tag:blogger.com,1999:blog-52550222516701606562024-03-13T23:20:34.607-07:00Ainda à ProcuraBianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.comBlogger209125tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-68301265219378492512022-03-28T14:11:00.003-07:002022-03-28T14:13:15.264-07:00Eu Vejo Tudo Enquadrado<p> agonia sem nome no peito. coisas que não sabia nome, sabia sentir o sentido dos sentimentos. jorrava sentimentos esparsos e cansados, temerosos.</p><p>talvez ressentia ter que ficar enjaulada dentro de várias coisa e dentre elas a doença. a cabeça pesava. de peito aberto pra sentimentos que ela arreganhou porteira, pra aquela agonia inominável. </p><p>temia que agora que mostrara o pior de si, aquilo assustasse. que estivesse chacoalhando demais o peixe no saquinho, apertando demais o passarinho na mão, até que ele desse o suspiro final.</p><p>tinha medo de sentir aquela dor outra vez. mesmo sabendo inevitável e que o pra sempre é fantasia de fábula que nos contam na infância. </p><p>se mostrava inteira, mas nem sempre o que tinha pra mostrar tinha o glamour do mistério. as vezes, e muitas vezes, era só ela, desnuda, confusa e cansada no fim de mais um dia cheio de pensamentos ansiosos e paranoicos brincando de pingue pongue na cabeça. o desnudar-se deixava ela insegura que estivesse entregando demais e entregando tudo mas concomitantemente qual era o ponto de viver se não entregar tudo?</p><p>o pior foi amplificado com o passar dos dias da modorra da rotina e do todo dia e da água que corre do dia a dia.</p><p>o que ontem foi confortável hoje abre espaço pra castelos imensos.</p><p>zonza de tanto pensar e se afundar nos recônditos do sentir, as vezes o torpor do não existir é exatamente o necessário pra tudo parar, inclusive a inquietude que abafa o respirar.</p>Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-72384324024379778222022-03-09T09:14:00.002-08:002022-03-09T09:14:45.722-08:00Me Venha Sem Saber <p> Os acordes característicos daquela música que ecoava na cabeça desde janeiro soavam em seus ouvidos mais uma vez. </p><p>Aquela melodia intimidava e aquiescia as suas entranhas. As coisas eram nubladas e o peito doía de ansiedade. </p><p>Redemoinho de emoções que girava e girava e girava e girava e girava e ela ficava tonta tonta sem entender sem saber e ao mesmo tempo parada.</p><p>Por que as entranhas se retraíam e as palavras se repetiam e as coisas aconteciam e ela não sabia bem o que sentir e como responder o que processar primeiro e nem se deveria ter se colocado nessa situação desse jeito.</p><p>Tudo nublado azul cinzento mas ao mesmo tempo também nesga de sol saindo por entre as nuvens e por entre a caixa torácica e por dentre ela e os pensamentos de nuvens cinzas e pesadas. </p><p>Dentro de si havia duas dela e três dela e multiplicidades que não se entendiam entre si e que queriam respostas mas temiam respostas mas precisavam respostas e tudo estava povoando sua cabeça e seu corpo ao mesmo tempo. Ela ficava em estado de grito contido e de não saber expressar mas querer expressar.</p><p>As palavras já saíram da sua boca mesmo ela tentando que não saíssem. Quando as palavras saem da boca, elas ficam no ar. Flutuando e coexistindo ali, naquela realidade sem saber e sem resposta na qual todos os membros do corpo dela enrijeciam e temiam o saber ao mesmo tempo que também temiam o não saber.</p><p>De baixas e altas já sobreviveu a coisas piores mas ao mesmo tempo não conseguia conter e também não sabia expressar e sentia que havia algo preso na garganta pigarreava mas continuava ali presa e com medo de rejeição.</p><p>Ah, aquele velho medo que tinha enfiado no fundo da gaveta, numa caixa esquecida embaixo da cama, no armário do cérebro que ela fez questão de esquecer que estava lá. Fez tanto esforço pra esquecer que só lhe restava lembrar que ele estava sempre ali. Seja lá o que ela fizesse. </p><p>O que lhe resta, também, é perceber que se deixar paralisar por ele mais uma vez não é viver. </p><p>Viver é assustador, difícil e intimidador. </p><p>Fez o que tinha que fazer e agora tinha que esperar o que ia acontecer. </p><p>O agoniante passo pesado e barulho de salto alto em mármore da espera.</p>Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-11558278774633710022022-01-30T11:22:00.000-08:002022-01-30T11:22:22.883-08:00Calada E Só<p>Depois de toda a euforia estresse preocupação, de repente uma onda de calmaria chega.</p><p>Mas é daquelas calmarias avassaladoras, sabe? Que se instala no peito e rouba o fôlego. Calmaria ansiosa, sem saber o que esperar do futuro. Se perguntando onde estava o erro, se tudo caminhava tão tranquilamente?</p><p>Por que ela esperava pela quebra da onda toda vez? Por que não conseguia encontrar descanso na calma, por que ficava a procura daquilo que poderia estar espreitando?</p><p>Tentava veementemente não dar lugar pras paranóias, não dar espaço pra que o não dito por que não foi nem sequer cogitado mas abria caminhos pra infindáveis perguntas e questionamentos que vinham sem pedir licença.</p><p>Domingo é sempre assim: a gente fica questionando a própria existência com lágrima escondida atrás das pálpebras: as vezes rola, as vezes a gente faz força pra cair, mas fica lá, teimando em te atormentar com a ideia de que se talvez meus sentimentos transbordarem pra fora de mim, talvez eles parem de me atazanar. </p><p>Mas não cai a lágrima, não chega o gozo, não esvazia a cabeça e não se sabe de que a cabeça está cheia.</p><p>Angústia de fim de domingo, vazio no peito que não preenche, vontade de desaparecer e sumir que não dava as caras em meses. Talvez tenha sido essa vez que passou mais tempo sem se sentir dessa forma, atormentada. E nem sabia pelo que estava atormentada.</p><p>Acho que pelas tardes quentes e modorrentas de domingo, que sempre vinham e sempre sentiam como que agarrasse o coração no peito e apertasse até virar massa disforme. Ela se sentia massa disforme. </p><p>Tentava tamponar os sentimentos com cigarro aceso entre os dedos e pena metafórica na mão. Buscava conforto em si que sabia fortaleza, não mais impenetrável. Ainda havia fogo nela, é claro, mas tem dias que a brasa queima lentinho e pequenina, quase não dá pra ver nem sentir o calor.</p><p>Estava tudo bem mas estava atormentada pela calma. É assim a vida quando o armaggedon não está caindo sob meus ombros incansavelmente todos os dias?</p>Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-26961319855602332042022-01-23T21:00:00.005-08:002022-01-23T21:47:38.864-08:00Lua<p> As estrelas que tinham nos olhos dela eram infinitas. </p><p>O carinho, o gozo, a partida, a chegada. Todas as coisas eram infinitas, não tinham começo-meio-fim; eram infindas.</p><p>A sensação de casa, de conforto, de abrir o baú empoeirado que guardou por tanto tempo os sentimentos. Era caixa de Pandora ao contrário. </p><p>Se aconchegava nos braços desnudos dela como se sempre estivera ali. O sangue que bombeava incessante, os arrepios na nuca, os contorcionismos da boca abrindo e arfando. </p><p>Sentia cada músculo contraindo, sentia cada toque com a intensidade de milhares de voltz, sentia suor escorrendo pela testa, sentia beijo no nariz, no rosto, na boca, no pescoço. </p><p>Nada no passado-futuro sente dessa forma do hoje. E da forma do ontem. E da forma do amanhã.</p><p>O sono pesava nos olhos mas a vontade de comprimir o tempo, de descontar os beijos, de ficar ali com ela, lutava com as pálpebras pesadas. </p><p>A dificuldade de levantar da cama de manhã, a dificuldade de fazer coisas mundanas, do dia à dia, quando cercada do enfado quase-magia quase-inacreditável de estar e ser e só, ali, acompanhada dela.</p><p>Todo encontro parecia completamente novo e também inteiramente familiar, como se o momento fosse ali mas também fosse ontem e também fosse depois e as linhas ficavam borradas e o fôlego ficava prejudicado, e os lábios ficavam ocupados, e a sensação de pertencer naquele espaço-lugar-pessoa-pele era inédita e também antiga. </p><p>Era um eterno nascer e pôr do sol, cheiro de terra molhada depois de chuva de verão, gosto de rosa neon geladinho e beijo de batom vermelho.</p><p>Os olhos dela me olhavam com gentileza nunca antes vista. Gentileza essa que eu tinha recentemente aprendido a me conceder também, e não pelos olhos do outro, pelos meus olhos que a terra há de comer.</p><p>O timing das coisas é preciso, corta como faca e dá recado do universo pra lembrar que as coisas acontecem como e quando são possíveis, dentro das possibilidades das que estavam dispostas a acontecer.</p><p>O não lugar dos dias e o correr das horas imperceptíveis incontáveis que pareciam pequenas e apressadas pra tudo que era possível e quase possível viver no agora. O impossível não era possibilidade.</p><p>Digestões e processos e momentos e explorações do que é factível e sonho em dia. As vezes custava a crer que estava acordada. </p><p>As delicadezas, as miudezas, as sutilezas, os cuidados e os cigarros bolados. </p><p>As saudades matadas que geram um também infindo ciclo de saudades, de beber e embeber. </p><p>O perceber dos encontros furtivos e emocionados e intensos e os desenhos e textos e gramáticas que elas escrevem. As construções conjuntas do que é e do que está sendo e do que mais só elas podem saber.</p><p>A delícia de estar e ser e de abraçar e beijar e ficar ali juntinha.</p><p>Nas voltas do grande mistério que é a vida, nas liberdades que me e te e nos cercam, rodeiam, não cerceiam, encontrei meu bem.</p>Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-19928537095870022852022-01-23T18:49:00.001-08:002022-01-23T18:51:39.005-08:00As Deep As The Pacific Ocean<p>O ano de dois mil e vinte e dois começou com sabor de picolé caseiro de acerola. </p><p>Ultimamente, começou a sentir como se fosse primeira vez e também replay os sabores que a existência lhe podia proporcionar. Tudo tinha cheiro e gosto e um brilho diferente de vida.</p><p>Podia sentir a mudança circulando em si, e nunca jamais pensou que poderia estar ali. Se a Bianca que foi aos quinze anos pudesse saber, sentir, e prever que não ia precisar e nem querer mais se esconder dentro de si, em recôncavo profundo e escuro, talvez ela não tivesse que ter reaprendido tudo sobre si antes de entender quem ela realmente era. </p><p>Nos últimos meses os pesos da existência estavam sendo retirados das suas costas cansadas e marcadas de dor. Nos últimos meses ela estava sendo apresentada a uma nova versão dela mesma. A uma versão que não sente gosto de sangue na boca quando se mostra pra alguém. Uma versão que não precisa forçar nada em lugar nenhum, que não precisa se mutilar pra caber, que não precisa se encapsular em uma narração diet de si mesma pra se adequar ao olhar do outro.</p><p>O desapego do controle, o desapego da verdade alheia, a sensação gostosa de ser cada dia mais e também mais honesta com quem eu sou.</p><p>Os questionamentos não calaram, e nunca vão calar, mas não precisar estar vinte e quatro horas em estado de alerta sobre si mesma, sobressaltada com as interações, com medo de descobrirem que na verdade, lá dentro, não tem nada o que temer sobre mim: sou manteiga derretida no pão quentinho.</p><p>Não calaram, mas são outros. Tudo diferente! Porém, como dizia Hilda Hilst: tu não te moves de ti. </p><p>Eu não me movo de mim, mas dentro de mim tem o desconhecido, Hilda, que estou desbravando e movendo e explodindo e esbanjando.</p><p>Eu não me temo mais.