desinteressante. De uma forma ou de outra, era de seu próprio interesse ser discreto. Sempre foi. Não tinha uma autoestima de dar inveja, não teve muitas namoradas, nem fez muito sexo. Na escola, sentava com um caderno e uns amigos no intervalo. No trabalho, preferia beber seu café sozinho. Nas

Você só tá querendo paz

Não sei escrever música. Tentei, tive uma carreira decadente, umas poucas pessoas tiveram o infortúnio de ler as coisas que eu tive a audácia de escrever pra serem acompanhadas por um violão. Quase uma afronta a músicos de verdade, por Deus. Mas aprendi que sei escrever em prosa. E de tanto saber escrever em prosa sem invocar falsa modéstia, me perco no assunto. Juro que não vai ser pra você, mas sempre acaba transparecendo. Que dos aspectos da minha vida que estão indo mal no momento (e estes não são poucos, infelizmente)um dos quais eu tenho trabalho de verdade pra engolir é você, eu já sabia. Mas de que adianta jurar que não vou falar nada que me lembre remotamente as coisas que eu sinto, se eu sei que não vou cumprir? A solidão me dói, e qualquer imbecil pode ver. Sinto a necessidade de usar palavras tipo "imbecil", por que expressar minha raiva é tão eu quanto falar dos meus outros sentimentos. Nada do que eu escrevo foge completamente de mim. Nem poderia. Acho que não c