Flashes. Todos disparavam na minha cara, como lanternas ofuscantes. Tudo que eu queria era um banho, quente, de banheira. Isso seria possível se os paparazzis me deixassem em paz. Paz. Estava aí uma coisa que eu precisava. Nada melhor do que o anonimato. Por que todo mundo quer ser famoso, afinal? Eu fiquei famosa, mas perdi tudo que me importava de verdade. Meus amigos, familiares, e principalmente você. Os perdi indefinidamente, e infelizmente não sabia como voltar. Aos teus abraços, aos teus beijos e ao teu carinho. Nada disso valia. Eu jogaria tudo pro alto por um simples aceno teu. Mas agora não conseguia falar contigo. E não querias falar comigo. Não depois do modo como eu o humilhei. Indiretamente, mas humilhei. Aqueles rumores jamais deveriam ter ido parar nas revistas. Estúpido concurso. Se eu não tivesse me inscrito nele, jamais teria me separado de ti. Confesso que viver sobre os holofotes não me apetece mais. Nada me apetece mais sem você. Aquele concurso de escrita foi minha passagem pra fama, uma fama que estava durando. E que estava prolongando minha espera por você. Não o quero perder. Não para sempre. O para sempre é um tempo muito longo. Um fã abraçou-me, e eu não o repeli. No dia seguinte, encarei tua cara encolerizada a me fitar. Eu não o estava traindo, mas não era o que todos diziam. E num furor, foi-se embora e não quis mais voltar. Agora encaro isso tudo como um pesadelo, dolorido, que se recusa a acabar. Encontrei-me sem ti, sozinha na banheira da minha nova cobertura,na Rolls Road. Não sabia como havia encontrado esse apartamento, mas era uma alegria dividi-lo contigo. Agora é um pesar abri-lo a noite, escuro e vazio, imerso no silêncio do negrume e nos barulhos da inquietude da noite. Com um copo de champagne e um banho quente, encerrava os olhos em desespero, em uma breve sonolência que eu me permitia todas as noites. Ou as vezes não conseguia fechar os olhos, doía-me o coração. Nas cinzas manhãs, típicas em Londres, eu saia pro trabalho. Naquele dia, houve algo especial. Um funcionário novo. Uma nova face a estudar e se acostumar ao longo do dia. E era você. Por mais que estivéssemos separados agora, não pude evitar de sorrir. Não sei se estava vendo, ou estava simplesmente ignorando. O fato é que aquela felicidade repentina, aquela alegria clandestina, nada podia arrancar-me aquilo. Passaram-se alguns dias, dias novos, menos cinzas ao meu ver, cheios de gente ainda querendo saber da minha vida, mas elas já estavam esquecidas, e até os flashes matinais eram rotina, uma rotina que eu tinha que encarar pra te ver. No final de teu terceiro dia no jornal, eu estava andando pra casa, e como de praxe, pararam-me e encheram-me de perguntas. Eu respondi algumas, e tentei seguir em frente. Mas do outro lado da rua, eu vi você. Ignorando a voz que me dizia pra parar, eu fui. E espero que não tenha perdido a ti.
Eu sobrevivo, eu sobrevivo! Polônia. Tempos difíceis, todas as pessoas consideradas indesejadas estavam indo embora para terras quentes, infestadas com o odor da novidade, do fervor da fuga. A saída sorrateira do país desencontrava amores, despistava amantes. Numa casa, não muito longe do centro de Varsóvia, uma mulher suspirava. Lia e relia a única carta do amado, com o perfume quase se esvaindo do papel, letras borradas das lágrimas que ambos derramaram naquele frágil pedaço de papel, cheio de promessas e saudades. Rosa, tão bela Rosa. Tive que partir, e você sabe minhas motivações. Deixo-lhe com um aperto no peito, beijos em tuas mãos e com dissabores na vida. Prometo-lhe notícias, em breve, da carta que precisas para deixar o país, e vir, finalmente, me encontrar. Ansiosamente, aguardo-te e sonho contigo todas as noites. Porém, a vida nos trópicos está me fazendo bem. Quase não se vê sinal das minhas tosses. Estou empregado, trabalhando na fábrica de alumínio. Moro com mais doi
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