</p><p>Acolher meus tempos, minhas tempestades, meus turbilhões: receber o pior e melhor de mim sem medo e aprender a lidar e aceitar. Me perceber aconchego, morada e lar dentro da pele que habito. Me perceber conforto. </p><p>Não temer as possibilidades e multiplicidades e as delícias e todas as coisas da vida que fazem tudo valer a pena e ter sentido significado nas entranhas de mim e na viagem maluca do viver.</p><p>Essas descobertas tinham gosto de carambola direto do pé, de suco de goiaba gelado, de sorvete de gorgonzola, de sopro de mundo; se ela soubesse do acalanto que era se encontrar, teria tentado se esbarrar nela mais vezes antes de estar mais perto dos trinta do que dos vinte.</p><p>Sentia-se adolescendo tudo de novo, repercebendo o mundo que rodeia e assusta e tudo é novo tudo é possibilidade tudo é sensação tudo é aquilo que ela não teve direito antes.</p><p>O que não tem espaço dentro de mim é aquilo que não permito fazer morada. Por mais brega que possa soar, o retro gosto era aquele que ela sempre achou que jamais iria acontecer, por que jamais achou que poderia não pensar em ser e ser. Era retro gosto de liberdade. Que nem um passarinho que aprendeu a voar nas marés tortuosas que não precisam ser tão tortuosas do sentir.</p><p>Tudo parece ter novo gosto e nova cor por que por mais que as cenas se repitam eu não me repito mais. Eu sou eu, mas também sou infinitas outras coisas. Não me filtro, não me caibo e eu sou realmente tudo isso aqui.</p>Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-92225785664205935222022-01-11T19:33:00.005-08:002022-01-11T19:43:47.997-08:00Girassol<p>No peito: parecia champanhe, borbulhante na taça, logo depois de servir e antes de acariciar os lábios. Fazia comichão no pé da barriga que nem quando os pés descalços tocam a grama esmeralda orvalhada de manhã. Explodia em fogos de artifício sem som mas com brilho e promessa e delírio de noite de ano novo. </p><p>O calor, o suor, o gemido, o roçar de corpos, incessantes, frenéticos, explosivos: sim. </p><p>O sorriso de canto de boca. A boca no canto do sorriso. A carne que pulsava, todas as carnes pulsavam e tremiam. O entremear de pernas e bocas e pelos e braços e mãos puxando coxas, cabelos, apertando, suando.</p><p>Passou o dia envolta em odores, sabores, memórias. A casa envolta na modorra pós química explosiva. </p><p>Tentando recuperar pra si todos os beijos que não deu, o destrinchar de corpos e lábios que parecia instintivo.</p><p>Como naquele momento se abriu como nunca antes, se deixou abrir, se deixou desabrochar, ali, inebriada delas.</p><p>Sentindo tudo e deixando e permitindo e aconchego que nem sabia possível.</p><p>O toque arrepiava, e a lembrança do toque tal qual. A carne doía, mas era dor gostosa, dor do ontem que se instalou por que ontem foi e não só foi como é. A lembrança também faz parte do ser, e a dor lembra que até os mais sublimes momentos tem consequências. Naquele momento, ela gostava de ser.</p><p>Lida e compreendida.</p><p>O coração se exercitando no peito e elas ali. Assim eu acabo me entregando.</p>Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-4040080779799591772021-09-30T08:18:00.003-07:002021-09-30T08:19:03.637-07:00Don't Hurt YourselfAcordou de um salto como de costume. Atualmente eram raros os momentos que acordava em paz. À contragosto, levantou da cama já com o twitter aberto no celular pra ler as atrocidades cometidas mais um dia mais uma vez pelo governo genocida ao qual ela e mais milhões de pessoas eram subjugadas todos os dias. <div><br /></div><div>Lavou o rosto, escovou os dentes e tomou um banho gelado sem lavar os cabelos, ouvindo podcast mas sem conseguir desligar totalmente a cabeça das inseguranças e das ansiedades, que gritavam no fundo da cabeça, como se pedindo pelo amor de deus pra se materializarem e saírem correndo por que nem elas se aguentam mais. Nem elas aguentam mais o loop constante dos mesmos pensamentos das mesmas inseguranças dos mesmos medos girando na cabeça infinitamente que nem uma máquina de lavar quebrada no modo turbo eterno.</div><div><br /></div><div>Todo dia era dia de nó. Nó no peito, nó no estômago, nó na garganta, nós infindos. <br /></div><div><br /></div><div>Enquanto passava o café, repassava e julgava na cabeça as coisas que ela tinha dito num date. Enquanto tomava o café, pensava na hidradenite, na consulta com o endocrinologista, na consulta com a psicanalista, na consulta com a ginecologista. Enquanto lavava a louça, pensava nas aulas que ia começar a dar no emprego novo. </div><div><br /></div><div>A cabeça nunca parava, e o jeito mais fácil de silenciar é abafar o barulho, tampar os ouvidos, fingir que não escuta por que não aguenta mais a enxurrada de achismos, o incessante barulho das teclas da sua cabeça freneticamente digitando e tecendo opiniões e sofrendo por antecipação e se sentindo culpada. </div><div><br /></div><div>Click. Clack. Click. Clack. Click. Clack. Click clack click clack click clack click clak clik clack CLICK CLACK CLICK CLACK CLICK CLACK CLICK CLACK <b>CLICK CLACK CLICK CLACKCLICKCLACKCLICKCLACKCLICKCLACK<i>CLICKCLACKCLICKCLACKCLICKCLACKCLICKAUDJOHDFFHSFSDCLICKCLACK</i></b></div><div><b><i><br /></i></b></div><div>Era esse o ruído que sua cabeça fazia todo dia, sem parar. Presa não só em casa, mas dentro de si. Às vezes suspeitava que as inseguranças de adolescente só cresceram e ficaram mais complicadas, e acostumada a temer quase tudo e também quase nada na adolescência, virou uma mulher adulta. </div><div><br /></div><div>Tudo veio de algum lugar. E tudo vai pra algum lugar.</div><div><br /></div><div>Mas precisava urgentemente desligar o cérebro, não pensar, não existir por um diazinho só, viver uma existência hermética e sem graça e sem dor e sem overthinking. </div><div><br /></div><div>É pedir demais um dia de paz dentro de mim?</div>Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-22035156822730234902021-09-30T07:42:00.001-07:002021-09-30T07:42:43.710-07:00E Eu Carrego O Fardo...<p> Essa semana não tive sessão de análise. </p><p><br /></p><p>Concomitantemente, o Brasil me quebrou. A ansiedade me quebrou. A imagem de pessoas catando ossos no lixo pra sobreviver não sai da minha cabeça. O escândalo nazista da prevent sênior ecoa no meu juízo sempre que fecho os olhos. </p><p>Todas as coisas que me aconteceram e nos aconteceram e aconteceram com eles e elas e elus ecoam dentro de mim o tempo todo, não descanso, não durmo, não sonho. Existo em estado de ansiedade e com constante medo e tensão e desejo de fugir e uma voz que não se cala dentro de mim que diz que não tem nada que eu possa fazer, mas que eu preciso fazer alguma coisa, que eu preciso consertar o problema em mim e lá fora e destronar bolsonaro e trabalhar e fazer dinheiro e paquerar e ser saudável e emagrecer e ter saúde mental e ser um ser humano totalmente funcional equilibrado estabilizado mesmo quando o mundo lá fora tá se explodindo em caos, loucura e dor.</p><p>Tudo isso com um sorriso no rosto, raiva no peito e gratidão por ter um emprego e uma casa.</p><p>Especialmente massacrada nessa quinta feira de setembro. </p><p>Derrotada, desesperançosa e cansada.</p><p>Ontem não consegui dormir muitas horas, meus pensamentos flutuaram pra o caos dentro de mim, pra o caos lá fora. Pra os meus arrependimentos, pra as coisas que disse e que não disse e pras pessoas que gosto, que estão aqui.</p><p>A raiva e a tristeza me consomem, mas descarregar e escrever sobre elas me tira um dos pesos de 1000kg do peito. Dividir as angústias, mesmo que comigo mesma em forma de texto me tranquiliza um pouco. Remenda um pouco do que resta das minhas entranhas e organiza meus pensamentos.</p><p>A ordem e organização são meu espaço seguro desde 2008. Felizmente ainda existe um repositório virtual pra os meus pensamentos que beiram a insanidade.</p><p><br /></p>Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-75278126593073421022021-09-28T11:39:00.003-07:002021-09-28T11:39:45.400-07:00Heaven Is A Place On EarthO sentimento era velho, mas parecia novo. <div><br /></div><div>Vou explicar-lhes: já tinha estado ali. Já tinha passado por tudo aquilo algumas vezes no tortuoso caminho da juventude até a idade adulta. Inúmeras vezes durante a puberdade se viu ali. Na idade adulta, menos vezes, mas ainda assim, ali. </div><div><br /></div><div>Só que daquela vez, era diferente.</div><div><br /></div><div>As borboletas no estômago estavam ali. Os sorrisos de canto de boca. As provocações. O beijo. Absolutamente tudo estava do jeito que já esteve em outras milhares de vezes, mas a diferença era ela. </div><div><br /></div><div>Desde a última vez que estivera naquele lugar, apesar do lugar não mudar, ela mudou. Passou por outras e poucas e boas e tudo e nada. Se resgatou do fundo das profundezas de si e se remontou aos poucos.</div><div>Vocês sabem o que acontece quando a gente se remonta, né? </div><div><br /></div><div>Tal qual como Heráclito falou sobre o rio Tigre e Eufrates, nunca nos remontamos do mesmo jeito. Eu explico: não existem duas, três, quatro de mim. Existe eu e eu só, que passou pelas fases da vida, pelas dores do ser, pelas estações do ano. Mas cada dia que passa, a cada reset de mim, eu sou eu, mas sou outra.</div><div><br /></div><div>E hoje sou outra. </div><div><br /></div><div>As coisas eram todas lugares comum, repetições de coisas que já se passaram.</div><div><br /></div><div>Mas a mulher era diferente, e eu também. </div><div><br /></div><div>E mesmo que as coisas fossem as mesmas e as pessoas fossem diferentes, tudo foi novo, tudo foi diferente, tudo foi excitante, tudo foi claro e nublado como jamais, intoxicante. </div><div><br /></div><div>O toque, o beijo, a novidade, o ar que se instalou em meus pulmões, as músicas dos anos 80 que entraram na playlist mensal do spotify. </div><div><br /></div><div>E a novidade de ser tocada, de ser desejada, de ser beijada. Fui transportada pra outra de mim, beijando um menino no sinal da Avenida Salgado Filho, fui transportada pra outra de mim que diz que gosta de alguém sem sentir o peso nos ombros, pra outra de mim que não teme, não deve, não pesa. </div><div><br /></div><div>Mesmo que eu seja sempre a mesma eu, e que só exista uma de mim, abrigo várias dentro de quem já fui. </div><div><br /></div><div>E elas gritam, elas me lembram dos meus traumas, das minhas falhas.</div><div><br /></div><div>Mas também me recordam de não ter medo. Me recordam de que existem coisas que valem a pena, coisas que me fazem sentir mais leve que ar, que me levam pra caminhos diferentes, mesmo que a vida pareça todos os dias um amalgamados de coisas sem sentido: existe sentido em ser e estar e tocar e existir. </div>Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-5824250696429619242021-02-19T18:58:00.001-08:002021-02-19T18:58:05.095-08:00Used To Being Alone<p>Hoje enquanto eu estava fazendo meu risoto pra um, debruçada sob o fogão com um taça de vinho, escutando um episódio de Gilmore Girls, estive pensando sobre minha vida.