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Piña Coladas

Eu estava na janela, olhando pra o mar, bebendo uma piña colada e aproveitando a nesga de sol que entrava naquele bar a beira do mar. E minha namorada estava sentada naqueles banquinhos altos, conversando com o bartender. Eu não me importo. Ela resolveu ir pra casa, de táxi, e eu fiquei. Depois de umas outras duas taças de champagne e uma piña colada, eu voltei pra casa. Foda-se se eu não estava no estado de dirigir.
O sol tinha se posto, e eu estava no sofá, lendo um livro incrivelmente chato. Larguei-o na poltrona e fui ver o quarto. Ela estava dormindo um sono pesado. Levantei as sobrancelhas. O relacionamento estava tão desgastado que eu preferi deixar pra lá o convite pra ir jantar no restaurante japônes. Ela provavelmente só ia resmungar e virar pra o outro lado. Voltei pra o sofá. Achei um jornal, do dia que estávamos.
Curioso. Sempre achei aqueles anúncios pessoais engraçados e interessantes. E, de fato, achei um que me encantou.
"Se você gosta de Piña Coladas,
Se você gosta de ser pego pela chuva,
se você não gosta de yoga,
se você tem metade do cérebro.
Se você gosta de fazer amor a meia noite nas dunas do cabo,
Eu sou o amor que você está procurando,
Escreva pra mim e nós escaparemos."
Encantei-me indescritivelmente e resolvi responder o anúncio, apesar de não ser nenhum poeta.
"Sim, eu gosto de piña colada,
E de ser pego pela chuva,
Eu não gosto muito de comida saudável,
Mas eu gosto de Champagne.
Eu vou me encontrar com você ao meio dia,
Em um bar chamado O'Malley,
Onde a gente pode planejar nossa fuga."
Não pensei muito na minha namorada, a mesma que estava deitada na nossa cama e estava comigo por sete anos inteiros. Dane-se. Eu estava começando a ficar fatigado dela.Mandei a carta. Comi um jantar rápido, qualquer coisa que encontrei na geladeira. Dormi no sofá, por não estar com vontade de partilhar a cama de outra pessoa que não fosse a interessante pessoa do anúncio do jornal. Acordei depressa, ainda as oito e meia da manhã. Tomei banho, vesti-me, comi, e fui pra o O'malley, cedo. Onze e meia, eu já estava apreensivo. E que surpresa que eu tive: Era ela. Minha namorada. Entrou no bar confiante, sorrindo, interessada e maquiada, de um modo que eu não a via há tanto. Ela sentou na mesa que o garçom indicou. E, que surpresa: Era a minha. Eu marquei um encontro as cegas com a minha namorada. Enquanto ela podia ter achado totalmente traiçoeiro da minha parte, achou engraçado. E eu também. Então, finalmente, planejamos nossa fuga e fizemos amor a meia noite nas dunas do cabo.

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