Six feet under the stars
Encaixotada. Encapsulada. Trancada. Fechada.
Sentia como se dançasse um balé torto, ao som de uma música qualquer, em uma boate sem nome, no palco da vida. Sempre se sentia assim nas segundas feiras. Um lixo.
Porém, como era obrigada a se arrastar da cama para um dia razoavelmente ensolarado, e que não refletia em nada seu humor matinal, levantou-se. Trajava uma calcinha preta e uma blusa recortada para revelar apenas o necessário. A réstia de luz entrando pela janela semi aberta a perturbava, assim como o calor quase insuportável que fazia naquela manhã.
Lavou o rosto, e amaldiçoou o maldito período menstrual por deixá-la absolutamente intragável aos olhos. Deu um jeito de arrumar quase decentemente o rosto pipocado de espinhas e o cabelo lambido. Despejou comida na tigela do seu cachorro que balançava o rabo atrás dela, e voltou ao quarto para se vestir. Era um antro de coisas não identificadas e desejos reprimidos. Vestiu as roupas de qualquer jeito, colocou os óculos de sol grandes demais pra o seu rosto e saiu, rumo ao incessante e causticante sol daquela maldita cidade.
Apanhou um cigarro na bolsa enquanto andava vagarosamente para a faculdade. Fumou dois cigarros e tossiu o caminho inteiro, cantarolando uma música qualquer que estava presa na sua cabeça desde o final de semana.
O final de semana. Tinha vagas lembranças do que fez, de quem fez. Só sabia que tinha sido mais um na lista da infinidade de finais de semana que ainda ia ter na vida. Todos pareciam essencialmente os mesmos, sempre fazia as mesmas coisas, com as mesmas pessoas, e sempre acordava no outro dia com uma vaga noção do que a cercava e do que havia feito.
O celular vibrava freneticamente na bolsa.
Ela, por outro lado, não vibrava por dentro.
Chegou na sala de aula, fedendo a cigarro. Os outros ao seu redor pareciam imersos no estado catatônico habitual.
Merda, quem é aquele acenando pra ela do outro lado da sala?
Ah. O show. Aquele cara. Bonitinho, mas ordinário. Como podia ser tão burra? Justo com aquele cara bonitinho que estudava com ela. Por que não qualquer outro desconhecido?
Quando a aula acabou, ela levantou agradecendo aos deuses. E desejando sua cama.
Saiu com as amigas, e pediu pela sexta.
Sexta era dia de começar a ficar dormente. Dormente por um final de semana, dormente por uma vida mais interessante. Dormente da vida. Doente da vida. Suspirava. Algo incomodava seu coração, e ela sabia o que era. Desejou que fosse ataque cardíaco, mas, infelizmente, ela sabia o que era. Bem mais sério que arritmia e que seu coração parando de repente. Não importava que o coração parasse. Seria indolor, rápido e fácil. Como desligar um botão. Um botão que ela ansiava por desligar.
Apertada. Encaixada. Presa.
Quem é você no balé sinistro da vida?
Encaixotada. Encapsulada. Trancada. Fechada.
Sentia como se dançasse um balé torto, ao som de uma música qualquer, em uma boate sem nome, no palco da vida. Sempre se sentia assim nas segundas feiras. Um lixo.
Porém, como era obrigada a se arrastar da cama para um dia razoavelmente ensolarado, e que não refletia em nada seu humor matinal, levantou-se. Trajava uma calcinha preta e uma blusa recortada para revelar apenas o necessário. A réstia de luz entrando pela janela semi aberta a perturbava, assim como o calor quase insuportável que fazia naquela manhã.
Lavou o rosto, e amaldiçoou o maldito período menstrual por deixá-la absolutamente intragável aos olhos. Deu um jeito de arrumar quase decentemente o rosto pipocado de espinhas e o cabelo lambido. Despejou comida na tigela do seu cachorro que balançava o rabo atrás dela, e voltou ao quarto para se vestir. Era um antro de coisas não identificadas e desejos reprimidos. Vestiu as roupas de qualquer jeito, colocou os óculos de sol grandes demais pra o seu rosto e saiu, rumo ao incessante e causticante sol daquela maldita cidade.
Apanhou um cigarro na bolsa enquanto andava vagarosamente para a faculdade. Fumou dois cigarros e tossiu o caminho inteiro, cantarolando uma música qualquer que estava presa na sua cabeça desde o final de semana.
O final de semana. Tinha vagas lembranças do que fez, de quem fez. Só sabia que tinha sido mais um na lista da infinidade de finais de semana que ainda ia ter na vida. Todos pareciam essencialmente os mesmos, sempre fazia as mesmas coisas, com as mesmas pessoas, e sempre acordava no outro dia com uma vaga noção do que a cercava e do que havia feito.
O celular vibrava freneticamente na bolsa.
Ela, por outro lado, não vibrava por dentro.
Chegou na sala de aula, fedendo a cigarro. Os outros ao seu redor pareciam imersos no estado catatônico habitual.
Merda, quem é aquele acenando pra ela do outro lado da sala?
Ah. O show. Aquele cara. Bonitinho, mas ordinário. Como podia ser tão burra? Justo com aquele cara bonitinho que estudava com ela. Por que não qualquer outro desconhecido?
Quando a aula acabou, ela levantou agradecendo aos deuses. E desejando sua cama.
Saiu com as amigas, e pediu pela sexta.
Sexta era dia de começar a ficar dormente. Dormente por um final de semana, dormente por uma vida mais interessante. Dormente da vida. Doente da vida. Suspirava. Algo incomodava seu coração, e ela sabia o que era. Desejou que fosse ataque cardíaco, mas, infelizmente, ela sabia o que era. Bem mais sério que arritmia e que seu coração parando de repente. Não importava que o coração parasse. Seria indolor, rápido e fácil. Como desligar um botão. Um botão que ela ansiava por desligar.
Apertada. Encaixada. Presa.
Quem é você no balé sinistro da vida?
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