</p><p>Eu gosto do que eu faço, apesar do cansaço inerente que todos os professores passam durante a vida, eu gosto de interagir com os alunos. </p><p>Fiquei me questionando, ainda sóbria, se sempre seria assim. Se as piadas auto depreciativas que faço em voz alta e também pra mim mesma seriam verdade: que eu iria acabar sozinha, indo com múltiplos encontros pra os casamentos dos meus amigos, sempre tomando uma taça de champagne a mais do que o necessário. A gente vai ficando calejado das coisas da vida, mas eu queria tanto não ser. Queria tanto a ingenuidade do meu ensino médio pra me levar pela vida, sempre acreditando no melhor. Engraçado que na minha playlist do mês, que não só é minha playlist do mês, mas também ao que estou ouvindo, meio bêbada, digitando esse texto num blog que tenho desde 2009 e que sempre foi o antro de todas as minhas frustrações. Ouvindo o famoso e querido David Bowie cantar Changes: é como ele disse, time can change me but I can't change time. </p><p>Eu fico cansada de me perguntar se as coisas sempre vão ser assim. Eu queria ser somente aquela versão despreocupada que eu gosto de me fantasiar sendo: aquela mulher que todos gostariam de estar com, aquela pessoa engraçada e sem preocupações que eu gostaria tanto mas tanto mas tanto mas tanto de ser, ao invés dessa patética figura sentada sozinha com o ventilador no máximo digitando um monte de baboseiras num blog qualquer que ninguém lê.</p><p>Enquanto escrevo isso, o mood muda drasticamente para o famigerado CD de mcfly: eu sempre achei que a vida seria um conto de fadas. Mas que conto de fadas está realmente reservado para a menina gorda, negra e LGBT da história? Quem é o príncipe ou princesa que vai me resgatar e me levar pra uma viagem inesquecível, pra uma vida de felicidades e na qual eu não vou ter mais que me perguntar sobre nada por que a vida simplesmente flui.</p><p>Agora a voz de Paul McCartney ecoa nos meus ouvidos: suddenly, I'm not half the man I used to be. Yesterday came suddenly. Now I long for yesterday.</p><p>Ontem era tudo tão mais fácil que hoje. Sobreviver ao hoje é preciso, Paul, eu sei, mas é tão mais fácil acreditar no ontem que eu nem sei como te explicar os nós e as voltas que esse coração dolorido faz. Eu nem sei explicar os sentimentos e as lágrimas que correm meu rosto sem parar enquanto ouço sua voz aqui. Por que a coragem pra viver o hoje existe, mas dói tanto ser forte. Dói tanto seguir em frente que as vezes eu desejo que um ataque cardíaco fulminante e indolor me leve dessa existência pra outra. </p><p>Margareth Menezes agora canta sobre traição. Margareth sabe de várias coisas, inclusive de dores do coração: pode chorar, pode chorar. Vai, chora. Nessa hora, faço uma pausa estratégica pra bolar meu cigarro, que é uma das coisas nas quais eu falhei, mais uma vez. Parar de fumar.</p><p>De repente começa a tocar a última música, Used to Being Alone, de Azaelia Banks, e com ela o desejo de estar em uma festa mal iluminada fazendo escolhas ruins. Eu estou acostumada a estar sozinha. </p>Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-18821919046763976882021-02-01T08:55:00.001-08:002021-02-01T08:55:22.855-08:00Vazio<p> Desde que acabamos nosso relacionamento, me sinto vazia. Sinto como se algo que fizesse parte de mim, não mais estivesse ali contra a minha vontade. Sinto sua falta nas pequenas coisas boas que acontecem nos meus dias, de não mandar mensagem e ouvir seu amor ressoando em mim ao saber. Sinto falta do seu cheiro. Sinto falta dos seus dedos entrelaçados nos meus, entrelaçados nos meus cabelos. De segurar sua mão. Eu sinto mais falta das pequenas coisas, pequenas surpresas e não surpresas de ter você do meu lado.</p><p>É claro que paira em mim a dúvida e a questão: vou encontrar você de novo? e se não, vou encontrar alguém diferente mas que me faça sentir de uma forma parecida com o que você me fazia sentir? como reconstruir a vida com a esperança de que não tenha que reconstruir mais uma vez? reconstrução é necessária, mas estou tão cansada da roda da vida que não para de girar e do moinho que não para de moer os meus sonhos, tão mesquinhos. eu sei que o questionamento do futuro é incerto e não leva nada a lugar algum, e por mais que me fatigue questionar o que vai ser, não consigo cessar. minha cabeça me leva pra momentos de deleite e de dor, entremeados nas lembranças que tenho da gente, entremeados na pessoa que me tornei e que irei me tornar por que o passado presente futuro não me pertence tanto quanto gostaria e o que pedi ao divino me prova e priva todos os dias da sensação de que o divino não existe.</p><p>Mas como não existe, se nitidamente vejo os sinais das coisas que o tempo e o mundo apontam pra mim e que fazem parte da minha escolha ignorar ou seguir ou os dois por que sigo confusa e drenada de forças. me sinto como na história das rãs que caem no leite e uma delas morre enquanto a outra se debate tanto que o leite vira manteiga: mas não sei qual das duas sou.</p><p>Me debato todos os dias e tento vencer e ver o leite virar manteiga, mas com o cansaço que habita meus dias, temo me afogar. </p>Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-54856713122701799452019-10-07T13:39:00.002-07:002019-10-07T13:42:07.736-07:00I just laid down and criedEu pude perceber que o desvencilhamento estava vindo a passos largos. Eu pude ver que a cada dia as coisas estavam mais difíceis, mais trabalhosas. Eu tive olhos pra enxergar, e de certa forma, sabia que estava vindo, que estava cavalgando até mim essa dor lancinante que me embebe no momento.<br />
Eu queria muito conseguir fazer poesia hoje, mas a verdade é que qualquer mundo é mais suportável do que esse, qualquer lugar é melhor do que dentro de mim, e eu sou tão intensa que mal consigo me explicar em palavras desse mundo.<br />
Todas as coisas ditas e não ditas e meio ditas queimam dentro de mim. Fazem fogo de tempestade e de dor.<br />
E eu quero ficar bem, eu não quero que minha tristeza seja um fardo pra ninguém além de mim. Eu quero conseguir sorrir sem pensar no fim.<br />
É difícil organizar minha cabeça sem aquela ajuda destrutiva das coisas que sei que me fazem mal depois, mas que na hora me fazem pensar em qualquer coisas que não diga respeito a um nó que não existe mais. Mas eu estou tentando, por não saber bem quando que eu vou conseguir processar as coisas direito e não existe droga suficiente no mundo pra me manter para todo o sempre em estado catatônico.<br />
A verdade é que a última vez que me senti tão triste assim foi quando eu perdi meu pai. Nos últimos quatro anos desde que o perdi, não me permiti adentrar tão profundamente em alguém e nem que alguém adentrasse tão profundamente em mim. Não contei pra ninguém algumas das coisas que consegui verbalizar pra você. Eu obviamente tive muito mais simpatia quando papai morreu, mas sinto que a dor se parece, sinto que estou de luto, com medo de voltar pra vida normal e o sentimento de dor nunca me deixar de vez.<br />
Eu sou assombrada todos os dias por um medo constante e que ironicamente nunca me abandona de ser abandonada, enquanto a vida me prova todos os dias que vou sê-lo.<br />
Eu tive tanto medo de te perder, tanto medo de me perder, tanto medo de nunca ser amada e de nunca ser cuidada e de ter tantos fardos que eu encarcerei dentro de mim tudo e depois cuspi em ocasiões diversas tudo isso de dentro de mim em todo mundo que me cercava, inclusive em você.<br />
Consigo entender perfeitamente o por que de tudo isso estar se passando. Consigo entender e compreender mais do que eu me dou o crédito, na realidade.<br />
Mas é só que tudo me dói.<br />
Me jogar de cabeça em piscina rasa é minha especialidade, mas você na verdade talvez fosse mar, oceano, que eu jamais conseguiria encostar a pontinha do meu pé no fundo, que eu sempre iria me sentir confortada, mas assustada.<br />
Eu parei de tentar analisar diariamente todos os meus sentimentos, tentei parar de afastá-los, também. Não sei bem o que fazer com eles, e é um exercício pra todos os dias: descobrir o que fazer com meus sentimentos.<br />
Toda essa história de término é um grande exercício horroroso, um jogo que eu não sei as regras, um constante aperto no peito, uma constante dor irritante que eu não sei refrear e me sinto cada dia mais perdida mais doída menos eu e mais mergulhada em uma piscina de angústias que eu nem sei quais são quando na verdade queria só conseguir não mais me sentir aflita e queria não sentir sua falta e queria que tudo ficasse bem e não me machucasse mais mas eu não consigo.<br />
Nesse momento, queria não ser sofrimento mais, queria não ser mais queria conseguir me sentir bem e plena mas a agonia me preenche e eu queria só mais uma vez estar nos seus braços e ouvir que você me ama.<br />
Hoje eu não tinha chorado ainda, mas agora chorei. Chorei por que todas as células do meu corpo querem desistir, e eu tenho teimado em não deixar, tentado ver as coisas boas, ver tudo que não é cinza, prestar atenção em filmes que não prestaria antes, desvencilhar meus pensamentos de tudo que é nosso que nem é mais nosso por que o coletivo da gente não existe mais.<br />
O coletivo da gente não existe mais e eu espero que algum momento você me ligue pra eu saber que você está bem.<br />
O coletivo da gente não existe mais mas eu espero que a gente ainda possa existir, eu espero que a dor passe, que as horas passem, que os dias passem, que o amor que eu sinto por você exista, mas me dê uma trégua pra eu poder respirar, me dê um momentinho de paz por que eu sinto falta de paz quase tanto quanto eu sinto sua falta.<br />
O coletivo da gente não existe mais. Existe eu. Existe você. Existem suas dores. Existem minhas dores.<br />
E existe, também, esse sentimento de inacabado, de tristeza, essa coisa escura que paira sob minha cabeça.<br />
Será que algum dia vou me sentir normal vou ser normal vou ter uma vida normal sem tanto peso e sem tanta angústia ser finalmente feliz com você ou sem você ouvindo alguma coisa que não seja a discografia da Weyes Blood no repeat e chorando no ônibus será que vou ser algo além dos farrapos de mim que tenho sido não só essa semana mas a algum tempo será que vou conseguir não cair me reerguer e será que vou finalmente arrancar essa espada alojada dentro do meu coração e viver mais tranquila?<br />
Será que vou conseguir afastar de mim todos os sentimentos de consternação que me assolam desde sempre, será que algum dia deixarei de morrer aos poucos por dentro todos os dias, será que algum dia vou deixar mais alguém entrar e viver um romance e viver um amor e ser verdadeiramente feliz e não me afogar nas ondas que eu mesma criei e não sentir como se arrancar a espada alojada no fundo do meu coração tivesse sido um grande erro?<br />
Eu não sei responder nenhuma dessas questões, nunca soube, não sei se saberei. Me manda uma mensagem um dia desses pra gente conversar sobre isso e outras coisas mais.<br />
Que saudades tuas, pensei comigo mesma, mas só deitei na cama e chorei até conseguir levantar pra fumar um cigarro e mergulhar no torpor de alguma série ruim da Netflix.<br />
<br />
<br />Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-85247867283515675892019-10-07T12:23:00.001-07:002019-10-07T12:23:44.663-07:00how to say goodbye?<div style="text-align: left;">
Hoje faz uma semana e dois dias que o nosso romance acabou.</div>
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Nessa uma semana e dois dias, não fiz nada do qual eu possa me sentir particularmente orgulhosa. Passei esse tempo oscilando entre afastar a dor das mais diversas maneiras, saudáveis ou não. Em alguns momentos eu fui vitoriosa. Em alguns momentos eu consegui afastar o sentimento de que um pedaço de mim foi arrancado violentamente do meu corpo, um pedaço não necessariamente essencial, mas que está sendo muito difícil de viver sem. No dia que o nosso romance acabou, eu inclusive cheguei a desejar que meu braço tivesse sido de fato arrancado. </div>
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A dor, apesar de interna e intangível, se alojou entre as minhas costelas, apertando-as muito forte contra meus órgãos internos. </div>
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Nunca achei que respirar fosse atividade opcional, mas durante os primeiros dias, foi. Com as minhas costelas apertando meus órgãos internos, respirar era difícil e eu tenho absoluta certeza de que em alguns momentos, apesar do ar ser indispensável para existência humana, fiquei sem respirar. </div>
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Hoje, apesar das constantes pontadas no peito, consigo respirar. Com dificuldade, mas consigo.</div>
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Passei todos esses dias entre um cigarro e outro, entre um copo de cerveja e uma taça de vinho, encarando o anel que você me deu aquele dia que fomos naquele bar que fomos diversas vezes, que faz par com o anel que você comprou pra você mesma, mas que nunca usou por muito tempo por que anéis te incomodam um pouco.</div>
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Passei todos os dias depois do terceiro lutando contra o choro que se acumula dentro de mim, fugindo dos mais diversos sentimentos de saudade e das mais diversas lembranças de coisas quaisquer que fazem caminho dentro de mim. </div>
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Lembrei do dia que tivemos nosso primeiro encontro, sobre como você me contou a posteriori que estava tão nervosa que quase desistiu de ir, de que ficamos no lugar até sermos as últimas lá, e você veio me deixar em casa, com a promessa de que assistiríamos o musical do rei leão no próximo encontro, com um beijo de despedida e meu coração que pulou um batimento.</div>
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Nós nunca assistimos o musical do rei leão. Tiveram muitas coisas que ficamos de fazer depois, e nunca fizemos. Ficamos de combinar aquela saída com seu amigo, ex daquele outro amigo e nunca marcamos. Ficamos de ir em tantos restaurantes, fazer tantas viagens, encontrar tantas pessoas, experimentar tantas comidas. Tem aquele caldo de legumes que eu fiz, congelado, pra quando fôssemos fazer risoto juntas, ainda no meu freezer. </div>
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E não só as coisas que deixamos de fazer que tem me assombrado, sabe? Todas as coisas que chegamos a fazer também ficam abrindo espaço na minha cabeça e me tirando a paz.</div>
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O fato é que você estava entranhada em todos os aspectos da minha vida. Você me ajudou a fazer minha mudança, e a primeira vez que você disse que me amava foi quando estávamos deitadas juntas na minha cama, no meio do caos da mudança, só você e eu, e você não só disse que me amava, mas passou a tarde demonstrando enquanto colocava todas as minhas coisas no lugar. Você me ajudou a encontrar o apartamento que eu moro nesse momento. A planta que você me deu provavelmente continua viva, e eu não sei se continua por que faz uma semana e dois dias que não piso em casa, mas eu prometo que jamais foi minha intenção matá-la, apesar de eu não ser a melhor mãe de planta que pode existir.</div>
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A vela que você me deu ainda está na minha mesa de cabeceira, o anel ainda está no meu dedo, as fotos que você tirou de mim ainda estão no meu feed do instagram, as blusas que você esqueceu lá em casa e que eu usava pra dormir estão no fundo da minha cômoda... Você foi embora da minha vida, mas todas as coisas que a gente trocou estão aqui.</div>
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O dia que a gente fugiu pra fazenda, a vez que fomos pra casa de praia daquela minha amiga, os mapas astrais de personas bíblicas, a primeira vez que eu dormi ao seu lado, todos os amigos que você me apresentou, todas as refeições que fizemos juntas (quer as tivéssemos preparado juntas ou não), todos os momentos que você me abraçou, e beijou, e disse que me amava e me assegurou que tudo ia ficar bem, todas essas coisas perpassam minha cabecinha cansada de sentir saudades. </div>
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Eu sei que só faz uma semana e dois dias, e que com o tempo, talvez eu me acostume melhor com meus sentimentos. Talvez eu me acostume de verdade à ideia de que não vamos nos reencontrar, ao invés apenas de dizer para todo mundo que eu não estou me pendurando em ideia alguma sobre você, que não penso que talvez nós pudéssemos tentar de novo. Talvez nesse tempo eu consiga me acostumar com a ideia de que você vai se encontrar numa vida nova longe de mim, que vai, algum dia, quando você estiver melhor, encontrar outra pessoa pra te fazer feliz. Talvez eu também encontre outra pessoa que me faça feliz. E essas pessoas podem nos fazer feliz de maneiras diferentes das quais eu te fiz feliz e das quais você me fez feliz. Talvez eu já tenha conseguido parar de repetir comportamentos auto destrutivos até lá. Talvez, no futuro, nós duas possamos até manter o ocasional contato, pra saber da vida uma da outra. </div>
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Nesse momento no qual estou aqui, sentada no computador de outra pessoa, ainda sem ter feito nenhuma refeição além dos vários cigarros, apesar de já serem quatro da tarde, eu tenho que admitir que tudo ainda dói bastante. Que tudo revolve dentro de mim todos os dias, e que o peso de acordar de manhã é difícil demais, por que tudo parece bem por mais ou menos cinco segundos antes de eu me lembrar que a gente acabou. Que eu estou tentando manter minha cabeça ocupada, que eu estou tentando todos os dias não digitar nas teclas do celular que me aproximam de você, apesar de querer desesperadamente mandar uma mensagem e dizer que sinto sua falta, e que estou esperando que você sinta o mesmo, ou ao menos o suficiente pra me mandar uma mensagem.</div>
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Hoje está sendo meu primeiro dia de sobriedade total desde que a gente acabou. Nenhum copo cheio de bebida alguma, nenhum cigarro de artista, só minha perna inquieta, meu coração apertado e meus sentimentos patéticos. </div>
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<br /></div>
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<br /></div>
Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-90624974504017194582019-09-24T20:53:00.000-07:002019-09-24T21:00:56.910-07:00O Saberestiveram dias que fui ausência.<br />
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já fui desespero.</div>
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já fui dor, pura e simples, destilada e amornada pelo calor dos dias.</div>
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fui lágrima, também.</div>
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nesses dias nos quais não sei bem identificar todos os sentimentos que me perpassam incessantemente, tento relembrar todas as coisas que já fui e que ainda posso ser.</div>
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mas, no âmago de mim, bem lá no fundo, não sei mais como fui e nem como posso ser.</div>
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nesses dias esquisitos, que flutuo em sentimentos abstratos e ligeiramente absurdos, não sei ser.</div>
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sei que me inundo de dor, de desespero, e nem sei por quê. tem um sentimento esquisito que não sei bem explicar, que algumas vezes fica dormente dentro de mim e eu finjo que não existe que eu não sei onde está que não sei o que é e que não me atormenta.</div>
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eu tenho mania de fingir que não me atormenta, mas está sempre lá.</div>
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sempre esperando pra me engolir de novo, sempre espreitando pra plantar dúvidas infundadas nessa cabecinha cansada cheia de caraminholas. </div>
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por que apesar de tudo, eu sempre estou dentro de mim.</div>
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eu sempre estou ali, e é impossível fugir de mim, por mais que eu tente. eu sempre estou ali, atormentada por fantasmas de mim e criados por mim. </div>
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e eu não sei.</div>
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as dúvidas me corroem por que o não saber é eterno, e eu sei que as únicas certezas de mim é que não sei de nada e que isso está sempre aqui. </div>
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me comprime o peito, me atormenta a alma, me enche o pulmão de água salgada enquanto tento respirar e voltar à superfície de mim, à calmaria dos dias, à beira da praia do mar revolto que sou. </div>
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mas isso não existe. não existe voltar a superfície de mim por que só eu sei como foi difícil nadar todos os dias e continuar nadando até aqui.</div>
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só eu sei como as profundidades infinitas de mim doem e me machucam mas também são necessárias pra ser eu. </div>
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sei do dia que ralei meu joelho nadando aqui dentro, numa pedra pontiaguda que não mais está lá.</div>
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também sei do dia que a ausência foi poesia, e que a ausência foi dor, e que a ausência foi desespero profundo pra não me afundar, por que nadar é uma coisa, mas se afogar é outra.</div>
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sei o quanto meu sangue jorrou, quantas partes de mim não doem essa dor imensa de ser essa grande bagunça de oceano cheio de petróleo derramado.</div>
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sei também que posso ser calma.</div>
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uma calma que eu nem sei de onde vem, nem pra onde vai.</div>
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sei que posso ser doçura. mas doçura de torta de limão, provavelmente não poderia ser doçura de bolo de chocolate.</div>
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nos momentos mais angustiantes, não sei de nenhuma dessas coisas e me perco em mim.</div>
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contraditória, sempre.</div>
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houveram dias dessa bagunça de mim que sequer gostaria que tivessem existido, e nesses dias meu desejo é sumir. sumir, evaporar, não estar.</div>
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sei que quando sou lágrima sou também avalanche. </div>
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sei que quando sou dor sou também sou lágrima, e portanto, também avalanche.</div>
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nesse momento, enquanto estou escrevendo tudo isso pra mim mesma sou todas essas coisas e muitas outras mais.</div>
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também sei as coisas que queria ser e o medo de não sê-las me assola e me prende e me sufoca de maneiras que não sei explicar.</div>
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sei as coisas que dizem que sou, mas não sei se acredito nelas. </div>
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sou capaz, de num arroubo da mais insana tarde, de ser feliz com quase nada, por mais que pareça impossível num interior tão atormentado.</div>
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posso ser feliz com uma garrafa de vinho no pôr do sol, numa tarde de domingo na praia, aninhada nos braços de quem amo, embarcando rumo ao quase desconhecido em um avião.</div>
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posso ser feliz enquanto sou triste, posso achar felicidades escondidas e clandestinas em coisas do dia a dia.</div>
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sempre me ecoa na cabeça o dia que minha avó me disse que hoje sou triste.</div>
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que eu não era triste, mas me tornei triste. que eu deixei o peso dos anos difíceis se acumular nas minhas costas e fui envergando com o peso das coisas que deixei pesar, com o peso no pé da barriga que me acostumei a carregar e com o cansaço que acumulo durante os dias.</div>
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talvez ela tenha razão.</div>
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mas talvez não.</div>
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eu não sei eu não sei eu não sei</div>
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sei que apesar de tudo isso, fui capaz de encontrar amor em mim. e lá fora. sei que às vezes é difícil me amar. sei que nem eu sei me amar algumas vezes. mas eu amo, e eu sigo e a vida aperta, e eu aperto e eu choro e eu me desespero mas tenho coragem e eu tenho força e eu tenho gana e eu sei que sou capaz apesar de não saber de nada e sigo vivendo. </div>
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<br /></div>
Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-81754737309453459402019-09-24T20:12:00.000-07:002019-09-24T20:12:53.660-07:00Até Que Eu Cesseas vezes eu sinto como se fosse explodir em um milhão de pedacinhos. como se meu intestino fosse se romper, meu coração não fosse aguentar, minhas vértebras fossem se desintegrar, assim, do nada, puf e pó.<br />
eu sinto como se todo meu esforço fosse em vão, como se não houvessem forças pra continuar, e que a promessa de um novo dia amanhã não fosse em nada promissora.<br />
sinto como se houvesse um peso no meu estômago que vai descendo até minha virilha, e se aloja lá, naquele espaço nada que existe em mim.<br />
me pergunto se não posso usar uma vara de pescar comprida, que faça com que eu volte a me sentir bem e inteira de novo. me pergunto o que é me sentir bem e inteira. me pergunto se já me senti de tal forma, ou se vivi toda a extensão dos meus anos de vida com essa sensação ominosa de que algo terrível vai acontecer no momento que eu piscar os olhos, que tudo vai se acabar e se explodir.<br />
devo confessar que algumas vezes tudo que queria era que tudo cessasse para que todos pudéssemos cessar.<br />
e o que é cessar?<br />
eu não sei.<br />
eu não sei eu não sei eu não sei eu não sei<br />
mas queria cessar essa sensação, queria enterrar esse sentimento, queria sentir só as coisas boas, tal qual o vento no meu rosto quando estou num carro numa via expressa, uma lambida num picolé no verão escaldante, um focinho gelado de gato encostando no meu nariz, um abraço apertado e cheio de amor.<br />
se existem todas essas coisas boas, por que as vezes só quero que elas cessem também? por que quero desesperadamente que tudo cesse, que eu pare, que o mundo pare que as coisas deixem de acontecer, que eu deixe de acontecer, tudo para que eu pare de sentir essa sensação horrorosa de que vou explodir, que não posso controlar (e como bem sei, tudo que não posso controlar me enche de dúvida e as vezes de desespero), que não posso parar por que se parar eu caio e se eu cair o que acontece?<br />
e eu tenho tanto medo, tanta vontade, não sei o que faria se do nada tudo parasse no tempo que nem em filme e eu pudesse viver o que sempre quis.Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-30103697059013196222019-07-13T10:08:00.001-07:002019-07-13T10:08:16.018-07:00Mar Revolto<span style="background-color: white; font-family: "Segoe UI", Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">por que eu, intranquila feito mar revolto, me doo e me dói e não quero mais por que afeto dói e tudo machuca parece que vou explodir em serpentinas preto e brancas espelhando de forma espalhafatosa, espalhando pelos cantos o interior confuso e cinza de uma difusa eu.
talvez não tão cinza, visto que sou cheia de cores vistosas mas tão confusas que se tornaram uma meleca marrom estressante de mim.
por que as cores vistosas ficam sempre fora de foco e por que apesar de todo mundo me dizer o quanto elas são bonitas, eu ainda valho pouco, quase nada, existo aos pedaços e tudo, mas tudo mesmo, machuca, forma ferida talvez indelével, dentro de mim?
seria eu uma bola de sentimentos ruins, um cinza agonizante, que ninguém tem coragem de descrever assim?</span><br />
<span style="background-color: white; font-family: "Segoe UI", Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">seria eu mais que um bicho com uma marca que sangra incessantemente, coberta de farrapos manchados de amor, mergulhados em confusão e rasgos que vazam e denunciam o que sou: dor e mais dor?</span><br />
<span style="background-color: white; font-family: "Segoe UI", Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">seria eu o bicho homem, me refestelando em destroços e troços e traumas e tudo que dói de mim de relações passadas, de momentos estranhos, das minhas entranhas expostas pra o mundo todo ver, pra o mundo todo sentir a consternação que me infesta todos os dias, que me assola a alma, por que o bem viver é mito e é tudo um mar de sentimentos e dores e calmaria que eu não sei se vem, que eu não sei se me cabe, por que me transborda e transforma em algo que eu não quero ser?</span><br />
<span style="background-color: white; font-family: "Segoe UI", Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">seria eu uma nascente que jorra coisas que eu não sei quais são e momentos que eu não sei o que sentir e o que pensar de mim por que todos eles me lastimam e eu preciso ressurgir, eu preciso transformar, eu preciso não mais doer por que não dá mais em mim. o que deu, já deu, mas eu já dei? eu já me espremi de todas as formas pra ser pedaços e suco de mim, </span><br />
<span style="background-color: white; font-family: "Segoe UI", Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">o que eu fiz de errado?</span><br />
<span style="background-color: white; font-family: "Segoe UI", Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">o que eu tenho de errado?</span><br />
<span style="background-color: white; font-family: "Segoe UI", Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">por que eu sou sempre erro?</span><br />
<span style="font-family: Segoe UI, Arial, sans-serif;"><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">mergulhada em mares intranquilos de mim, me pergunto por que sou erro e me afundo cada vez mais.</span></span><br />
<span style="color: white; font-family: "Segoe UI", Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-30070138352830111302019-01-11T18:32:00.002-08:002019-01-11T18:35:36.687-08:00I Keep Dancing On My Own <div style="text-align: center;">
<i>If I Were Young</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>I'd flee this town</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>I'd bury my dreams </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Under the ground</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: left;">
Deixe que as temporadas comecem. Deixe que eu comece, e desabroche como flor. Deixe que o pus seque e cegue. Que eu cegue, e deixe de ver coisas onde não tem. Que eu deixe de ver amor onde não há, que eu deixe me intoxicar por pessoas que não fazem a menor diferença, mas que fazem por que eu deixo fazer.</div>
<div style="text-align: left;">
Eu me permito tanto sentir que me sinto como uma garrafa de champagne muito agitada na noite de ano novo, e não falo da champagne barata que eu quis por que quis estourar e não deu certo, mas da champagne perfeita de filme que não acaba com a rolha nos olhos de alguém. Deus me livre ter olhos. Deus me livre ver a bagunça que me tornei, deus me livre ser quem eu sou.</div>
<div style="text-align: left;">
Por favor, me dê mais uma taça de vinho e pare de encher meu saco.</div>
<div style="text-align: left;">
Por favor, me dê vendas, me vende e me venda. Não creia em mim, não creia no meu vício de ser intensa e metade, por que nunca tem onde colocar o que sobra. Sempre transbordo do copo. Sempre me transbordo e fico sem fazer a menor ideia de onde me colocar. Sou limpa pelas beiradas, com aquele paninho sujo que fica no ombro do barman suspeito. Sou limpa com álcool diluído e impróprio pra consumo. Sou suja, mas teimo em me limpar e deixar ser limpa.</div>
<div style="text-align: left;">
Podada. Me podo, por que não acho que ninguém deva poder comigo. Faço uns jogos de palavras tristes quando estou bêbada tentando fazer algum sentido em um blog meia boca que tenho a quase dez anos de peso e existência esdrúxula. </div>
<div style="text-align: left;">
Eu não faço sentido, eu sinto demais, eu dói.</div>
<div style="text-align: left;">
Não estou nem aí se não conjuguei o verso corretamente. Se José tinha a pretensão de inventar palavras, eu também posso ter. </div>
<div style="text-align: left;">
Pelo amor de tudo que é mais sagrado, me deixe ir para casa. Casa é quando estou sozinha comigo, mas quando estou verdadeiramente feliz, e não quando estou tentando me intoxicar de pretensiosidades esquisitas que só fazem sentido pra mim mesma.</div>
<div style="text-align: left;">
Eu cansei de doer, eu cansei de sentir, eu cansei de estar sozinha com você.</div>
<div style="text-align: left;">
Eu não sei o que você quer, eu sei que eu quero ter alguma sanidade, sanidade o suficiente pra recusar, sóbria, um copo de cerveja cheio.</div>
<div style="text-align: left;">
Não quero mais ver as pessoas como copos meio cheios, eu sei que todas elas estão na verdade totalmente vazias. </div>
<div style="text-align: left;">
Não sou propósito na vida de ninguém. Nem ninguém deveria ser propósito na minha.</div>
<div style="text-align: left;">
À beira de um ataque de nervos, sozinha, fingindo que sou Mrs. Maisel e falando com minha platéia imaginária da vida falsa e patética que levo todos os dias.</div>
<div style="text-align: left;">
Das mentiras que conto pra mim, a mais engraçada é a de que algum dia vou de fato encontrar amor em alguém que me ame e me entenda como eu sou.</div>
<div style="text-align: left;">
Eu não me entendo como sou. Eu sei quem eu sou, mas depois de vinte e três anos de lutas eternas internas eu não aceito, eu aceito, eu durmo, eu dou, eu dói, você dói.</div>
<div style="text-align: left;">
Chega de ter pena de mim mesma escrevendo essa odisséia absurda de dor a todo esse tempo.</div>
<div style="text-align: left;">
Cansei de ser dor.</div>
<div style="text-align: left;">
Não quero ser dor sozinha.</div>
<div style="text-align: left;">
Não quero ser dor com você.</div>
<div style="text-align: left;">
Não quero ser dor.</div>
<div style="text-align: left;">
Por favor, para de doer.</div>
<div style="text-align: left;">
Eu pedi com jeitinho, eu pedi com tanta esperança, com peito estufado, com confiança.</div>
<div style="text-align: left;">
Me permite ser confiança, me permite ser tudo que eu jamais me permiti ser, me permite ser mais eu, menos medo, menos tantas coisas e mais tantas coisas mais.</div>
<div style="text-align: left;">
Você não é nada. Você não tem essa capacidade de me fazer doer tanto, você me fez perceber que ser patética cansa.<br />
Não sou escarradeira, você não pode me cuspir, eu nem tenho saliva. E você também não. Foi demais, overdosou e deixou sua língua dormente.<br />
Minha língua dorme, por que não posso proferir mais nunca mais mas nunca mais mesmo nem em sonhos que gosto de você por que eu estou errada e você também. Timing is a bitch.</div>
<div style="text-align: left;">
Posso cuidar de você, posso cuidar de mim. Tem que parar de doer.</div>
<div style="text-align: left;">
Eu vou estancar a sangria, nem que seja com minhas próprias mãos.</div>
<div style="text-align: left;">
Chega de chagas que não param que não estancam que não incomodam mas que estão ali tempo o suficiente pra não me deixar descansar de você.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-56672600707892044952019-01-11T18:12:00.000-08:002019-01-11T18:12:50.695-08:00Quando Dei Por Mim, Tava Aqui<div style="text-align: center;">
<i>me afobei </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>quando meu beijo </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>retribuiu</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>não faz mal</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>no varal do deserto</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>estendo amor </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>para dar</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: left;">
Eu fiquei meio ariada que a rede balançou. A minha rede sempre balança, e eu sempre balanço junto. Vivo balançada por alguém, eu vivo me entregando e me dando e me dando e sempre me privando de me aproveitar de mim mesma. Pareço fonte inesgotável de dor, e deus dará. Deus dará, mas por que ele não me dá? Por que sempre tenho que pedir a deus pra me dar, quando deus nada me provém? Quando tudo que tenho é dor, acumulada de anos. Anos nos quais me dei, anos nos quais não me respeitei, anos nos quais não fui capaz de me dizer que a minha saúde vale mais do que um beijo.</div>
<div style="text-align: left;">
Quando te conheci, você não tinha cabeça raspada. Você tinha cabelinho curtinho, cortadinho do jeito que sempre me fazia sorrir. Na verdade, te conheci por foto.</div>
<div style="text-align: left;">
Suas fotos me faziam sentir, e quando a possibilidade de algo tangível se aparece diante dos meus olhos eu agarro. Patética. Eu sempre me agarro a possibilidades, sempre me agarro ao menor sinal de possibilidade. Eu gostava do quanto você era misteriosa. </div>
<div style="text-align: left;">
Quando finalmente te conheci pessoalmente, você era uma ideia abstrata. Que nem todas as ideias imbecis que faço das pessoas, mas você estava lá. Abstrata e tangível. Eu quase podia pegá-la, senti-la, enebriar-me na sua presença forte. Mas você se foi. Foi um breve momento no qual pensei poder desfrutar de você pra mim.</div>
<div style="text-align: left;">
Você estava com outra pessoa. Me retraí e resolvi ficar calada, na minha, desfrutando da minha solidão e quebrando a cara mais uma vez.</div>
<div style="text-align: left;">
- Quem é a pessoa que você queria beijar? - </div>
<div style="text-align: left;">
Você perguntou de outra pessoa. E eu queria beijar você também. Eu queria ser absurda, eu queria saber responder com o mistério que achava que seria satisfatório o suficiente pra que você me quisesse. E eu lá sabia que mistério era esse. Eu só sabia que queria que você me quisesse, queria ser dessas mulheres, que se acaso me quiseres, eu só diria sim. Desconversei.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>ninguém pergunta por você</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>mas eu te cito sempre mesmo assim</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>e aquele frango que tive com você?</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: left;">
Aquele dia eu queria ser um cavalo. Meu amor é seu cavalo. De tanto querer, no máximo de enebriez que podia conquistar, te enviei um pedido. Se eu soubesse o que esse pedido significava, talvez desligasse o celular e fosse dançar como se não houvesse amanhã. Mas havia, e como havia. O que não havia era eu, consciente. Só eu, só, dormente. </div>
<div style="text-align: left;">
Minha cabeça doía com o turbilhão de informações indesejáveis que me perpassava. Tudo me perpassava. <i>Por favor, deixe-me conseguir o que eu quero dessa vez. </i>Viajei em mim e viajei no ônibus. Me aventurei em outra cidade, e quando me perguntou se estaria em certo bar, desejei poder me teletransportar. </div>
<div style="text-align: left;">
Quando te vi, minhas palmas eram um clichê. Meu estômago era um clichê, minha garganta era um clichê, eu não podia comigo mesma, eu não podia com nada e virei uma cerveja de muitos mililitros pra conseguir fazer algo sobre isso.</div>
<div style="text-align: left;">
Beijo de um milhão de fogos, e fugi.</div>
<div style="text-align: left;">
Não soube lidar com o cavalo.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Esta mujer me he matado</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Me ha espinado el corazón</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Por más que trate de olvidarle</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Mi alma</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>No da razon</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: left;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: left;">
Por que meu coração sangra todos os dias? Por que eu sinto dor dia sim, e outro dia também? Isso deveria ser simples, mas a dosagem foi grande demais. </div>
<div style="text-align: left;">
Eu me desgasto, eu me exausto, eu me gasto. Não basta, e não tem mais nada que eu possa fazer sobre isso.</div>
<div style="text-align: left;">
Cavaste teu buraco, e quando não achou que bastava, cavou ainda mais, e talvez prossiga cavando. Não sei dizer ao certo.</div>
<div style="text-align: left;">
Suas lágrimas rolam tanto que eu acho impossível que as minhas sequer existam fora de mim. A ideia delas, assim com a ideia que tenho de ti descansam no meu peito cansado. Meu peito sempre cansado e maltratado, que sempre faço questão de maltratar mais.</div>
<div style="text-align: left;">
Quando vou aprender, quando vou esquecer, quando vai parar de doer.</div>
<div style="text-align: left;">
Quando é que você vai parar de meter o dedo na minha ferida pútrida que sou incapaz de limpar. Quando é que eu vou parar de cutucar incessantemente esse bolo que insisto em chamar de amor, que insisto em cuidar e proteger, mas que na verdade é uma grande e gorda larva nojenta que se apodera de mim.</div>
<div style="text-align: left;">
Quando eu vou poder ficar em paz.</div>
<div style="text-align: left;">
Quando você vai me deixar em paz.</div>
<div style="text-align: left;">
Quando eu vou me deixar em paz.</div>
<div style="text-align: left;">
Tá doendo, mas vai passar?</div>
<div style="text-align: left;">
Ou a minha vida é uma grande dor abstrata eterna que vou sempre alimentar com outras larvas gordas ou eu sou a larva gorda da minha própria larva gorda que não se satisfaz em me encher de pus fétido, mas que é o próprio pus fétido.</div>
<div style="text-align: left;">
Será que eu sou só o pus traumatizado das minhas relações passadas, incapaz de encontrar amor, por que se encontrar, minha dor cessa e eu não posso que ela cesse, pois sou só dor.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: left;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: left;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: left;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-15054273889696854762018-01-16T05:01:00.000-08:002018-01-16T05:01:05.215-08:00Carta Aberta Sobre Como Você Quebrou Meu Coração<div style="text-align: center;">
<i>The truth is</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>I am a toy</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>That people enjoy</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>'Till all of the tricks</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Don't work anymore</i></div>
<div style="text-align: left;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: left;">
Eu nunca me permito. Eu nunca me deixo levar. Minhas emoções são sempre muito calculadas, muito limitadas ao espaço amostral de não me deixar machucar. Eu já me machuquei tanto, principalmente no amor. Eu me machuquei tanto, mas tanto, que criei uma espécie de elasticidade que me previne de me afogar em tristeza quando minhas expectativas amorosas não são correspondidas. Uma cama elástica no meu coração, que faz com que eu pule pra fora da tristeza, com que eu consiga rir das minhas constantes desventuras sem perder por completo minha vontade de tentar de novo.</div>
<div style="text-align: left;">
As pessoas que me conhecem a muito tempo, ou muito bem, podem argumentar que eu sempre me deixo levar por um sorriso diferente, por uma possível palavra chave que eu possa interpretar como paquera. É verdade que eu coleciono um infindável número de paixonites e sou dona de um coração deveras mole, mas isso não quer dizer que eu me deixe levar. Não quer dizer que eu me abra sempre completamente para a experiência de me deixar absorver pelos sentimentos que eu fico lutando dentro de mim pra não ter. De fato, por sempre colecionar paixonites, adquiri uma pele grossa e um coração elástico (apesar de burro).</div>
<div style="text-align: left;">
Acho, também, que isso advém da minha convicção extrema de que é muito difícil realmente ser amada. Acabo sempre me contentando com migalhas de amor, ou do que eu penso ser amor. </div>
<div style="text-align: left;">
Estando em um país novo, resolvi tentar me livrar dessa pele grossa, grosseiramente costurada sob minha real pele. Resolvi tentar ser menos cética, e dar uma chance pras pessoas entrarem. De início, essa abertura me permitiu conhecer e me aproximar de pessoas que eu jamais achei ser possível.</div>
<div style="text-align: left;">
Me permitiu uma aventura um tanto desventurada logo na minha primeira semana, a qual me permiti um breve luto de uma semana.</div>
<div style="text-align: left;">
Quase quatro meses depois dessa aventura, em uma plataforma de trem intermunicipal, lá estava você. Confusa, tentando pegar um trem, coincidentemente pra mesma cidade (das inúmeras cidades que você poderia estar indo) que eu. </div>
<div style="text-align: left;">
Te achei bonita, e secretamente esperei que você conseguisse pegar o trem. E você conseguiu. Fomos conversando durante todo o trajeto, e descobri que você era francesa, morava em Berlim, se formou em dança, tinha um sorriso doce, e uma risada mais doce ainda. </div>
<div style="text-align: left;">
Quando nossos caminhos se descruzaram, você me deixou seu email (por não ter nenhum outro meio de comunicação moderno), com a promessa que poderíamos descobrir a cidade queer juntas. </div>
<div style="text-align: left;">
Ao chegar em meu destino, conversei com um amigo sobre, e ele me encorajou a escrever um email. </div>
<div style="text-align: left;">
Escrevi, e esperei nervosamente por quase três dias por uma resposta. Ela veio em um momento inesperado, e me inundou de alegria. Por uma semana, trocamos emails sobre o que acontecia nas nossas vidas (tão distantes, e tão próximas), até que na sexta, você me manda um email perguntando se pode ficar na minha casa em Tel Aviv. Prontamente aceito, e, aos trancos e barrancos, você chega na minha casa, com todos os bônus que uma paixonite poderia chegar: minhas palmas suadas, o estômago revirado e os sorrisos bobos que eu me pegava dando pra mim mesma antes de tentar endurecer o semblante (assim como tentava endurecer o coração).</div>
<div style="text-align: left;">
Quase viramos a madrugada falando de mim, de você, das nossas vidas e das nossas pequenas loucuras absurdas que eu nem tenho coragem de repetir, e que também não tenho certeza de por que dividi com uma quase completa estranha. </div>
<div style="text-align: left;">
No dia seguinte, concordamos com um piquenique, regado a vinho e confissões, que findou em beijos e afagos no entardecer, iluminadas por uma igreja acesa perto das nossas cabeças. Minha roomate cedeu o quarto pra gente, e dormimos juntas. </div>
<div style="text-align: left;">
A semana discorreu, e nos aproximamos, nos acariciamos, aprendemos sobre os medos, paixões, momentos e particularidades uma da outra. Deixei você crescer em mim e fazer tímidas raízes. </div>
<div style="text-align: left;">
No meu aniversário, você saiu pra comprar coisas pra fazer brunch pra mim. Você fez muitas refeições pra mim. Sempre sentávamos juntas, e você sempre me pedia pra guardar o celular enquanto comíamos. Você não usava muito o celular. </div>
<div style="text-align: left;">
Fomos a parques, pizzarias, cafés, bares, portos, e até a um quarto de hostel privativo, no meio da noite, uma escapada maluca, mas que pareceu completamente correta. </div>
<div style="text-align: left;">
No dia que te levei pro meu bar favorito, você conheceu uma menina israelense. E me disse que não tinha nada com o que eu me preocupar, provavelmente por causa do meu visível desconforto. </div>
<div style="text-align: left;">
Eu não me senti preocupada, e depois do hostel, fomos tomar café da manhã pós noite mal dormida, e fomos pra um parque descansar a cabeça antes de eu te deixar em outra estação de trem pra sua próxima aventura. </div>
<div style="text-align: left;">
Os dias que você estava distante passaram, com mensagens diárias de atualização das nossas coisas diárias, e nossas mensagens passaram a ser assinada com "yours, c" e "yours, b", as vezes seguidas ou precedidas de uma manifestação de saudade, tudo isso em uma mistura boba de todas as línguas que falávamos (você, francês, alemão, espanhol e inglês; eu, inglês, português, espanhol e um pouco de hebraico).</div>
<div style="text-align: left;">
No ano novo, você me ligou logo depois da virada pra me dizer que me amava. E eu disse de volta. </div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Aqui eu faço uma parada na nossa história pra dizer que eu comecei a pensar no fim iminente. Você voltaria pra Berlim, eu ficaria aqui em Israel, depois talvez eu voltasse pro Brasil. Comecei a pensar em relacionamento a distância. Eu, que sempre achei relacionamento a distância a maior bobagem. Eu, que sempre achei me entregar desse jeito, a maior bobagem. E fazia tanto tempo que eu não me entregava desse jeito. Fazia tanto tempo que eu não sabia sentir, que eu não sabia como era ser isso. Eu me sentia mais leve, e me senti mais leve ainda quando você disse que me amava.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Dois dias depois do ano novo, você voltou pra Tel Aviv. Quando você chegou aqui, eu senti como se fosse natal. E você também, por que foi a primeira coisa que você me falou. Falou que não sabia o quanto de saudade tinha sentido até me ver. </div>
<div style="text-align: left;">
No dia seguinte, fui trabalhar. Nos encontramos pra almoçar, e pela primeira vez, você estourou minha bolha e começou a falar sobre quando você voltasse pra Berlim, isso ia acabar. Não era melhor acabar antes que alguém acabasse machucado? </div>
<div style="text-align: left;">
Eu já ia estar machucada de qualquer forma, e isso me atingiu no peito mais forte do que eu achei que seria possível. Eu falei que não queria pensar em Berlim, que preferia aproveitar o momento, e que gostava de estar com você. Você reciprocou, e nos beijamos. Concordou comigo que pensaríamos em Berlim quando Berlim chegasse. E que também gostava de estar comigo. </div>
<div style="text-align: left;">
Andamos juntas até minha reunião, você voltou na minha casa e pegou seu cartão. Nos encontramos depois e você estava totalmente distante. </div>
<div style="text-align: left;">
O que houve? </div>
<div style="text-align: left;">
Eu preciso de um tempo. Talvez eu devesse explorar outras coisas além de você nesse país. Talvez eu deva explorar outros lugares, talvez eu deva sair da sua casa, talvez isso tenha que acabar.</div>
<div style="text-align: left;">
Talvez você estivesse correta, mas me limitei a dizer que não queria pressionar, que fizesse o que achasse melhor, mas que estava aproveitando esse tempo juntas.</div>
<div style="text-align: left;">
Você voltou atrás, e me trouxe sorvete. Ficamos juntas durante a noite, e nos agradecemos por existir. Disse que precisava desse tempo pra pensar, mas que agora estava tudo bem. </div>
<div style="text-align: left;">
No dia seguinte, você saiu da minha casa. Foi pra um Air Bnb no norte da cidade, e de despedida me deu um selinho. Na noite anterior, você me avisou que ia sair com a israelense do bar, e eu aceitei mudamente. </div>
<div style="text-align: left;">
Me convidou pra um café caso eu estivesse disponível a tarde. Apesar de estar, declinei. </div>
<div style="text-align: left;">
Se despediu de mim e de todos dizendo que me veria no meu bat mitzvah. De mim, também.</div>
<div style="text-align: left;">
Você, de fato, veio ao meu bat mitzvah. Quatro horas atrasada. Por que estava com outra mulher. E teve a audácia de dizer que foi por isso. </div>
<div style="text-align: left;">
Sabe, eu não entendi minhas emoções quando você me disse isso. Eu fiquei com raiva. Eu preferi que você tivesse mentido. Eu preferi muitas coisas. Eu tive raiva pela sua audácia de tentar estragar o meu dia. Eu tive raiva por que você apareceu ali como se nada tivesse acontecido. Eu gritei de raiva, e pela primeira vez, não deixei você nem outra pessoa passar por cima de mim. E você foi embora, com a promessa de uma conversa na qual eu estivesse menos possessa. </div>
<div style="text-align: left;">
Essa conversa nunca aconteceu. Passei de raivosa pra melancólica. Senti como se você tivesse me dado um soco no peito, e com esse soco tivesse arrancado meu coração. </div>
<div style="text-align: left;">
Essa carta aberta é só um jeito de contar que, sim, eu me senti descartável. Sim, eu me senti como se não importasse pra você, como se fosse substituível, como se fosse algo que você podia usar e abusar, mas que não tive real valor. </div>
<div style="text-align: left;">
Você me tirou do meu centro. Do meu eixo. Me fez sentir, pela primeira vez, em muito tempo, que eu poderia ser amada. Que eu merecia ser amada. </div>
<div style="text-align: left;">
Mas você me tirou isso logo depois. </div>
<div style="text-align: left;">
Eu não me arrependo em nada dessa nossa história digna de filme, mas eu me arrependo de não ter conversado com você depois. Eu me arrependo por ter deixado minha raiva me vencer. </div>
<div style="text-align: left;">
Eu acho que isso tudo foi como deveria ser, e, ao menos, eu não vou ficar lamentando sua partida pra Berlim.</div>
<div style="text-align: left;">
Talvez eu fique algum tempo lambendo as minhas feridas desse romance totalmente absurdo, e talvez eu fique lembrando de você quando passar pelos lugares que passamos juntas. Talvez eu perca uma aula ou duas absorta em pensamentos sobre você, sobre seu cheiro, e sobre seu jeito particular de enxergar o mundo (que por muitas vezes me enfuriava). Eu não estou cega pela raiva.</div>
<div style="text-align: left;">
Eu estou triste. Eu estou triste, não por ter me deixado sentir, mas triste por permitir que você seja um buraco na minha vida. Triste por permitir que eu sinta sua falta. Triste por te perceber e recordar.</div>
<div style="text-align: left;">
Eu não acho que eu deveria te perceber e recordar. </div>
<div style="text-align: left;">
Mas meu achismo não tem vez no meu coração. </div>
<div style="text-align: left;">
Sinto muito pela forma como isso acabou, sinto muito por tudo isso ter sido assim. Sinto muito por sentir muito.</div>
<div style="text-align: left;">
Espero que nas suas próximas aventuras amorosas, você só diga que ama quando realmente amar. Espero que num futuro próximo, eu não esteja sentindo nada com relação a você, que eu não esteja me sentindo ferida, e que eu nem queira mais falar com você ou sobre você.</div>
<div style="text-align: left;">
Espero que num futuro próximo, você seja só passado.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-58598065174575343462017-01-31T07:25:00.002-08:002017-01-31T07:25:22.185-08:00Sertão D'alma (finalmente) Vira MarCaminhando lentamente para a praia com cabeça inquieta. O sol surgia nela, com um calor ameno que esquentava as bochechas. A garganta doía dos vários maços de cigarro fumados durante a noite sem fim, mas ela prosseguia baforando a fumaça fedorenta de um cigarro vagabundo.<br />
Chegaram no mar-encontro-do-rio. Vestida, testou a água rasa. As ondas pareciam um desenho impressionista impresso num folhetim que ela tinha certeza que já tinha visto. Foi entrando mais fundo. Água até o joelho, voltou para areia.<br />
Tirou o short, deixou a canga e o celular juntos e voltou pro mar. O frio da água não mais fazia diferença, o vento meio gelado cheio de areia ressoava no ouvido dela, fazendo com que fosse impossível de se escutar a música da caixinha de som que seus amigos trouxeram. Meio na água, meio no ar, parou. Tirou os óculos escuros e apoiou no topo da cabeça, e com esse gesto, como quem não quer nada, seu corpo se preencheu de sofrimento. Lágrimas grossas rolaram e soluços escaparam de si.<br />
Sem perceber, estava se dissolvendo em mar.<br />
Seu choro era salgado e era onda.<br />
Sua onda era choro e seu choro era onda de mar.<br />
O mar levava tristeza. O mar levava-a, levitava, misturava, sentia mar.<br />
Era, por fim, água completa.<br />
Era água gelada infinda.<br />
Atravessou o mar-rio-mar em direção ao desconhecido. Caminhou-se na areia fofa com suas recém adquiridas pernas-água, pingando pingos-rastros de si.<br />
Encontrou o mar revolto, quente, pulsante.<br />
Desafiou-se a adentrar. Largou as argolas pesadas e o óculos na areia.<br />
Voltou ao mar. O mar era ela e dentro dela. As ondas batiam e levavam o resto dela: transmutou-se totalmente, Se sentia parte de uma ilustração de Brett Helquist num livro de Lemony Snicket, mas sem as desventuras.<br />
Aquele momento não tinha nada de mal, só de mar.<br />
Ondas quentes de mar e sangue pulsavam nas suas veias e entranhas estranhas e bagunçadas. O mar lambia a terra que era ela.<br />
O primeiro banho de mar levou-a. O primeiro e último e ao mesmo tempo primeiro. Conseguia ouvir apenas vento e iemanjá entoando canções desconhecidas chamando para mais um banho.<br />
Nunca mais deixaria de ser mar.<br />
Uma felicidade intensa se misturava com água e com terra e por um instante nada era errado nada era ruim tudo era mar infindo profundo desconhecido.<br />
Estava pronta para deixar a todos e rumar no mar para o fundo de si.<br />
Ao voltar, já não era mais ela mesma. Era mar e o mar era uma confusão deliciosa dela mesma.<br />
<br />
<br />Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-26182840399497710202016-11-25T13:22:00.000-08:002016-11-25T13:22:06.712-08:00filme francês de hollywoodminha vida passou de um marasmo imbecil overachiever de filme hollywoodiano pra um filme francês mal divulgado. enquanto eu ouço piaf e devaneio sobre os poemas, belos, que a menina que sofro de paixonite aguda me enviou, penso no futuro.<br />
penso em uma tarde ensolarada na qual eu estou de folga.<br />
penso em um cigarro aceso e dois corpos nus, deitados na cama, sob a sombra e sob a luz do sol.<br />
uma se aproxima por cima da outra, provocando encontro sutil de corpos. alcança a carteira de cigarro na mesa de cabeceira. pega um e o acende. a fumaça parece poesia.<br />
ambos os corpos permanecem em silêncio. a boca apenas abre para a introdução do cigarro e para expelir a fumaça provocada por ele.<br />
uma onda de nostalgia invade uma das duas. dá um riso de canto de boca.<br />
o que foi?<br />
nada.<br />
acendem um beck pré bolado.<br />
sabe o que eu gosto de fazer quando estou chapada?<br />
recitar poesia.<br />
ambas riem.<br />
e recitou poesia. ocasionalmente, me olhando no olhos, só desviando para furtivamente olhar para a parede branca.<br />
eu fumava e encarava, encantada. não conseguia desviar olhar. não conseguia pensar em nada além da cena que estava se desenrolando.<br />
a fumaça espessa do cigarro se dissolvia e mesclava com a fumaça da maconha.<br />
o quarto se tornara uma sauna. o ventilador fazia com que a fumaça rodasse no quarto fechado.<br />
em breve, tenho que me arrumar para o trabalho.<br />
mas o breve é só amanhã.<br />
o hoje é uma cena absurda, esfumaçada e que parece sonho.<br />
sonho dentro de sonho, e ainda nem sei se acordei.<br />
sonho de poema, de recife, de paixão.<br />
ela prossegue recitando o poema, cada vez mais baixo e mais perto da minha orelha.<br />
levanto, nua e sigo até a cozinha a procura de água.<br />
quando trago a água para o quarto, abro a porta, deparo-me com o corpo nu e sincero da mulher que deixei a minutos atrás.<br />
não pode ser melhor que isso.<br />
e foda-se o trabalho proleta que eu vivo todos os dias. foda-se a rotina esmagadora.<br />
não fica melhor que isso.Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-2651376180399520942016-07-26T11:45:00.000-07:002016-07-26T11:45:14.739-07:00ChuvaA imagem clichê da boemia juvenil de uma semi mulher sentada na frente do laptop, com um cigarro na mão, uma blusa larga digitando asneiras num microblog online. Queria ser josé saramago. Compartia com ele o coração de carne que sangrava todo dia, o vício no cigarro e o desgosto por parágrafos e letras maiúsculas.<br />
Que difícil que é digitar segurando um cigarro. Apagou o que segurava pra melhor vomitar palavras sem nexo e sem conexão, de maneira furiosa, no teclado à sua frente.<br />
Sem nexo, furiosa e sem conexão, na verdade, eram palavras chave do poço de sentimentos adversos e cruéis que assolavam sua alma, meio mazelada, pendendo pra a reclusão. Sempre disse a si mesma que seu sofrimento era belo quando colocado em palavras, e esse texto era uma desesperada tentativa de ver beleza na dor. Não aguentava mais encher o feed de textos sobre si, por que tinha a leve (e correta) impressão que todos cansaram de lhe dar ibope por coisas vazias, mas cheias de coisas que ela tirava do profundo do âmago.<br />
O que enche a vida de significância pra você?<br />
O que te mantém funcionando, são e acordado? (seja lá o que todas essas palavras queiram dizer)<br />
Acendeu outro cigarro, apesar da dificuldade que isso imprimia no ato de datilografar. Era um pequeno ato de morte pelo cotidiano, de morte pela boca e pela rotina.<br />
Fumava tão rápido que a fumaça preenchia seu cérebro de tontura, aumentada pela falta de comida no corpo desde ontem.<br />
'um fracasso de ser humano', pensava de si.<br />
Cantarolou a música que falava dela, tão dela e tanto da dor que a preenchia do começo ao fim.<br />
Dor que não sabia espremer em palavras, comprimir em si, que queria gritar, mas não sabia gritar.<br />
Era quase incapaz de se manter fiel às suas decisões. Desde que decidiu parar de fumar, apertou um botão de auto destruição dentro de si.<br />
As palavras voavam de dentro dela com uma velocidade incontrolável, tão incontrolável que se perguntava se faziam algum sentido pra alguém além dela.<br />
Não estava escorrendo de si. Não suava, não chorava, não vomitava nada além dela mesma, de sentimentos abjetos e sem sentido, tal qual sua existência pequena num mundo vasto.<br />
Caiu cinza de cigarro no computador.<br />
Sentia que as coisas todas da vida estavam escoando de maneira bizarra pelos seus dedos e fugindo do seu controle a cada segundo que passava.<br />
Tinha pouca pretensão de ser poeta, derrubou esse sonho em algum bueiro enquanto se preparava pra enfrentar o desconhecido da vida adulta, como derrubou tantos outros.<br />
Desistência e fraqueza corriam por suas veias. Não queria terminar o curso superior. Não queria mais ser palhaça, ser drag, ser gente, ser algo, queria sentar numa pedra na esquina do mundo, fumar um maço de cigarros inteiro, cair e nunca mais voltar.<br />
Existir pesa.<br />
Seu peso não era especial. Sua dor não era especial pra o cosmos, pras energias superiores, só se mesclava ao infinito como todas as outras dores.<br />
Preferia quando era dormente ao sentir, apesar de saber do quão edificante e magnânimo isso era.<br />
Tudo se misturava, saía em lufadas de fumaça quente do cigarro, e voltava pra dentro dela em formato de doença.<br />
Por que amar a ela mesma era tão difícil? Por que amá-la era tão complexo e cheio de poréns?<br />
Encarava seu eu vestido, de carne, de verdade no espelho. Como amar uma criatura tão bizarra? Tão pretensiosa, sem sobrancelhas, e terrivelmente humana.<br />
Queria ser sobre-humana. Ser de outra forma, ser outra, em outro plano, em outra vida, em outro cosmos.<br />
Como nada conseguia terminar, não terminava a vida.<br />
Começou a se conhecer, mas foi tão fundo em si, que se perdeu.Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-48203103116539236992016-07-04T14:40:00.001-07:002016-07-04T14:53:12.319-07:00De Se Sentir Só, Pequena E Cansada<i>You don't have to act like you're alone</i><br />
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Solidão era um peso. Sentir é um peso. </div>
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E se sentia só, dois pesos enormes que só faziam crescer e encurvar-lhe a coluna, cada dia mais. Sentia tédio o ojeriza de rotina, mas dormia mal a noite, pensava no fracasso e almoçava correndo pra ir ao trabalho.</div>
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Levantava, religiosamente, todos os dias. Comia a mesma comida por preguiça de fazer algo novo. Saía quase rastejando pra faculdade. Voltava e se enfiava num banho gelado. Do banho gelado, arrastava o corpo ainda úmido pra cima do lençol da cama. Assistia alguma porcaria no netflix até adormecer. Nos tempos livres, reclamava e existia.</div>
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Como se levanta a modorra da vida cotidiana? Como se sai do estupor da existência? Como se vive experiências novas quando se está sempre presa na mesma vida, que corre e perpassa os dedos semiabertos, escorre de si e desce pelo ralo? </div>
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Aí no final de semana, bebia umas doses de qualquer coisa pra apaziguar a alma confusa, cheirava uns tecos de felicidade instantânea, e ia dormir tranquila depois que chegava, suada, cansada, com a cabeça vazia, na sua cama. </div>
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Nesse turbilhão de coisas, tudo ia acontecendo, fugindo do alcance, correndo com o tempo, matando, aos poucos, tudo que havia de inovador, original e interessante no ato de viver.<br />
O ato de viver, essa coisa incessante, cansativa, e sem propósito fazia seu coração ficar pequeno. Pequeno por que nem ela cabia nele, e passava tanto tempo pensando em como passar pela vida sem ser fracasso e derrota, apesar de ter a sensação de que isso estava estampado num outdoor iluminado na sua testa.<br />
Estava naqueles dias que não se sentia especial e nos quais se perguntava o que havia de errado com os receptores de serotonina do seu cérebro.<br />
Esses dias eram mais frequentes do que ela gostaria. Esses dias conseguiam fazer com que ela se sentisse pequena, quase um grãozinho de areia. E nesses dias ela não queria ver nada nem ninguém que a tirasse desse humor sombrio. Gostava de se fazer perguntas impossíveis de se responder e de se afundar no fracasso de ser humano que ela se sentia. Pensava que se estivesse ébria, as coisas poderiam ser melhores, mas se mantinha sóbria, sentindo cada farpinha da sua rejeição por si mesma perfurar a pele, a derme dormente que cobria seu corpo com existência sofrida. Uma dor tão sem motivo, mas tão intensa, tão real. Mergulhava na dor, e algum dia voltava, mas não era mais ela. O medo de não ser ela mesma, de viver meia vida, de ser esquecida, de não ser amada, de ser só.</div>
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De repente, era ela sozinha rolando as pessoas pra esquerda no tinder, sentada, sozinha, com 35 anos e esperando as coisas acontecerem.</div>
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Só, sozinha, pequena, e tão cansada...</div>
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Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-75852049480830632732015-12-23T08:25:00.000-08:002015-12-23T08:25:36.846-08:00It All Feels RightCores. Cores piscavam, incessantemente, nos seus olhos fechados. Abriu-os, com a certeza de que isso faria com que as cores a deixassem em paz. Só se intensificaram. Sabia que não podia fugir daquela explosão de cor, amor e sentimento. Sentir era tão precário, tão primitivo, tão doloroso, não queria sentir, não queria abrir, queria trancar-se em si, encarcerar a possibilidade de um dia chegar a cogitar essa cilada que era o sentir. <br />
Batiam na porta, com força. Quase arrombando a barreira precária que ela construíra entre seu coração brutalizado e a vida lá fora. <br />
Mas a vida chama. E como chama! Grita no ouvido, a plenos pulmões.<br />
Levanta dessa cama!<br />
Veste uma roupa!<br />
Saia de casa!<br />
Muda tua vida, e depressa, depressa, que nada espera pra você ser feliz, e só quem constrói isso é você.<br />
Eu sou feliz?<br />
Eu sou feliz. <br />
Eu sou feliz!<br />
Repetiu a frase, com a palavra escorrendo da boca, timidamente, até que pudesse voar, encantada com sua própria existência, com seu próprio e inesperado esplendor, com o impulso da veracidade do ser. <br />
Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5255022251670160656.post-33294522682796365822015-11-08T13:59:00.001-08:002015-11-08T13:59:58.076-08:00DesanuviarPeso no peito de fim. Peso no peito de medo. Porém feliz. Feliz. Incrivelmente, pela primeira vez no que parecia uma eternidade, tudo parecida no lugar, correto, fazendo sentido de um jeito simples e bizarramente real. Levemente sedada das coisas da vida, num universo paralelo particular-compartilhado no qual o esplendor do viver existia. Existia vida no viver. Realidade no real, nesse mundo dos bonecos de carne ambulantes. Por que findos os momentos? Por que finita a vida? <br />
Se no peso dos ombros levava os anos, quem partilhava o peso? Caminhando na estrada com ela, aplacando a dor dos ombros cansados e da cabeça, pesada como seu coração.<br />
Quando finita, me sinto infinita, desanuviada. <br />
Sensação incrível de se ouvir saindo da boca do outro. Sensação de delícia inesperada, de espanto positvo. Um semi desconhecido sendo um pouco de você. Sentindo união, coisas inexplicáveis que não se coloca em palavras. Medo de não reciprocidades, porém tudo estava tão incrível que apaziguava sua alma, tranquilizava o coração. E seguia em frente, enfrente. Só, porém acompanhada.<br />
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De estrelas, de galáxias, de coisas infinitas como ela, e de bonecos de carne, seguindo no dito certo-errado. Sós. Não sozinhos. Na finitude do ser, do crer, do existir.Bianca Wainberghttp://www.blogger.com/profile/10304155478607864719noreply@blogger.com0